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Bubble Gum – Lolita Pille Página 1 - CloudMe

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aprendiam rápido, e fornicavam admiravelmente nos dormitórios, todos eram entusiastas,<br />

assíduos, felizes de estarem lá, todos estavam convencidos de que também estavam sendo<br />

filmados e era tudo o que queriam. Sem problemas. Eles eram muito bem recompensados e<br />

haviam assinado contratos confidenciais pétreos. Durante três meses, receberam todos uma<br />

formação acabada de decadência, safadezas de todo tipo, perfeitos animaizinhos adestrados:<br />

eu podia então começar o grande jogo.<br />

Sequência 4, Nova York, última primavera. Interna, dia — suíte presidencial do Pierre (minha<br />

suíte): Manon realiza a sua primeira sessão de fotos artificial. Atrás da câmera, uma vaga<br />

imitação de Inez Van Lamsweerd, recentemente saída da minha Escola, assistida por um dos<br />

meus piores recrutas, inutilizável em outro contexto, um sósia presunçoso de Guillaume Canet.<br />

Cobrindo o assoalho, a totalidade da nova coleção outono-inverno de Dolce&Gabbana. Três<br />

ventiladores gigantes funcionam na velocidade máxima, ameaçando colocar o prédio abaixo. A<br />

falsa Inez perde um pouco as estribeiras. Manon faz pose e acha que vai morrer. O que é<br />

engraçado. Eu dou uma saída para comer um escalope à milanesa no Nello.<br />

A única foto passável obtida durante essa zona de shooting serviu para que eu produzisse uma<br />

falsa Vogue italiana. Eu comprara uma gráfica fechada na beira de uma auto-estrada no Sul,<br />

onde enfiei um falsário aposentado, uma antiga, digamos, relação profissional de Mirko, de<br />

qualquer jeito, um cara genial, cínico e inspirado que paria formidáveis capas de revistas falsas.<br />

Durante quase um ano, eu repeti a operação uma vez por semana, sem que Manon<br />

suspeitasse do que quer que seja. Ela nem sequer observava que, em seus momentos<br />

desagradáveis, quando usava a desculpa de enxaquecas para se esquivar de consumar nossa<br />

união, sua agente (uma excelente aluna da Escola) a evitava e quase não atendia seus<br />

telefonemas e, quando respondia, a mandava perder mais cinco quilos, dizendo que, caso<br />

contrário, iria cancelar o contrato, por outro lado, quando ela era doce comigo, aceitando<br />

afetuosamente o emprego na cama de diversos brinquedos eróticos (consolos, chicotes e<br />

algemas), além da presença de estranhos, ou melhor, estranhas, a sua agente saía no dia<br />

seguinte em perseguição, lhe propondo histericamente diversas campanhas, Ginger Coke ou<br />

até Vuitton, fotografadas por Avedon, na companhia prestigiosa de Werner Schreyer, um dos<br />

meus sósias mais bem-acabados.<br />

O falso Avedon fotografava, o falso Werner posava, a equipe de maquiadores soltava<br />

risadinhas gentis, enquanto Manon bancava a lambisgóia se queixando do excesso de<br />

demanda. Eu mandava as provas para o laboratório, que as mandava para o retoque, e tudo<br />

isso acabava na gráfica do falsário, que me enviava logo em seguida pilhas de falsas Elle, falsas<br />

Vogue, falsas GQ, cheias de falsas campanhas de publicidade hiper-realistas, nas quais, tenho<br />

de reconhecer, Manon não estava nada má. Campanhas de publicidade que ele forjava<br />

também em forma de cartazes piratas, e um pessoal, contratado por mim, era incumbido de<br />

afixar o rosto de Manon em nossos possíveis trajetos, em todas as cidades onde ficávamos,<br />

para arrancar tudo em seguida, enquanto outra equipe fazia o mesmo serviço a cem metros<br />

dali, e assim por diante, e assim por diante, e Manon avançava no cenário, sem suspeitar que o<br />

cenário avançava com ela.<br />

O tempo passava e Manon ia pirando cada dia mais. Ela vivia numa não-realidade que só<br />

existia para os seus olhos, junto com seus olhos e através dos seus olhos, sequestrada num<br />

castelo de papier mâché que ela acreditava ser de ouro e mármore. Ela era fotografada, as<br />

fotos saíam mês seguinte nas revistas, quando andava na rua, as paredes estavam cobertas<br />

com seu rosto, ela frequentava bares e boates alugadas por mim para a noitada, ia a avantpremières<br />

de filmes lançados há meses, lançamentos de revistas barrocas cuja tiragem era de<br />

dois exemplares, um para ela, um para mim, aniversários de estrelas mundiais que eram reles<br />

imitações, ela recusava entrevistas para o Canal 5, Nulle Part Ailleurs e Khalifa TV, ela jantava<br />

com modelos fracassadas disfarçadas de top models que a cobriam de lisonjas porque<br />

obedeciam as minhas ordens, paquerava Robbie Williams que não era Robbie Williams,<br />

mandava demitir Laetitia Casta, que estava aparecendo demais, segundo ela, mas esta<br />

também não era Laetitia Casta, é quase um exagero dizer que os sushis nos pratos eram reais,<br />

<strong>Bubble</strong> <strong>Gum</strong> <strong>–</strong> <strong>Lolita</strong> <strong>Pille</strong> <strong>Página</strong> 86

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