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Bubble Gum – Lolita Pille Página 1 - CloudMe

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janela, vou poder fumar alguns cigarros e escutar um pouco de música: uma antiga melodia de<br />

Legrand de que minha mãe gostava muito. Vou poder respirar. Somente durante a noite<br />

consigo respirar, sentada na minha janela, fumando meus cigarros e escutando Les moulins de<br />

mon coeur. Fecho meus olhos e deixo-me levar. Eu sobrevôo Terminus como num sonho até<br />

uma outra vida...<br />

Faz duas semanas, meu pai e eu fomos visitar meu tio que trabalha num hotel quatro estrelas<br />

a uma hora de estrada daqui. É um castelo muito bonito com um grande jardim. Meu tio é o<br />

jardineiro. Enquanto meu pai e meu tio tomavam o aperitivo, eu fui dar uma volta. Tinha uma<br />

piscina, mas eu não levara o maiô. Em volta da piscina, havia pessoas enfadadas nas<br />

espreguiçadeiras. Eu disse para mim mesma que não iria incomodar ninguém se fosse me<br />

sentar ali.<br />

Pedi uma Coca, tinha um pouco de dinheiro na minha bolsa. Bebi minha Coca olhando a água<br />

da piscina escurecer à medida que o sol recuava na direção dos morros. Então um cara me<br />

perguntou se uma cadeira estava desocupada. Eu disse que sim, imaginando que fosse pegá-la<br />

e levá-la consigo, mas ele sentou diante de mim. O sujeito usava uma camisa pólo branca, um<br />

calção de banho azul-marinho e um enorme relógio de prata. Eu daria cinqüenta anos para ele,<br />

mas estava tão bronzeado que não tinha certeza. O nome dele era Georges e ele estava<br />

passando uma semana com a filha ali. A filha acabara de tentar suicídio, de forma que a levou<br />

para que relaxasse um pouco ali. Ele morria de tédio, mas o spa era muito bom. O que é que<br />

eu achava do spa? Eu não fazia a menor idéia do que era isso. O sujeito fez uma cara de<br />

surpresa. Ele me perguntou se eu estava no hotel. Disse que não, que tinha ido visitar meu tio<br />

que era jardineiro ali.<br />

Ele ficou com ar espantado e eu me senti magoada, mas ele explicou que não via uma garota<br />

beber uma Coca que não fosse light desde os anos 80. Depois perguntou quanto eu tinha de<br />

altura. Eu disse que media um metro e setenta e dois. "Quer dizer um metro e setenta", disse,<br />

zombando, e eu não gostei da sua zombaria. "E quanto é que você pesa?" Eu disse: "Quarenta<br />

e oito quilos". Ele me perguntou se eu já havia sido fotografada e meu coração começou a<br />

bater. Disse que não, mas que gostaria muito, que na verdade esse era o meu sonho. "É claro,<br />

é claro, e você tem que idade?" Disse que tinha vinte anos, e ele achou isso muita idade. Eu<br />

não disse que era o roto rindo do esfarrapado: eu sorri e o sujeito me perguntou se eu estava<br />

pensando em ir a Paris um desses dias. Se eu fosse a Paris, ele faria com que eu fizesse testes,<br />

testes de fotos. Se os testes fossem bons, eu poderia fazer parte de sua agência de modelos: a<br />

agência Vanity. Era um pouco tarde para começar, mas valia a pena. Valia realmente a pena.<br />

Eu disse que estava pensando em ir a Paris um dia desses. Ele me deu seu cartão de visitas.<br />

Levantou-se e foi ao encontro de uma loura que chorava numa espreguiçadeira,<br />

provavelmente a filha dele. Quando pedi a conta, me disseram que já havia sido paga. Fui<br />

procurar meu pai para ir embora.<br />

...O tilintar da prataria balançando na bandeja do café-da-manhã seria o bastante para me<br />

acordar. 0 despertar seria fácil, abriria os olhos sem esforço, estaria descansada. Vestiria um<br />

roupão e me sentaria à mesa giratória. Beberia primeiro meu suco de laranja, servindo-me<br />

depois de uma xícara de chá. Pegaria um croissant antes de assinar a nota, enquanto o rapaz<br />

do serviço de quarto abriria as cortinas. 0 sol invadiria o quarto, com o clamor de Paris. O<br />

garçom iria embora, eu abriria os jornais, passaria os olhos um pouco rapidamente. Seria uma<br />

segunda-feira, e a revista Elle estaria enfiada debaixo dos jornais. Descobriria com<br />

naturalidade meu rosto na capa. E, logo abaixo do meu nome profissional, em grandes tipos<br />

em caixa-alta, seria possível ler: "NASCE UMA ESTRELA".<br />

Eu estaria sorrindo e, antes de ligar para o jornalista e agradecer, afastaria a bandeja e<br />

pegaria um cigarro. Eu o acenderia e jamais teria sentido um prazer semelhante ao acender<br />

um cigarro.<br />

2 Solidão<br />

<strong>Bubble</strong> <strong>Gum</strong> <strong>–</strong> <strong>Lolita</strong> <strong>Pille</strong> <strong>Página</strong> 7

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