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Práticas de Leitura e Escrita - TV Escola

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3.4.1. Uma provocação<br />

O título <strong>de</strong>ste texto – material a<strong>de</strong>quado, escolha qualificada, uso crítico – talvez seja uma gran<strong>de</strong> obvieda<strong>de</strong>.<br />

Afinal, todo e qualquer professor, quando pensa em materiais didáticos, logo elege objetivos <strong>de</strong>sse tipo, mesmo que<br />

não os formule exatamente assim. Por isso mesmo, esse título po<strong>de</strong> ser entendido também como uma provocação,<br />

diante da qual perguntaríamos, ironicamente: “Só isso? Fácil, não? E como é que se chega lá?”<br />

Sem recusar o que há <strong>de</strong> óbvio – e, principalmente, <strong>de</strong> anseio comum – nessas três expressões, vale a pena<br />

assumir a provocação. Não porque seja possível respon<strong>de</strong>r <strong>de</strong> uma vez a todas as três questões, que permanecerão<br />

sempre <strong>de</strong>safiadoras, mas porque o cotidiano <strong>de</strong> nossas escolas pe<strong>de</strong>, com urgência, uma reflexão a respeito. Um<br />

dia, certamente “chegaremos lá”. Não porque haja, em assuntos como este, um ponto fixo e pre<strong>de</strong>terminado a ser<br />

alcançado, mas porque, em algum momento da reflexão, perceberemos ter atingido um novo patamar. E a cada<br />

passo teremos diante <strong>de</strong> nós outros horizontes.<br />

3.4.2. O que torna um material didático?<br />

Qualquer instrumento que utilizemos para fins <strong>de</strong> ensino e <strong>de</strong> aprendizagem é um material didático. A<br />

caneta que o professor aponta para os alunos, para exemplificar o que seria um referente possível para a palavra<br />

caneta, funciona, nessa hora, como material didático. Assim como o globo terrestre, em que a professora <strong>de</strong><br />

Geografia indica, circulando com o <strong>de</strong>do, a localização exata da Nova Guiné. Ou a prancha em tamanho gigante<br />

que, pendurada na pare<strong>de</strong> da sala, mostra <strong>de</strong> que órgãos o aparelho digestivo se compõe, o que, por sua vez, está<br />

explicado em <strong>de</strong>talhes no livro <strong>de</strong> Ciências. A diferença entre cada um <strong>de</strong>sses recursos é apenas o grau <strong>de</strong> especialização.<br />

A caneta não foi criada para servir <strong>de</strong> exemplo para a noção <strong>de</strong> referente, mas, em graus crescentes <strong>de</strong><br />

especialização e intencionalida<strong>de</strong> didáticas, o globo, a prancha e o livro, sim.<br />

Assim, há uma quantida<strong>de</strong> e uma diversida<strong>de</strong> literalmente in<strong>de</strong>terminadas <strong>de</strong> materiais didáticos à nossa<br />

disposição. Quanto menos especializados eles forem, maior o grau <strong>de</strong> elaboração e <strong>de</strong> intencionalida<strong>de</strong> pedagógica<br />

do professor, e vice-versa. Em ambas as alternativas, quanto mais a<strong>de</strong>quado estiver o material, em relação à situação<br />

<strong>de</strong> ensino e aprendizagem em que se insere melhor o seu rendimento didático.<br />

Portanto, os potenciais e os limites <strong>de</strong> cada material não estão apenas no seu grau <strong>de</strong> especialização, mas também:<br />

• na formação intelectual e pedagógica, na criativida<strong>de</strong> didática e mesmo na presença <strong>de</strong> espírito <strong>de</strong> cada<br />

professor;<br />

• no perfil sociocultural e escolar dos aprendizes;<br />

• nas características da escola e <strong>de</strong> seu projeto pedagógico particular;<br />

• nas diferentes situações <strong>de</strong> ensino e aprendizagem em que se recorre a esse material.<br />

Uma conseqüência necessária <strong>de</strong>ssa tese é a seguinte: por melhor e mais especializado que seja um material,<br />

parte significativa <strong>de</strong> seu caráter didático <strong>de</strong>corre dos usos que professor e aluno, envolvidos numa situação <strong>de</strong> ensino e<br />

aprendizagem particular, fazem <strong>de</strong>le. Po<strong>de</strong>mos dizer, então, que a eficácia <strong>de</strong>sses recursos resulta da correta formulação<br />

<strong>de</strong> uma equação entre o seu grau <strong>de</strong> especialização, o perfil dos sujeitos envolvidos e as características da situação.<br />

Nesse sentido, convém lembrar que um material didático, qualquer que seja ele, <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>sempenhar, no<br />

exercício <strong>de</strong> suas funções, <strong>de</strong>terminados papéis:<br />

• propiciar e orientar uma interação a<strong>de</strong>quada entre o professor e o aluno, em torno do objeto a ser<br />

assimilado (a compreensão <strong>de</strong> um texto, um conceito, um tipo <strong>de</strong> raciocínio, um modo <strong>de</strong> fazer etc.);<br />

• in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> seu grau <strong>de</strong> especialização, a primeira função <strong>de</strong> um material que possamos<br />

qualificar como didático é a <strong>de</strong> favorecer uma interlocução pedagogicamente eficaz entre os sujeitos<br />

envolvidos no processo, <strong>de</strong> forma que a apresentação, o reconhecimento e a assimilação do objeto possa<br />

se dar por meio do diálogo, exatamente como no exemplo da construção coletiva da noção <strong>de</strong> referente<br />

possível para uma <strong>de</strong>terminada palavra;<br />

• promover uma aproximação a<strong>de</strong>quada dos sujeitos, e em especial do aprendiz, em relação ao objeto;<br />

• também in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> seu grau <strong>de</strong> especialização, um material didático a<strong>de</strong>quado é aquele que<br />

permite aos sujeitos uma representação ao mesmo tempo possível para o nível e o momento do processo<br />

<strong>de</strong> ensino e aprendizagem e que seja aceitável para os saberes <strong>de</strong> referência socialmente legitimados. É a<br />

essa operação, às vezes bastante <strong>de</strong>licada, que se convencionou chamar <strong>de</strong> transposição didática. De sua<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> a correção conceitual do instrumento;<br />

• colaborar significativamente para que os sujeitos envolvidos atinjam os objetivos estabelecidos para a<br />

situação em questão.<br />

*Esse texto se integra ao boletim da série “Materiais didáticos: escolha e uso”, agosto/2005.<br />

Praticas <strong>de</strong> <strong>Leitura</strong> e <strong>Escrita</strong><br />

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