Bubble Gum – Lolita Pille Página 1 - CloudMe
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possibilidade de interferência nas ondas sonoras.<br />
Às dez horas e catorze, ele tocou. Era a mãe de Sissi. Bastou ela ter declarado seu título: "Sissi,<br />
é mamãe, você vai vir passar o Natal conosco?...", que Sissi, sufocando um grito de ódio,<br />
cortou sem mais nem menos a ligação.<br />
Às dez horas e cinquenta e três minutos, Alistair, da Really VIP, finalmente nos alcançou e, com<br />
sotaque escocês, nos notificou que a festa após a avant-première de Super-stars aconteceria<br />
no Pavillon des Champs-Elysées e iria começar às onze horas em ponto. Ton, ton, ton... Alistair<br />
já havia desligado.<br />
Caímos nos braços uma da outra, um abraço do qual nos livramos rapidamente para ir passar<br />
uma sétima mão de pintura na cara.<br />
Sissi utilizava produtos surrealistas, do cuja existência eu nunca teria suspeitado, como esse<br />
óleo com pedacinhos de ouro, com o qual lambuzava o decote, os braços e as pernas, e que a<br />
deixava brilhando como um gladiador na arena, ou aquele instrumento de tortura que servia<br />
para revirar os cílios, com o qual por três vezes belisquei minha pálpebra.<br />
Uma última pincelada e nós duas parecíamos dois transexuais, disse isso para ela, mas minhas<br />
dúvidas foram dissipadas quando ela me disse que Brittany Murphy estaria sem dúvida muito<br />
mais maquiada do que a gente, e que "de qualquer jeito não se vê nada ao escuro".<br />
Nós estávamos prontas. Ela pendurou brilhantes nas orelhas, em volta do pescoço, nos dedos,<br />
nos punhos, e em volta do tornozelo direito, por cima da bota. Eu... eu não tinha jóia<br />
nenhuma, exceto minha pulseirinha de ouro com meu prenome gravado, presente de meu pai.<br />
Ela sugeriu que eu a tirasse, achava que era cafona, mas no fundo estava pouco se lixando.<br />
Não dei importância, peguei as minhas chaves do carro e fomos embora.<br />
Enquanto ia dirigindo, um silêncio religioso nos envolvia. Não pensamos sequer em ligar o<br />
rádio. Sissi, nervosa, abria a bolsa dela, passava em revista seu conteúdo, e a fechava em<br />
seguida com um estalo, para abri-la de novo, abaixar o espelho do carro, tirar o pincel e a caixa<br />
de pó-de-arroz, retocava, arrumava tudo de volta, fechava de novo a bolsa, a reabria, fazia o<br />
inventário mais uma vez do conteúdo, tirava o batom e o brilho, besuntava a boca, e assim por<br />
diante.<br />
Eu não havia ligado de volta para Georges. Ele tinha sido claro o bastante e eu não tinha a<br />
menor vontade de passar por aquilo. Sissi nunca quis me inserir nos seus castings, eu não sabia<br />
muito bem como me virar e estava aos poucos perdendo as esperanças. Simplesmente,<br />
esperava. Esperava, aguardava. Dirigi sem farol até o Champs-Elysées. Sissi havia me<br />
emprestado para a ocasião um vestido de seda vermelho, decotado até a barriga na frente, e<br />
que descia apenas um pouco mais que minhas coxas, combinando com botas de cano longo e<br />
salto estilete, com as quais não conseguia pisar nos pedais. Era a primeira vez que eu vestia<br />
algo de seda, e era agradável. Era também a primeira vez que eu saía em Paris. Sissi nunca me<br />
levou a lugar nenhum, nem às boates onde ela conhecia todo mundo e onde cruzava<br />
regularmente com os clientes do Trying, e muito menos aos seus encontros. Eu estava<br />
achando que nossa amizade havia progredido, sendo esta a razão do seu convite para<br />
acompanhá-la, mas na verdade estava lá apenas para servir de base de apoio, alguém com<br />
quem falar no caso de ela ser deixada de lado. Há pouco, quando me viu arrumada, Sissi<br />
simplesmente se recusou a me emprestar a bolsa e o casaco que completavam minha roupa e,<br />
do assento do carona, ela tinha uma maneira aflita de olhar fixamente para o meu perfil Foi<br />
com grosseria que ela me mandou estacionar o mais longe possível do Pavillon des Champs-<br />
Elysées, porque não queria ser vista saindo do meu carro. O dela havia batido as botas naquela<br />
exata manhã e, exausta pelos esforços para a noite, ela não se sentia em condições físicas de<br />
pagar o mecânico com seus favores. Pegamos o meu e, segundo Sissi, era quase um favor que<br />
ela fazia de se sentar nos meus bancos gastos. De forma que estacionei o mais longe possível,<br />
numa ruela perpendicular à avenida Franklin-Roosevelt. Deixei meu casaco no carro porque<br />
tinha vergonha, enfiei minhas chaves e meu maço de cigarros dentro da botas, e nos pusemos<br />
a caminho.<br />
<strong>Bubble</strong> <strong>Gum</strong> <strong>–</strong> <strong>Lolita</strong> <strong>Pille</strong> <strong>Página</strong> 25