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Práticas de Leitura e Escrita - TV Escola

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Por outro lado, o perigo ronda essas mesmas cabeças quando novas abordagens teóricas ou metodológicas são<br />

rapidamente introduzidas no cotidiano escolar, prescindindo <strong>de</strong> um tempo <strong>de</strong> amadurecimento e <strong>de</strong> aproximação<br />

para que elas, as cabeças, possam lidar com esses novos conteúdos.<br />

Abro a primeira cena. A leitura e a interação texto/leitor. O texto inexiste sem a presença do leitor. É o leitor que<br />

dá voz e vida ao texto, não importa em que campo <strong>de</strong> conhecimento esse se inscreva. É no cruzamento <strong>de</strong> vozes – do<br />

autor e dos leitores – que os seus sentidos vão se constituindo e outras leituras ou outros textos vão se configurando numa<br />

constelação <strong>de</strong> saberes e conhecimentos que se mesclam e se interpenetram como numa partitura <strong>de</strong> muitos acor<strong>de</strong>s e<br />

num arco-íris <strong>de</strong> mil cores. Cada tom, cada som, matiza-se <strong>de</strong> outros tantos sons e cores trazidos da vivência coletiva e<br />

pessoal <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong> vocês, leitores. A experiência é, inegavelmente, a gran<strong>de</strong> personagem <strong>de</strong>ssa narrativa.<br />

Acreditem se quiserem, mas esta é a assertiva mais coerente no campo dos estudos da leitura. Tudo mais são hipóteses<br />

que se constroem no ato <strong>de</strong> ler, para se abrirem em outras perguntas e outras tantas respostas <strong>de</strong> que, muitas vezes, o texto<br />

apenas indica pistas e caminhos. É importante que vocês percebam que todo texto dialoga com a cultura <strong>de</strong> sua época e com<br />

a leitura. Compreen<strong>de</strong>r isto, é ler antenado ao contexto histórico-social e cultural, sobre o qual o texto se inscreve.<br />

A trilha marcada pela materialida<strong>de</strong> do texto vai sendo <strong>de</strong>vassada pelo leitor, que encontra no escritor o seu<br />

guia. A escolha por tal ou qual caminho cabe a você, professor leitor. O mesmo procedimento vale para o seu aluno.<br />

A ele <strong>de</strong>ve ser dado o direito <strong>de</strong> leitura. Isto significa dizer que o leitor, seja iniciante ou experiente, encontra no texto<br />

marcas que o orientam a uma leitura que se entrecruza com saberes oriundos <strong>de</strong> vários lugares: do autor, <strong>de</strong> outros<br />

textos, do conhecimento da língua, <strong>de</strong> mundo, <strong>de</strong> suas histórias <strong>de</strong> leitura e <strong>de</strong> suas experiências <strong>de</strong> vida. São os chamados<br />

conhecimentos prévios. Tanto valem para o leitor, quanto para o escritor.<br />

Lê-se por muitas razões:<br />

“(...) para se obter informações, seguir instruções, apren<strong>de</strong>r ou ‘ressignificar’ conteúdos, navegar na<br />

Internet, planejar uma aula ou proferir uma conferência, produzir um texto, <strong>de</strong>senvolver o gosto pela<br />

leitura, entreter-se, transitar por outros tempos e lugares reais ou imaginários, escapar à realida<strong>de</strong>,<br />

ou por prazer estético, <strong>de</strong>ntre tantas razões que mobilizam o leitor, conforme seus múltiplos <strong>de</strong>sejos<br />

e as diferentes situações <strong>de</strong> comunicação impostas por um dado contexto sócio-histórico-cultural”.<br />

