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Bubble Gum – Lolita Pille Página 1 - CloudMe

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e entramoss no restaurante junto com os primeiros acordes da música do Mépris. Felicíssimo<br />

em me ver, o garçom maluco comete uma gafe antes mesmo de a gente sentar, ao virar-se<br />

para Manon:<br />

— Olá, Julie, como estou contente de ver você, achei que você havia morrido, mas só está um<br />

pouco sorumbática.<br />

— Eu poderia ter um pouco mais de borrifador de água, por favor, cocota, estou sufocando —<br />

digo para o empregado doidão com um evidente objetivo diversionista para que Manon não<br />

lhe quebre a cara com golpes de uma garrafa de Beautieu —, ah, arrume melhor esta mesa,<br />

prefiro ter a vista para o mar do que para o George Clooney.<br />

— Eu prefiro a vista para o George Clooney.<br />

— Você não entende patavina das maravilhas da natureza, é só uma tiete desfrutável e, de<br />

qualquer forma, sou eu quem está pagando e sou eu quem decide.<br />

— George Clooney é uma maravilha da natureza.<br />

— Deixe o George em paz, cocota, Saint-Tropez inteira já está atrás dele. Olá, George — digo<br />

eu para George, que se aproximou para me cumprimentar calorosamente, aperto a mão dele<br />

—, bravo pelo filme — acrescento.<br />

— Bonita camisa — responde ele antes de ir embora paquerar a dançarina que custa mil euros<br />

por noite.<br />

— O que foi que ele lhe disse, o que foi, o que foi?<br />

— Ele disse que estava transando com a rainha da Inglaterra.<br />

— Vocês escolheram? — pergunta o garçom doidão cada vez mais louco.<br />

— Sim — digo eu, com uma ponta de irritação —, uma mesa com vista para o mar.<br />

— Coração de alface sem molho.<br />

— Cristal rosé, e não aquele para embebedar turista.<br />

— O telefone de George Clooney.<br />

— Eu tenho o número, idiota, mas não vou lhe dar. O que quer beber?<br />

— Ice tea.<br />

— Não tem — responde o empregado, seriamente doidão.<br />

— Escute aqui — digo eu —, não é porque eu trato mal esta safada que divide a vida dela<br />

comigo, que isto lhe dá o direito de fazer o mesmo.<br />

— E ainda por cima eu sou uma estrela, merda — acrescenta Manon.<br />

— Está em falta, está em falta, o que você quer que eu faça?<br />

— Que você diga: está em falta, madame.<br />

— Está em falta, madame.<br />

— A senhora vai beber então champanhe Cristal e comer espaguete com lagosta comigo, caso<br />

contrário volta nadando. Capiche, cocota?<br />

— Capiche, seu babaca, mas eu vou provocar o vômito e você odeia isso — responde Manon.<br />

— O que você faz com a sua saúde não me interessa, mas, quando eu como, todo mundo<br />

come, e basta.<br />

O empregado doidão se afasta e durante quarenta segundos, nós ficamos absolutamente sem<br />

dizer uma palavra.<br />

— Qual é essa música idiota? — pergunta Manon.<br />

— É Le Mépris.<br />

— O que é Le Mépris?<br />

— Jean-Luc Godard, quer dizer alguma coisa para você?<br />

— O que é Le Mépris?<br />

Eu desisto.<br />

— É o sentimento que sinto por você neste momento, desprezo.<br />

Faz-se um silêncio mortal e observo a precisão do barulho das ondas, tamanha precisão que<br />

começo a suspeitar de a gerência estar transmitindo uma gravação, o que não seria<br />

surpreendente neste mundo onde nada é realmente real.<br />

— Derek?<br />

<strong>Bubble</strong> <strong>Gum</strong> <strong>–</strong> <strong>Lolita</strong> <strong>Pille</strong> <strong>Página</strong> 59

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