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Bubble Gum – Lolita Pille Página 1 - CloudMe

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contratos fossem revistos por seus advogados, até eu ter os meus próprios advogados. Ele me<br />

aconselhava, até que não precisei mais de seus conselhos. Esse era o tipo de conselho que ele<br />

me dava: "Você vai acabar batendo as botas, como todo mundo, não se esqueça de que olham<br />

para você".<br />

Não sei bem por que, ele proibia que eu fizesse amizade com as outras modelos. Ele sentia uma<br />

curiosa aversão pelas modelos — então, eu perguntava, o que estava fazendo comigo? Não me<br />

respondia. Eu não tinha sequer o direito de falar com as outras garotas. Nem com os modelos<br />

masculinos. Ele me acompanhava nas sessões de foto sempre que a agenda dele permitia,<br />

ficava lá. perto da porta, com a sua eterna capa preta, com a gola levantada por causa dos<br />

ventiladores, as mãos nos bolsos, com vontade evidente de se mandar. Mas, mesmo assim,<br />

ficava, com seu boné idiota cobrindo as orelhas. Escutava, na época, sem parar, The Gathering,<br />

e ficava horas falando a respeito, "esta alternância entre uma tristeza ora aguda, ora sublime".<br />

O cara é doente. Eu lhe dizia que era anti-social, esse walkman eterno. Ele respondia que isso<br />

evitava que escutasse um sem-número de babaquices, que só desejava ver a vida através de<br />

uma realidade transcendental e que, de qualquer forma, sabia fazer leitura labial, "cocota". Eu<br />

sugeri que fizesse um implante, seria mais discreto. Ele respondia que já havia pensado nisso,<br />

mas que felizmente ainda sobrava alguma coisa para a qual seu dinheiro não bastava.<br />

Perguntei se era tão caro assim. Ele caçoou respondendo que não, cocota, isso simplesmente<br />

não foi inventado. E gaguejou em seguida algo a respeito da sua Julie que se suicidou, com<br />

quem passara tantos momentos formidáveis, sentado ao seu lado, cada um com seu walkman<br />

nas respectivas orelhas, trocando beijos musicais. Acho que foi quando comecei a detestá-lo. A<br />

última vez que fomos a Nova York, minha cama lhe foi proibida, sem que ele desse a menor<br />

importância, e isso me enlouquecia. Ficava me perguntando o que ele estava fazendo comigo,<br />

meu Deus. porque, ainda que não desse a mínima para mim, como não dava a mínima para a<br />

paz no mundo, não me largava por um instante sequer.<br />

Ele me acompanhava o todos os meus encontros, a todas as minhas sessões de foto, e eu<br />

insistia para que o pusessem na rua, mas ninguém queria colocá-lo no olho da rua. Ele me<br />

acompanhava no tour das butiques e, quando estava realmente de saco cheio, ou porque<br />

precisava trabalhar — Derek trabalhar —, ou porque ia montar a cavalo no seu haras na<br />

Normandia, ele me mandava Mirko, ou o motorista, e eu tinha de aturar noite e dia esse débil<br />

mental do Mirko, que botava música russa a todo volume no carro, e berrava<br />

"Kalinkakalinkakalinkamaia", batendo palmas, e só abaixava o som para me encher o saco com<br />

histórias das suas primeiras ultimate fights quando era jovem e forte e todos os golpes eram<br />

permitidos, mesmo no saco, e nas costas, e aquela vez em que comeu a orelha de um sumô, ele<br />

a comeu, mastigou, engoliu e digeriu, não é de se estranhar que eu tenha ficado meio biruta na<br />

companhia deste canibal disfarçado de guarda-costas.<br />

E depois, um dia, minha agente explodiu. Estávamos sentadas no seu escritório, ela me falava<br />

sobre aquele filme de Karénine, Adrien Brody sugerido para o principal papel masculino, uma<br />

adaptação de Tchekhov — eu ignorava quem era Tchekhov —, um projeto de qualquer forma<br />

muito cabeça em que se falava de uma peça dentro de uma peça, e o diretor pensava em mim<br />

desde aquela publicidade que fiz para a Coca-Cola gengibre — o primeiro take pornô já filmado<br />

na publicidade —, trinta segundos de um. tórrido chupão com Werner ao luar, no chão, nos<br />

confins da tundra siberiana, e aquele slogan genial: "Ginger coke, qual dos dois lhe dá mais<br />

sede?". Um escândalo. Karénine gostava de escândalos. Enfim, era o que me contava a minha<br />

agente, e, porque ele gostava de escândalos e daqueles que os provocavam, me queria de<br />

qualquer jeito para o papel, tinha adaptada a peça com a minha foto na tela do computador, e<br />

fiquei então com os olhos cheios d'água, porque não importa que eu tivesse me tornado uma<br />

escrota, uma escrota sacana megalomaníaca e corrompida, este era o meu última sonho, o<br />

cinema, na verdade meu único sonho, e iria se realizar, e realmente comecei a chorar de<br />

alegria, e ela começou a chorar, também, dizendo que não aguentava mais isso, que isso era<br />

demais, além das suas forças, que não podia mais continuar, e saiu da sala. Fiquei perplexa, e<br />

Derek também. Disse que não entendia o que deu nela. Derek respondeu que ela talvez<br />

<strong>Bubble</strong> <strong>Gum</strong> <strong>–</strong> <strong>Lolita</strong> <strong>Pille</strong> <strong>Página</strong> 52

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