(Cor<strong>de</strong>iro, 2004, p. 98)<br />

Assim, a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r dos objetivos e necessida<strong>de</strong>s do leitor, os modos <strong>de</strong> ler vão tomando diferentes feições e<br />

intensida<strong>de</strong>s.<br />

Lê-se, consciente ou inconscientemente, recorrendo a muitas estratégias. A escola <strong>de</strong>ve estar atenta a tais procedimentos<br />

e o professor <strong>de</strong>ve ter um conhecimento sólido do quanto os processos cognitivos, sociais, culturais e afetivos<br />

<strong>de</strong> cada leitor são acionados no ato <strong>de</strong> ler, <strong>de</strong>sempenhando um papel fundamental na sua formação leitora.<br />

Passemos à segunda cena, mantendo ainda como figurante, o diálogo entre o texto e o leitor: o universo literário. É<br />

para além da dimensão utilitária e pragmática que a leitura oferece ao público leitor o gran<strong>de</strong> painel por on<strong>de</strong> se movem as<br />

condutas humanas, matizadas pelo heroísmo, pelo amor, pelo ciúme, pelo <strong>de</strong>sejo, pela hipocrisia, pela veleida<strong>de</strong>, pela ganância<br />

<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, pelo egoísmo e pela vaida<strong>de</strong>, entre tantas paixões, posição partilhada por parte significativa dos estudiosos da<br />

literatura (Cor<strong>de</strong>iro, 2003) 1 .<br />

Estou falando sobre o lugar da leitura literária e como ela vem sendo acolhida na escola. São temas, como bem<br />

disse Ricardo Azevedo (2005) 2 , que não se constituem em conteúdos didáticos, mas que nos são dados a conhecer e<br />

discutir através da leitura <strong>de</strong> obras literárias clássicas e contemporâneas. É pela e na literatura que escritor e leitor<br />

realizam sonhos, alimentam fantasias, <strong>de</strong>sejos e utopias, prefigurados em seus enredos, personagens e cenários,<br />

catalizadores das polarida<strong>de</strong>s e ambigüida<strong>de</strong>s humanas.<br />

Recuperar a leitura literária no espaço escolar é uma tarefa <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> novas formas <strong>de</strong> lidar com a literatura<br />

e <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconstrução <strong>de</strong> amarras e regras que a pedagogia teima em prescrever e rotular segundo a classificação<br />

das obras em escolas e gêneros literários, sem falar nas fichas <strong>de</strong> leitura, nos velhos exercícios <strong>de</strong> interpretação e nos<br />

breves comentários sobre o autor, a obra, seu tempo e a escola literária à qual pertence.<br />

Isto termina por interditar o diálogo do leitor com <strong>de</strong>terminado texto literário ou com outros tantos já lidos.<br />

A interação texto/leitor é o exercício interpretativo do significado mais profundo da literatura, na medida em que<br />

ela revela a forma como cada autor, em sua escrita lacunar e polissêmica, instiga o leitor a a<strong>de</strong>ntrar os mistérios da<br />

condição humana. Seguir as pistas <strong>de</strong>ixadas pelo texto, experimentando sua virtualida<strong>de</strong> estética, é uma forma <strong>de</strong><br />

transgredir o tipo <strong>de</strong> leitura mediada comumente pela escola.<br />

1 Cf. CORDEIRO, Verbena Maria Rocha. Itinerários <strong>de</strong> leitura: o processo ‘recepcional’ <strong>de</strong> Memórias póstumas <strong>de</strong> Brás Cubas . Tese <strong>de</strong> Doutorado<br />

- PUCRS, Porto Alegre, 2003. Cf. CORDEIRO, Verbena Maria Rocha. Itinerários <strong>de</strong> leitura: o processo ‘recepcional’ <strong>de</strong> Memórias póstumas <strong>de</strong> Brás<br />

Cubas . Tese <strong>de</strong> Doutorado - PUCRS, Porto Alegre, 2003.<br />

2 Aspectos instigantes da literatura infantil e juvenil, palestra conferida no 15ª Congresso <strong>de</strong> <strong>Leitura</strong> do Brasil, Campinas/SP, jul.2005.<br />

92 Salto para o Futuro

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