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Bubble Gum – Lolita Pille Página 1 - CloudMe

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setas apontavam para um jornal preso com fita adesiva na parede em frente, e eu aproximei, e<br />

o adágio ia crescendo a ponto de furar os meus tímpanos, e eu vi a fotografia do meu pai na<br />

primeira página rasgada, e o adágio explodiu exatamente no momento em que adivinhei o<br />

título, e reli "A CULPA É SUA" nas paredes, e vi o berro bem no meio da mesa. e um segundo<br />

depois estava com a arma na mão e a pus na minha boca, o gatilho estava duro, mas cedia<br />

com a pressão dos meus dedos e me virei apenas para o céu, mas entre minhas duas janelas<br />

eu vi o anúncio dizendo "FIM". E o telefone tocou.<br />

Eu dei um pulo, abaixei a arma em câmera lenta, e a música de súbito parou. Fiquei<br />

embasbacada, sem esboçar movimen-<br />

to, durante alguns segundos, alguns minutos ou algumas horas, e a campainha continuava,<br />

estridente, no meio do deserto. Eu não atendi. A campainha parava, para recomeçar. A chuva<br />

tinha parado. Acendi um cigarro. Não queria pensar. Atendi.<br />

— Alô.<br />

— Alô, Manon?<br />

Era uma voz que não me dizia nada, um cara que não devia ser muito velho com um sotaque<br />

da Europa Oriental.<br />

— Sim, sou eu.<br />

— As provas... A senhora deve vir fazê-las agora. Um carro está lhe esperando embaixo, ele vai<br />

trazê-la até aqui.<br />

— Que provas? Do que é que o senhor está falando? Quem é o senhor?<br />

— Nós selecionamos sua foto. A senhora deve vir fazer os testes agora. Um carro está lhe<br />

esperando embaixo, ele vai...<br />

— Eu não mandei fotografia nenhuma.<br />

— A senhora acha realmente que está em condição de discutir? A senhora faz alguma idéia do<br />

sentido da expressão "mais nada a perder''?<br />

— Meu pai morreu — respondi, para ver se ele me deixava em paz.<br />

— Mentira, tudo é mentira! — exclamou ele, com um acento quase indignado, antes de<br />

desligar.<br />

Havia realmente um carro na porta do meu prédio, uma Mercedes negra, do tipo inquietador.<br />

Eu não fiquei inquieta, já que, por um lado, segundo a Voz, eu não tinha mais nada a perder e,<br />

por outro, levei o berro comigo. A possante rodava na direção do Champs-Elysées e eu mexia e<br />

remexia na porra deste anúncio de "FIM", e ruminava sem parar a afirmação da Voz: "Mentira,<br />

tudo é mentira". Eu não tinha mais uma gota de dignidade, de esperança, nem sequer um<br />

apartamento. Um carro bizarro me levava para não sei aonde, eram oito horas da noite, não<br />

havia engarrafamentos. Acabara de escapar de um suicídio teleguiado. De qualquer forma,<br />

nada mais me surpreendia desde aquela fatídica manhã no Ritz em que saí de um coma de<br />

dois anos, em que entendi que, de uma maneira ou de outra, meu cérebro estava seriamente<br />

prejudicado.<br />

Perguntei-me o que estava fazendo ali, naquele carro de aluguel, exceto pela redescoberta do<br />

prazer de ser conduzida por alguém, eu que não esperava mais nada deste mundo, que não<br />

queria mais nada esperar. E foi então que entendi que estava buscando simplesmente as<br />

respostas, e o carro parou diante de um grande portão negro de ferro batido, no meio do<br />

boulevard Haussmarm.<br />

O sujeito que dirigia saiu ao mesmo tempo que eu. Ele se encostou à porta do carro para<br />

fumar um cigarro.<br />

— No fundo do pátio — disse para mim, me encarando com impertinência.<br />

O portão estava aberto e eu entrei no prédio.<br />

— Ah — disse o sujeito —, eu vou ficar aqui esperando.<br />

— Obrigada — respondi.<br />

— Eu a levarei aonde a senhora quiser.<br />

Atravessei o pátio. O chão era revestido de lajes, os postes estavam quase caindo, havia um<br />

<strong>Bubble</strong> <strong>Gum</strong> <strong>–</strong> <strong>Lolita</strong> <strong>Pille</strong> <strong>Página</strong> 94

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