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Práticas de Leitura e Escrita - TV Escola

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A supervisora da escola estava fazendo uma complementação <strong>de</strong> seu curso <strong>de</strong> Pedagogia. E Débora se correspon<strong>de</strong>u<br />

com um dos professores da supervisora.<br />

Na primeira carta 3 , ela escreveu, com a ajuda da supervisora:<br />

oi<br />

brigada tela [pela] carta ce [que] você mondou [mandou] para min [...] você <strong>de</strong>ve ser legau Não pre siza <strong>de</strong>sipre acuta<br />

[não precisa <strong>de</strong> se preocupar]<br />

<strong>de</strong>scute [<strong>de</strong>sculpe] pela<br />

com a letre [letra]<br />

um abraço<br />

Débora<br />

Na mesma turma <strong>de</strong> Débora, outras crianças apresentam di culda<strong>de</strong>s parecidas. Há o William, há o Jonathan. William<br />

lê, mas escreve com muitas di culda<strong>de</strong>s. Jonathan, como Débora, lê e escreve com di culda<strong>de</strong>.<br />

Como eles, mais da meta<strong>de</strong> das crianças <strong>de</strong> 4ª série manifestam tantas di culda<strong>de</strong>s que não po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>radas<br />

alfabetizadas, ou alfabetizadas funcionalmente. Descobrimos isso em 2003.<br />

1.1.2. Fracasso da alfabetização<br />

Em 2003, os jornais e as revistas noticiaram o fracasso da escola brasileira em fazer com que seus alunos se<br />

alfabetizem, apren<strong>de</strong>ndo a ler e a escrever.<br />

As notícias foram a propósito da divulgação dos resultados <strong>de</strong> duas avaliações das habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> leitura <strong>de</strong><br />

crianças e jovens brasileiros. A primeira é a do Sistema <strong>de</strong> Avaliação da Educação Básica, o Saeb, <strong>de</strong>senvolvida pelo<br />

Instituto Nacional <strong>de</strong> Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). A segunda é a do Programa Internacional<br />

<strong>de</strong> Avaliação <strong>de</strong> Estudantes (Pisa), <strong>de</strong>senvolvida pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento<br />

Econômico (OCDE) e envolvendo diferentes países 4 .<br />

E os resultados não são nada bons. De acordo com os dados do Pisa, a proficiência em leitura <strong>de</strong> estudantes<br />

brasileiros <strong>de</strong> 15 anos é significativamente inferior à <strong>de</strong> todos os outros países participantes da avaliação.<br />

De acordo com os dados do Saeb 5 , na avaliação realizada em 2001 (divulgada em 2003), apenas 4,48% dos<br />

alunos <strong>de</strong> 4ª série possuem um nível <strong>de</strong> leitura a<strong>de</strong>quado ou superior ao exigido para continuar seus estudos no<br />

segundo segmento do Ensino Fundamental.<br />

Uma parte <strong>de</strong>les apresenta um <strong>de</strong>sempenho situado no nível intermediá rio, 36,2%, segundo o Saeb, estão<br />

“começando a <strong>de</strong>senvolver as habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> leitura, mas ainda aquém do nível exigido para a 4ª série” (p. 8).<br />

A gran<strong>de</strong> maioria se concentra, <strong>de</strong>sse modo, nos estágios mais elementares <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, 59% dos<br />

alunos da 4ª série apresentam acentuadas limitações em seu aprendizado da leitura e da escrita. Dito <strong>de</strong> outra forma,<br />

cerca <strong>de</strong> 37% dos alunos estão no estágio crítico <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> suas competências <strong>de</strong> leitura, o que significa<br />

que têm dificulda<strong>de</strong>s graves para ler, e 22% estão abaixo <strong>de</strong>sse nível, no estágio muito crítico, o que significa que<br />

não sabem ler.<br />

Segundo o Saeb, as crianças no estágio crítico se caracterizam pelo fato <strong>de</strong> não serem “leitores competentes”,<br />

por lerem “<strong>de</strong> forma truncada, apenas frases simples” (p. 8). As crianças no estágio muito crítico, por sua vez, são<br />

aquelas que “não <strong>de</strong>senvolveram habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> leitura. Não foram alfabetizadas a<strong>de</strong>quadamente. Não conseguem<br />

respon<strong>de</strong>r aos itens da prova” (p. 8).<br />

Uma comparação, feita por pesquisadores 6 , entre os resultados no Saeb <strong>de</strong> alunos da 4ª e da 8ª séries do<br />

Ensino Fundamental e do 3º ano do Ensino Médio, é também <strong>de</strong>salentadora. O aumento da proficiência em leitura<br />

<strong>de</strong> uma para outra série “é bastante mo<strong>de</strong>sto, o que significa uma aquisição ainda muito restrita <strong>de</strong> novas habilida<strong>de</strong>s<br />

e competências em Língua Portuguesa ao longo da escolarida<strong>de</strong> básica”.<br />

3 Na primeira carta, o professor disse a Débora para <strong>de</strong>sculpá-lo pela letra ruim. Foi por isso que ela respon<strong>de</strong>u que não era para se preocupar com a sua letra.<br />

4 32 países participaram do Pisa, <strong>de</strong>ntre eles Coréia do Sul, Espanha, EUA, Fe<strong>de</strong>ração Russa, França, México, Portugal e Brasil.<br />

5 Qualida<strong>de</strong> da Educação: uma nova leitura do <strong>de</strong>sempenho dos estudantes da 4ª série do Ensino Fundamental. Brasília: MEC/Inep, abril 2003.<br />

6 Trata-se do trabalho realizado por Alícia Bonamino, Carla Coscarelli e Creso Franco (“Avaliação e letramento: concepções <strong>de</strong> aluno letrado subjacentes ao Saeb e<br />

ao Pisa”. Educação e Socieda<strong>de</strong>, Campinas, vol. 23, n. 81, pp. 91-113, <strong>de</strong>z. 2002). A comparação foi feita com os dados do Saeb 1999. As citações foram extraídas<br />

da página 103.<br />

14 Salto para o Futuro

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