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Bubble Gum – Lolita Pille Página 1 - CloudMe

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me no carro e bati a porta:<br />

— Para o Ritz.<br />

18 E a música se cala<br />

DEREK - Eu estou sozinho na minha suíte, e ela está num estado daqueles. Eu também.<br />

Fico me perguntando qual é o tipo de pastel que decide o número de garrafinhas de uísque<br />

que o minibar de uma suíte de hotel de luxo, cuja diária custa sei lá quanto, deve conter, e<br />

posso garantir que o cara é um grande pastel. Será que levam era consideração que seria<br />

melhor evitar encher o bar acima da dose estatisticamente tolerável por um alcoólatra<br />

mediano? Será que, por acaso, receiam os estragos que um alcoólatra mediano é capaz de<br />

fazer ao mobiliário bastando estar um pouquinho de porre? Tão preocupados com a porra do<br />

mobiliário, não é? Era o que dizia minha mãe, e minha mãe tinha sempre razão: "A<br />

desvantagem de viver num hotel é que a gente não pode destruir tudo." É por isso que é<br />

preciso ser o dono. Quando a gente é o dono de alguma coisa, não tem que d.ar satisfação a<br />

ninguém no dia em que decide jogar tudo no chão, pular em cima de pés juntos e acabar com<br />

tudo dando golpes com a tampa da lata de lixo.<br />

Ah, a doçura de um lar... Quando você mora num hotel, se a sua mulher o engana, o<br />

abandona, bate em você, se os seus olhos se prostituem, tomam pico, atuam em snuff films,<br />

morrem de doenças venéreas incuráveis, ou de acidentes de helicóptero, ou de septicemia<br />

pós-abortamento, ou de uma improvável combustão espontânea, ou assistem apenas à<br />

televisão em horas de grande silêncio, você simplesmente não tem os meios para tomar um<br />

porre para esquecer, não, nem mesmo este consolo lhe é permitido: você está na pior,<br />

perdido, viúvo, drogado, a vida perdeu todos os seus encantos, os mais sanguinários dos<br />

atentados evocam em você La petite maison dans la prairie se comparados com o drama que<br />

acabou de arruinar sua existência que já não era grande coisa, você fica andando que nem um<br />

maluco, buscando desesperadamente escapar da aflição que o devora, e o que é que lhe<br />

oferecem, onde pode encontrar alívio, qual é o seu último e derradeiro recurso?<br />

Uma garrafinha de Jack Daniels.<br />

Porque, se dessem a você a possibilidade de capotar com dignidade, você chegaria, talvez, a<br />

extremos de vandalismo, como, por exemplo, estropiar cadeiras e consoles armado de um<br />

canivete suíço para conseguir lenha e fazer uma fogueira no meio do salão. E por que não?<br />

Você acabou de perder toda a sua família numa epidemia de peste bubônica, ou num acidente<br />

aéreo, você está assassinando neste exato momento a sacana pela qual você está, à sua<br />

maneira, que não é a dos outros, quase apaixonado, isso porque você nunca levantou a vida<br />

inteira um dedinho sequer, o que, aos trinta anos, começa a gerar uma espécie de complexo, e<br />

você se considera, mesmo assim, com direito a uma pequena diversão? Ah, nada disso. São<br />

garrafinhas. Umas porras de garrafinhas. Não dá nem para uma dar um pileque numa groupie.<br />

De forma que o alcoólatra mediano que você é pode sempre descolar um pay-per-view pornô<br />

na jacuzzi enquanto espera, sei lá, uma manifestação divina? Você não tem família, nem lar,<br />

você mora sozinho no Ritz, como um infeliz, e quando lhe pesa a solidão: não tem jeito, tem de<br />

ajoelhar e rezar, é o pornô e a punheta.<br />

E, se pintar uma vontade de encher a cara, o único jeito é chamar o serviço de quarto. Para<br />

que o serviço de quarto constate a fogueira, constate a minha pequena instalação, e o estado<br />

do piano, e me expulse do hotel como uma estrela de cinema ordinária para ir acabar na rua<br />

com um bando de garotos. Nada mau. Eu não vou chamar o serviço de quarto. De qualquer<br />

jeito, já joguei o telefone pela janela. Estou cagando, estou cheio de pó. Eu usei a coca para<br />

desenhar um rosto na mesa de centro graças ao recorte de um belo pochoir que eu tinha. Por<br />

enquanto, eu só cheirei a sobrancelha direita e a testa. Há pouco, o fogo se espalhou um<br />

pouquinho dos lados, eu arranquei as cortinas e apaguei tudo. Só resta um montinho<br />

lamentável de cinzas com uma auréola negra no meio do salão.<br />

<strong>Bubble</strong> <strong>Gum</strong> <strong>–</strong> <strong>Lolita</strong> <strong>Pille</strong> <strong>Página</strong> 96

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