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Bubble Gum – Lolita Pille Página 1 - CloudMe

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capotar, meu primeiro porre, o salão que rodava, eu me perdera de Sissi na multidão e, melhor<br />

assim, Derek me trouxe para este quarto, nosso quarto, de onde nunca mais fui embora, de<br />

onde hoje vou embora. No mesmo vestido. Com minhas botas esfoladas. E tudo o que tenho<br />

dentro delas. Chaves cujo endereço desconheço e um maço de notas arroxeadas com o<br />

número de série em sequência. Ao sair do elevador, procuro por um rosto familiar: na<br />

recepção, todos desconhecidos com um ar de hostilidade.<br />

Dirijo-me a eles.<br />

— Bom dia, Lucien, por favor?<br />

Atrás de mim, Ernest me cobre com um olhar de comiseração.<br />

— Qual é o número do quarto dele? — me pergunta o sujeito, quase insolente.<br />

— É o concierge — digo, cerrando os punhos.<br />

— Eu sou o concierge, madame.<br />

— Pare com essa tolice digo eu —, já faz um ano e meio que moro aqui e o senhor não é o<br />

concierge deste hotel. Onde está Lucien?<br />

— Aqui não tem nenhum Lucien, madame, e eu pediria à senhora que mantivesse a calma.<br />

— Bom — recomeço —, eu gostaria de ver o diretor.<br />

— O diretor está ocupado, madame, o que a senhora deseja?<br />

— O que eu desejo, o que eu desejo...<br />

Eu estou desabando, sinto minhas unhas penetrando nas palmas das mãos, estou com a<br />

mandíbula dolorida de tanto cerrar os dentes, vontade de chorar, fico pensando: perseguição,<br />

sanha, conspiração, eu vou estrangular este filho da puta, estou à beira de uma crise de<br />

nervos.<br />

— Acho que a senhora conseguiu o que queria, não é verdade, madame? — faz sinal para mim<br />

o filho da puta apontando para o maço de notas que faz um momento estou amarrotando, na<br />

verdade, desde que saí do elevador, c percebo de repente essa gente toda à minha volta, me<br />

olhando de cima, e com desprezo, e com nojo, sem aquele pequeno clarão, aquele pequeno<br />

clarão de curiosidade e fascínio que aprendi a discernir nos olhos de todos aqueles que me<br />

reconheciam. Mas, naquela hora, ninguém no saguão do Ritz me reconhecia e, no espelho em<br />

frente, a garota de vestido vermelho com aquela grana amarrotada na mão aparecendo entre<br />

os dedos parece a maior puta que eu já vi.<br />

— Ernest vai acompanhá-la.<br />

— Não — berro —, agora chega, estou de saco cheio, vamos acabar agora com esta<br />

brincadeira, quero a verdade, por favor, seu filho da puta, diga a verdade para mim, onde está<br />

Derek, eu quero o Derek!<br />

"Derek", eu urro para quem quiser ouvir, "Derek! Onde está você? Apareça, seu monstro, faça<br />

esse pesadelo acabar! Derek!"<br />

Eu ando sem rumo no saguão do Ritz, chamando: "Derek, Derek!" e minha voz ecoa cavernosa,<br />

destoante neste hall acolchoado, cortês, onde deve fazer uma eternidade desde que alguém<br />

levantou a voz, vou abrindo todas as portas, paro os passantes para encará-los, estou quase<br />

correndo, na verdade, estou correndo no mesmo lugar, uma vez que não sei para onde ir, e<br />

tropeço no tapete e me agarro numa coluna, minhas cédulas caem no chão e se espalham, e<br />

eu estou pouco ligando, quero Derek, Derek conhece a verdade. Sei que ele está de tocaia era<br />

algum lugar, talvez neste bar, talvez no Hemingway, ou no longo corredor, no terraço, num<br />

quartinho para despistar, do lado de fora atrás de uma coluna, disfarçado de manobrista, e,<br />

quando encontrá-lo, ele vai começar a caçoar, como faz sempre que eu o pego aprontando,<br />

dizendo: "Então, cocota, até que não foi tão ruim assim a minha pequena surpresa?", e eu não<br />

sei se iria rir de alívio ou se o mataria. Me seguram na entrada do restaurante. O cara escroto<br />

da recepção agarra meu braço. — Se não calar a boca agora, eu chamo a polícia!<br />

Ele põe a mão na minha boca, e eu tento me debater, e esse veadinho chama os caras da<br />

segurança, gente que eu nunca vi, e, enquanto caio de boca no chão, vejo o sangue escorrer<br />

do meu nariz, mas não sinto nenhuma dor, e observo apenas como o pé-direito é alto.<br />

— O que é que está acontecendo aqui? — diz uma voz atrás de mim, e eu tento me virar, mas<br />

<strong>Bubble</strong> <strong>Gum</strong> <strong>–</strong> <strong>Lolita</strong> <strong>Pille</strong> <strong>Página</strong> 74

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