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Bubble Gum – Lolita Pille Página 1 - CloudMe

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— Já faz muito tempo que morreu.<br />

— Mas esse filme, deve estar em algum lugar, é claro que existe um copião!<br />

— Ora, minha pobre criança, não havia película na câmera.<br />

— Não tinha película?<br />

— As câmeras estavam vazias. Elas funcionavam sem filme, como você.<br />

— E a divulgação? Os jornalistas?<br />

— Figurantes.<br />

— Então, naquela manhã... quando acordei, eu não havia sonhado...<br />

— É claro que não.<br />

— E aquele cartaz, aquele cartaz: Dignité, ora você, ainda você?<br />

— Sim, era uma espécie de conselho de despedida. O mínimo que se pode dizer, aliás, é que<br />

você não deu muita importância para ele.<br />

— E as fotos na minha casa? A zona? As guimbas de cigarro nos cinzeiros?<br />

— Eu colei as fotos, fiz um pouco de bagunça e fumei uns cigarros.<br />

— O restaurante? Sissi? O Nojento?<br />

— Figurantes de primeiro time, três mil euros por mês.<br />

— E eu que achava que estava esquizo...<br />

— É normal, chérie, se isto lhe serve de consolo, qualquer ser humano de constituição normal,<br />

por muito menos, teria se sentido assim.<br />

— E o teatro?<br />

— Neste caso, eu não tenho nada com isso, você se meteu sozinha no seu negócio pornô. Cada<br />

qual conforme seu natural.<br />

— E agora há pouco? As pessoas na rua? O ônibus? Os insultos? As pichações? A arma?<br />

— Que arma? — digo eu.<br />

Ela me esfrega o revólver no nariz, me ameaçando:<br />

— Esta aqui, seu escroto!<br />

— Tudo bem — murmuro, tentando simplesmente descontrair o ambiente.<br />

— E o meu pai? Onde está meu pai?<br />

— Seu pai, seu pai, sei lá onde está o seu pai, e, a propósito, durante os dois anos de vida boa<br />

comigo e, sobretudo, por minha conta, o mínimo que se pode dizer é que a menor das suas<br />

preocupações era o sen pai.<br />

— Eu quase estouro os miolos, porra! Derek!<br />

— Era este o objetivo, a princípio, mas alguma coisa deu errado. O que foi que deu errado?<br />

Não consigo entender, pensei em tudo. Um mês de preparativos para esta cena, um crescendo<br />

sutil na fustigação moral, a música, a falsa chuva, o pai falecido... Perfeito, genial, inspirado.<br />

Hein? O que foi que deu errado?<br />

— Por que, Derek?<br />

— Por que o quê?<br />

— Por que você fez isto comigo?<br />

— Era o roteiro. Eu segui o roteiro.<br />

— Que roteiro?<br />

— O não-roteiro, o do não-filme. Sabe, Manon, você não saiu durante dois anos com um<br />

fracassado, saiba que eu inventei uma arte. Eu inventei o não-cinema e você era de fato a<br />

minha não-musa, como disse para a Match. Não era brincadeira.<br />

— Derek, você está maluco — diz ela num sussurro.<br />

— Pode acontecer, é verdade, que o gênio se perca nas franjas da loucura...<br />

— Você é mais do que maluco, você está pronto para a camisa-de-força... — acrescenta ela,<br />

um pouco mais alto.<br />

— E você já se viu?<br />

— Gente como você precisa ser internada — continua ela, e tenho a impressão de que está se<br />

repetindo, e falando cada vez mais alto.<br />

"Grandissíssimo maníaco de merda! Você arruinou a minha vida!"<br />

<strong>Bubble</strong> <strong>Gum</strong> <strong>–</strong> <strong>Lolita</strong> <strong>Pille</strong> <strong>Página</strong> 99

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