Bubble Gum – Lolita Pille Página 1 - CloudMe
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Ayoub, no fundo, o que ela quer são os diamantes de Mouna Ayoub, o que deixa indignado o<br />
presidente coreano da Samsung, que está ele mesmo muito a fim de Mouna Ayoub, Colin<br />
Farrel se manda com a tal fulana, aquela que fez um anúncio da Guess, Victoria Beckham valsa<br />
de braço dado com um cossaco, mas provavelmente imagina estar dançando a giga com um<br />
escocês esnobe, a Audioslave improvisa um concerto privado, um arrivista se suicida num<br />
canto, e todo mundo está se lixando, Derek se recusa a dar uma entrevista para um sujeito que<br />
só estava pedindo um cigarro, Werner Schreyer está enviando torpedos para Nicole kidman,<br />
Miss França faz Madame de Fontenay comer seu chapéu, antes de arrancar a echarpe idiota<br />
dela, a qual rasga com os dentes, e a obriga a comer também, o mesmo acontecendo com seu<br />
vestido boboca, que ela tirou mostrando um corpete de vinil vermelho do gênero coelhinha da<br />
Playboy, os guarda-costas dos outros intervém, e a noitada se transforma numa enorme zona.<br />
Derek segura a minha mão e nós fugimos dali, cruzando de passagem, nas escadas, com Sissi<br />
em plena atividade com o velho roqueiro que me lembra realmente alguém, então pergunto a<br />
Derek:<br />
— Quem é esse cara com a putinha?<br />
— David Bowie.<br />
David Bowie... David Bowie...?<br />
— Não conheço. Quem é?<br />
— Ah... ninguém... Um cantor...<br />
8 Nova York<br />
DEREK - Nós fomos embora para Nova York, desta vez não foi para pilhar a Bergdorf e as<br />
galerias do Village, nem para fuçar afundo Alphabet City atrás de raríssimos discos de vinil ou<br />
ainda DVDs piratas das antigas e geniais séries B que nunca foram editadas, nem sequer para<br />
trabalhar, eu parei de trabalhar, não fazia porra nenhuma, transformara-me num mestre na<br />
arte de delegar e meus negócios estavam indo muito bem sem mim, também não foi para<br />
assistir à avant-première de X-Men 2, ou simplesmente passar um tempinho numa cidade<br />
civilizada onde tinha ar-eondicionado em tudo quanto é canto, onde os restaurantes faziam<br />
suas entregas em quinze minutos, onde os jovens iam à escola, onde qualquer um tinha um<br />
porteiro. Nós partimos para Nova York porque suspeitávamos que Manon havia piorado, e<br />
minha própria paranóia atingira seu ponto culminante, tinha a impressão permanente de estar<br />
sendo seguido, espionado, manipulado, eu estava pirando, Manon estava pírando, nós fomos<br />
embora assim, porque deu na veneta, quase fugindo.<br />
No avião, Manon, esta estrela internacional em recuperação, não ousou sequer beber uma<br />
gota de champanhe, ela folheava Gala se queixando de já ter visto Minority Report, que não<br />
tinha a menor vontade de ver de novo, e ainda por cima sem legenda, não conseguia dormir,<br />
também não tinha vontade de ler: "Ler", disse ela para mim num tom peremptório, "é ainda<br />
mais entediante que o próprio tédio."<br />
— Hum — respondi, mergulhando de novo na Crítica da razão pura —, engano seu, ler é<br />
interessante e enriquecedor.<br />
— É sobre o que, o seu livro? — perguntou.<br />
— Hum — respondi. — Tome uma melatonina.<br />
— A melatonina é uma substância tóxica.<br />
— Menos tóxica que os seus comprimidos de anfetamina para tirar a fome.<br />
— A melatonina não faz mais nenhum efeito em mim.<br />
— É — digo, num tom professoral — porque você se mitridatizou.<br />
— O quê?<br />
— Mitrídates era um grego meio paranóico...<br />
— Acho que vou transar com um comissário no banheiro, isso vai me distrair.<br />
— Hum — digo eu, desconfortável, mas divertido.<br />
— Olhe aquele borrão — diz ela me mostrando o borrão à nossa frente —, não chega a ser<br />
<strong>Bubble</strong> <strong>Gum</strong> <strong>–</strong> <strong>Lolita</strong> <strong>Pille</strong> <strong>Página</strong> 41