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Bubble Gum – Lolita Pille Página 1 - CloudMe

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espondesse a essas perguntas sem pé nem cabeça e tão cortesmente formuladas como:<br />

"Você está com Derek Delano por causa do dinheiro dele?".<br />

Eu respondia: "Não". "Você está com Derek Delano para chegar ao estrelato na profissão?". Eu<br />

respondia: "Não". Emma não me deixava pôr esses bundas-moles no olho da rua. alegando<br />

que podia prejudicar a minha imagem, e isso era importante, a minha imagem. Às vezes<br />

tentavam me pegar desprevenida: "Você está com Derek Delano por causa do dinheiro dele e<br />

para chegar ao estrelato na profissão?". E eu escapava admiravelmente da armadilha<br />

respondendo; "Nem uma coisa, nem outra". Às vezes, entre duas perguntas idiotas: "Qual é o<br />

seu filme predileto?", "La Boum", e "Quais são os segredos da sua beleza?", "Uma vida<br />

saudável e os produtos da Harvey Nichols", tentavam me dar uma rasteira: "Você transou com<br />

Adrien Brody durante as filmagens?", e respondo indignada: "NÃO!", e, já de saída, o sujeito se<br />

virou para mim, tirou um papel do bolso, e me disse: "Me diga uma coisa, o que é que você<br />

gostaria de presente de aniversário?" e eu respondo: "Uma jacuzzi Lascala, como uma tela de<br />

plasma acoplada, até logo", batendo em seguida a porta na cara dele enquanto ele escrevia.<br />

Eu não entendia nada. Os jornalistas eram malucos, pelo menos tão malucos quanto Derek.<br />

— Se você não gosta de jornalista, mude de profissão — disse-me Emma.<br />

— Se você não calar essa boca, não sei se vai mudar de profissão, mas de patroa, ah, isso vai.<br />

Era uma época estranha, uma nova era, minha própria era: eu era onipresente. "Seus quinze<br />

minutos de glória, era isso que você queria", me dizia Derek. Naquela época, as multidões só<br />

se preocupavam com duas coisas, a primeira era eu mesma e a segunda era a ressurreição de<br />

Kurt, reencontrado errante nas ruas de Nova York por um ator de marionetes desempregado,<br />

Kurt estava tuberculoso, amnésico, encolhido, ele não tinha mais condição de tocar uma<br />

guitarra, mas era ele mesmo, Kurt Cobain, meu velho ídolo, e eu tinha o número do seu<br />

celular.<br />

Aparecíamos lado a lado na televisão, compartilhávamos as capas e as páginas centrais das<br />

revistas, as bancas de jornal estavam cobertas com as nossas caras, a gente almoçava junto no<br />

Costes e no Plaza, onde ele dormia, as pessoas nos olhavam de uma maneira bastante<br />

esquisita, ele me fazia confidências. O início das investigações revelou que sua morte não fora<br />

nada mais que uma encenação da mulher dele para meter a mão no tesouro, ele bebia muito<br />

uísque, se entendia bem com Derek, meu inglês melhorava a olhos vistos.<br />

Naquela época, toda vez que atravessava Paris, ficava tonta com os cartazes. Aquele rosto que<br />

era o meu, esta parte de mim que havia abandonado, todos esses olhares que fugiam ao meu<br />

controle. Isso quase me amedrontava. Eram sobretudo os meus olhos que me assustavam no<br />

cartaz, meus olhos empapados de kohl, retocados, quase transparentes, direto na objetiva, e<br />

que seguiam a gente aonde quer que fosse, onde quer que estivesse. O dia inteiro, durante os<br />

engarrafamentos, meus próprios olhos olhavam fixamente para mim em todos os pontos de<br />

ônibus, de todos os cinemas, de todos os outdoors de Paris, enquanto eu me escondia no<br />

carro, óculos escuros, chapéu e vidro fumê, tentando escapar do olhar dos pedestres,<br />

tentando escapar do meu próprio olhar lá em cima, em plena luz do dia, eu não podia mais me<br />

excluir, abaixava os olhos e via a capa da Elle, encontrava a capa da Studio, caía na capa da<br />

Match, na minha publicidade para Vuitton, no catálogo Vuitton, nos montes de releases, nas<br />

fotos amadoras de Derek e eu no 55 em Saint-Tropez, nas provas fotográficas antigas, no meu<br />

book aberto, e levantava a cabeça, havia anoitecido, e aquilo que enxergava confusamente<br />

através do vidro verde-escuro, quase negro, era o meu reflexo, essa coisa grotesca e aflita com<br />

seus óculos de sol na escuridão, era o meu reflexo que já não pertencia a mim.<br />

Com frequência era seguida, seguiam o carro e, quando acontecia de simplesmente sair<br />

porque estava sufocada, para tomar ar, para ir comprar eu mesma meus cigarros, o importuno<br />

descia da sua lambreta e apressava o passo, ele me interpelava nas minhas costas, saltitando<br />

para vislumbrar meu perfil, para verificar que sim, que era realmente eu, e me dizia: "Ah, ah, é<br />

você, hein?", eu respondia: "Não, o senhor deve estar enganado", e outros passantes se<br />

viravam e me reconheciam, e era geralmente nesta hora que me via cara a cara comigo<br />

mesmo num abrigo de parada de ônibus, e o importuno, com a maior cara-de-pau, começava a<br />

<strong>Bubble</strong> <strong>Gum</strong> <strong>–</strong> <strong>Lolita</strong> <strong>Pille</strong> <strong>Página</strong> 63

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