Práticas de Leitura e Escrita - TV Escola
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<strong>de</strong> várias formas. As experiências sonoras, como recurso, são amplamente exploradas por meio do grafismo, do<br />
aproveitamento visual da página em branco, <strong>de</strong> montagens e colagens. O poeta é um artesão da civilização urbana,<br />
sintonizado com seu tempo.<br />
A Poesia Práxis, outra vanguarda poética, afirmava que as palavras não são corpos inertes, imobilizados. As<br />
palavras são corpos vivos. Não são vítimas passivas do contexto. Assim, o poeta se preocupa com a palavra que gera<br />
outra palavra, valorizando, <strong>de</strong>ssa forma, o ato <strong>de</strong> compor. É o que po<strong>de</strong>mos ver nestes versos <strong>de</strong> Mário Chamie: um<br />
/ dois/ três / o juro: o prazo / o pôr/ o cento/ o mês/ o ágio/ porcentágio...<br />
Hoje, percebemos ecos que soam na trilha das palavras, em seus circuitos através dos tempos e <strong>de</strong> forma entrecruzada.<br />
Temos poetas “pop” que bebem na fonte dos poetas concretos, concretos que bebem na fonte dos cubistas<br />
e futuristas. Temos poetas mo<strong>de</strong>rnos que falam da vida cotidiana, assim como os poetas românticos utilizaram a<br />
palavra poética como protesto e como <strong>de</strong>núncia.<br />
O “RAP” – Rhythm and Poetry, Ritmo e Poesia – por exemplo, é um texto <strong>de</strong> <strong>de</strong>núncia que surge na periferia<br />
das gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s americanas, sendo também um híbrido <strong>de</strong> ritmos jamaicanos e africanos. As letras, geralmente<br />
longas, tratam <strong>de</strong> temas cotidianos como a violência, a corrupção, a pobreza, a riqueza. É um tipo <strong>de</strong> discurso calcado<br />
nos problemas urbanos. O acompanhamento rítmico, nesse tipo <strong>de</strong> música, serve para reforçar os sentidos do texto,<br />
ou seja, o som confirma o que a palavra apresenta. Por isso, o “RAP” situa-se nesse limite entre a fala e a canção.<br />
Embora não seja consenso entre os “rappers”, o “RAP” parece trazer também em suas músicas uma dose da<br />
métrica e da entoação dos repentistas dos cordéis nor<strong>de</strong>stinos, principalmente no gênero embolada. Embora os textos<br />
dos repentes sejam improvisados e mais em tom <strong>de</strong> brinca<strong>de</strong>iras e <strong>de</strong>safios – como em uma batalha verbal que faz<br />
com que os emboladores, com doses <strong>de</strong> humor e ironia, provoquem-se, afrontem-se – sem dúvida, eles dialogam.<br />
Enfim, o texto verbal no “RAP”, marcado por esses <strong>de</strong>senhos melódicos, pelas vozes em eco, pela repetição das<br />
palavras e <strong>de</strong> várias técnicas <strong>de</strong> ‘discotecagem’, tudo isso <strong>de</strong>monstra a tensão da palavra.<br />
Assim, são muitas as confluências entre estes arranjos na música e na poesia, que perpassam cada criação, misturando-se.<br />
São o Samba bossa, o Samba “reggae”, o “Pop-rock”, o “Rock-punk”, o Samba “RAP”, nova modalida<strong>de</strong><br />
do “RAP”, que tem expressão maior com Marcelo D2, o Samba choro, a Bossa “Jazz”, o “Rock-reggae”, o Afro-blues,<br />
o “Britpop”, entre tantas outras vertentes que, nos aspectos melódicos e líricos das composições, mesclam ritmos urbanos<br />
e regionais.<br />
Por outro lado, a palavra vem travando diálogos significativos com outras linguagens. Para Arnaldo Antunes,<br />
poeta e ex-integrante dos Titãs, a poesia está cada vez mais se ocupando <strong>de</strong> outros espaços <strong>de</strong> comunicação como: o<br />
computador, o ví<strong>de</strong>o, o poema cartaz, os “outdoors”, as canções. A música para ser ouvida, as artes para serem vistas,<br />
