Bubble Gum – Lolita Pille Página 1 - CloudMe
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— Hum — diz ele —, é claro, apesar de tudo.<br />
— Sabe, você foi a única pessoa que me desejou felicidades no meu aniversário este ano, você<br />
e meu vendedor no Dolce em Milão, além do meu piloto de avião.<br />
Re-silêncio.<br />
— Qual é o gênero da sua amiguinha, família fim de raça, degenerada listada na Challenges<br />
entre a sexagésima e a centésima quarta posição na França, clepto, ninfo, psico, com as obras<br />
completas de William Burroughs na mesinha-de-cabeceira?<br />
— Não. Nada a ver com Julie.<br />
— Modelo poliglota? Bonequinha de luxo generosa?<br />
— Não e não. Ela se chama Manon, tem vinte e um anos. Nasceu num vilarejo no Sul da<br />
França. Eu a peguei na avant-première de Superstars. Ela estava tentando paquerar o<br />
Leonardo.<br />
— Uma atriz de restaurante? Modelo fracassada?<br />
— Algo mais ou menos assim.<br />
— Ela está contigo por quê? Por causa da grana?<br />
— O que você acha?<br />
— Ups — diz ele —, isso não o afeta em nada?<br />
— Não — digo —, de que forma você acha que isso poderia me afetar?<br />
— Ela é uma puta, meu velho.<br />
— Você acha? É só um ser humano que tenta realizar seu sonho.<br />
— Eu conheço você, Derek, você está escondendo alguma coisa de mim.<br />
Stanislas é, apesar de tudo, de longe, a pessoa do mundo — que ainda está neste mundo —<br />
que melhor me conhece, e não consigo continuar a mentir para este homem em relação a<br />
quem sinto um laço súbito de sincera afeição por vê-lo aqui, defronte de mim, perturbado com<br />
cacoetes e taciturno, a fronte maculada pela sua experiência amarga da vida, a vida feia tal<br />
qual ela é e — digamos — as grandes bofetadas que ela lhe deu (falência do pai, amor não<br />
correspondido por Julie, fealdade congênita), mexendo aflito no miolo do pão se perguntando<br />
por que — por que —, desde a infância, faço tudo melhor do que ele, se perguntando por que<br />
ele será a vida inteira o amigo meio chato de Derek Delano, esse milionário bacana,<br />
sumamente inteligente, incrivelmente sensível, que todo mundo adora, que todo mundo<br />
respeita, diante de quem todo mundo se prosterna e... não, estou exagerando um<br />
pouquinho... vá lá, então, enquanto sou bombardeado com minúsculas bolinhas de miolo de<br />
pão, aparentemente sem querer e cada vez mais rápido, por este titica, este eterno perdedor,<br />
este fracassado a quem amo desde a primeira vez que foi derrotado por mim com meu avião<br />
telecomandado que ia, é claro, muito mais rápido que a sua pobre réplica de Hellcat, conto,<br />
sem realmente escutar o que estou dizendo, porque apanhei Manon, porque tolero sua difícil<br />
presença, que, diga-se de passagem, está começando a me dar levemente nos nervos, e qual a<br />
maldade atrocíssima que estou preparando para fazer a esta criança inocente — nem tão<br />
inocente assim, ela me expulsou do meu ninho, do meu ninho, ontem à noite, a sacana — um<br />
dejeto, um destroço parecido com gente, e o interesse psicológico que tenho por esta<br />
experiência insólita, da forma que o delicioso arrepio de arriscar muito mais de mim mesmo<br />
nessa história do que imaginava de início, mas ele adivinha, e eu adivinho que ele adivinha,<br />
que isso não é mais do que um falso pretexto para a minha loucura destrutiva e sanguinária e<br />
que só estou fazendo isso porque estou simplesmente MALUCO.<br />
— Você está simplesmente maluco, Derek.<br />
Pronto, eu sabia.<br />
— Pode ser, mas, acredite, desde que esse jogo começou, não fiquei nem uma só vez<br />
enfadado.<br />
— Isso não é um jogo.<br />
— Ah, escute, tudo bem, cocota, isso não é nenhum filme de David Fincher e você não é o<br />
personagem redentor que põe todo mundo no bom caminho.<br />
— Derek, pela primeira vez na minha vida estou com pena de você.<br />
<strong>Bubble</strong> <strong>Gum</strong> <strong>–</strong> <strong>Lolita</strong> <strong>Pille</strong> <strong>Página</strong> 47