a poesia para ser lida são apenas três das formas <strong>de</strong> apreciação da arte que possuímos. Na verda<strong>de</strong>, diz ele, com a<br />
mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, as manifestações ten<strong>de</strong>m a se misturar. Vemos a poesia nos jogos educativos e folclóricos, po<strong>de</strong>mos<br />
também vê-la no teatro, na dança, em projeções a laser, enfim, a poesia vai utilizando outras mídias, outros meios <strong>de</strong><br />
comunicação e expressão.<br />
Assim, se esta relação da palavra com o som, com a visualida<strong>de</strong> e com a plasticida<strong>de</strong> ocupa hoje um importante<br />
lugar nas manifestações culturais, <strong>de</strong>vemos também pensá-la nos contextos educativos, já que neles circula um gran<strong>de</strong><br />
suporte <strong>de</strong> informações e <strong>de</strong> ações culturais. Assim, obviamente, pela via da cultura e da arte, a palavra po<strong>de</strong>rá ser uma<br />
trilha que no s conduzirá ao entendimento no processo <strong>de</strong> educar. Neste sentido, como po<strong>de</strong>mos fazer com que a palavra<br />
cantada possa também ser inserida no contexto da educação, da formação da sensibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> jovens e crianças, nos<br />
diferentes espaços <strong>de</strong> formação? Como fazer com que ela possa manter sua magia <strong>de</strong> maneira a senti-la, não como um<br />
elemento, um código a ser simplesmente sinalizado e interpretado por si só, mas associada à música, à sonorida<strong>de</strong>, à<br />
visualida<strong>de</strong>, à plasticida<strong>de</strong> que ela contém? Vamos pensar em algumas <strong>de</strong>ssas ações que po<strong>de</strong>rão resgatar a palavra e os<br />
seus usos nas ações educativas.<br />
Retomando o trabalho <strong>de</strong> Arnaldo Antunes, por exemplo, po<strong>de</strong>remos propor ativida<strong>de</strong>s com o seu sugestivo ‘ví<strong>de</strong>opoema’,<br />
chamado “Nome”. Nele, muita coisa po<strong>de</strong>rá ser discutida a partir da idéia <strong>de</strong> que a poesia é ‘intersemiótica’. Ou<br />
seja, ela dialoga com várias linguagens e seus signos. Nesse ‘ví<strong>de</strong>o-poema’, percebemos que o poeta cria muitos sentidos,<br />
unindo a poesia à visualida<strong>de</strong>, à imagem, à música. As imagens, portanto, ajudam a criar novos significados através <strong>de</strong><br />
recursos como a repetição, a colagem e o jogo com as palavras. O poeta constrói e <strong>de</strong>sconstrói as palavras, o verso, e <strong>de</strong>ssa<br />
forma lhes atribui um novo sentido. A poesia, assim apresentada no ví<strong>de</strong>o, parece que foi jogada em um liquidificador e<br />
misturada a uma porção <strong>de</strong> ingredientes que são imagens, sons e cores. Através <strong>de</strong> associações e analogias, <strong>de</strong> sensações<br />
e impressões adquiridas a partir <strong>de</strong>ste jogo ‘intersemiótico’, percebemos que as palavras são poéticas, polissêmicas e não<br />
simplesmente um “nome”.<br />
Em um dos trinta ‘ví<strong>de</strong>os-poema’, <strong>de</strong>nominado “Nome Nã”, há um interessante jogo que envolve os sons e as<br />
idéias, quando o poeta diz em seus versos que os nomes dos bichos não são os bichos/ os bichos são: macaco, gato, peixe, cavalo,<br />
vaca, elefante, baleia, galinha/ os nomes das cores não são as cores/ as cores são: preto, azul, amarelo, ver<strong>de</strong>, vermelho, marrom/ os<br />
nomes dos sons não são os sons/ os sons são/ só os bichos são bichos/ só as cores são cores/ só os sons são/ sons são/ sons são/ nome não/<br />
nome não/ nome não...<br />
138 Salto para o Futuro