16.04.2013 Views

Práticas de Leitura e Escrita - TV Escola

Práticas de Leitura e Escrita - TV Escola

Práticas de Leitura e Escrita - TV Escola

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

É por isso que uma obra literária, por mais antiga que seja, ainda surpreen<strong>de</strong> os leitores. Leiam ou releiam<br />

os contos ou os últimos romances <strong>de</strong> Machado <strong>de</strong> Assis. Pasmem! É como se revivêssemos o mesmo cenário político<br />

<strong>de</strong> agora. Aventurem-se nessa experiência. Vale a pena porque são vocês que irão atualizar a relação entre passado<br />

e presente.<br />

Isto permite também compreen<strong>de</strong>r porque os clássicos ainda continuam circulando <strong>de</strong> forma viva e atual.<br />

Lembrem-se também, <strong>de</strong> que em plena era tecnológica e informatizada o mundo celebra os 400 anos <strong>de</strong> publicação<br />

(Madri, 1605) do clássico da literatura universal D. Quixote <strong>de</strong> la Mancha, do escritor espanhol Miguel <strong>de</strong> Cervantes<br />

(1547-1616). D. Quixote, personagem emblemático, habita o imaginário coletivo, mesmo daqueles que nunca<br />

leram a obra na íntegra. Trata-se <strong>de</strong> um livro em que a leitura e o diálogo ocupam um papel extraordinário. Quem<br />

ainda não o leu, recomendo. Há muitas publicações recentes, inclusive algumas ilustradas. Em Cervantes, muitos e<br />

muitos escritores se inspiraram.<br />

Pois é, assim é um texto. Como um mosaico, “nasce <strong>de</strong> outros discursos” e se constitui “como um espaço <strong>de</strong><br />

interação entre inúmeras formas <strong>de</strong> experiência humana, on<strong>de</strong> todos os caminhos do conhecimento po<strong>de</strong>m se entrelaçar<br />

(...) é o ponto on<strong>de</strong> se dá a interseção da experiência do produtor e a do leitor” (Fernan<strong>de</strong>s, 2003, p. 111) 5 .<br />

É sobre esse tecido plural e multifacetado, que o leitor se <strong>de</strong>bruça para encontrar respostas e acrescentar<br />

perguntas a esse ou àquele texto que, por diferentes razões e objetivos, aten<strong>de</strong>m a suas expectativas: conhecimentos,<br />

inquietações, <strong>de</strong>leite ou prazer.<br />

Tal como o escritor, o leitor também se aproxima do texto com perguntas, cujas respostas, sempre provisórias,<br />

como disse, atualizam e revivificam o texto lido. Em outras palavras, o leitor se figura como co-autor ao atualizar as<br />

perguntas e respostas, também provisórias, que o escritor tinha em mente ao produzir seu texto.<br />

Enfim, a literatura po<strong>de</strong> ser impiedosa, sinistra, implacável, mas a sua gran<strong>de</strong>za resi<strong>de</strong> na forma como o escritor<br />

reconta a realida<strong>de</strong>, reinventa outro mundo, <strong>de</strong>vassa todas as vilanias, misérias e gran<strong>de</strong>zas do homem. Ou como diz o<br />

poeta Elias José (1997, p. 69): “Saímos <strong>de</strong> um conto ou romance, tontos <strong>de</strong> prazer ou cheios <strong>de</strong> perguntas sobre o mundo<br />

que nos cerca. Sobre o mundo que nós somos e que muitas vezes <strong>de</strong>sconhecemos”.<br />

Em seu artigo “Saberes literários como saberes docentes”, a professora e pesquisadora Graça Paulino (2004,<br />

pp. 55-61), chama a atenção para o lugar que a literatura ocupa no “conjunto <strong>de</strong> saberes docentes ligados ao trabalho<br />

cotidiano em sala <strong>de</strong> aula”. Reconhece a autora, entre outras possibilida<strong>de</strong>s, que “(...) a literatura nos ensina<br />

que os espaços são múltiplos, que a par do geográfico, existem o cultural, o mítico e o psíquico (...) a conviver com<br />

diferentes vozes sociais (...), a conviver com medos, com clímax e com <strong>de</strong>sfechos surpreen<strong>de</strong>ntes”.<br />

Isto não significa conferir à literatura um lugar <strong>de</strong> re<strong>de</strong>ntora <strong>de</strong> males que afligem a educação, nem tampouco<br />

ela tem o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> afetar todos os leitores, conclui com perspicácia a autora.<br />

Nem sempre a literatura apazigua. Curiosamente, alguns escritores acabam nos levando a questionar<br />

nossas realida<strong>de</strong>s, sobre as quais nos sentimos terrivelmente impotentes (Nafisi, 2004) ou “nos (dando) o prazer<br />

perturbador <strong>de</strong> nos tirar da mesmice e da mediocrida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nossas vidas vidinhas” (Elias José, op. cit., p. 69).<br />

Oxalá, eu tenha, se não contribuído, ao menos instigado vocês a repensarem sobre o lugar da leitura, do<br />

leitor, do escritor e da literatura na constituição <strong>de</strong> nossa i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. Enquanto se busca uma solução para que se<br />

constitua no Brasil, um país <strong>de</strong> leitores críticos e criativos, a literatura nos ensina a escapar “do falsamente belo, do<br />

falsamente importante”, criando “pequenos bolsões <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>” (Nafisi, 2004, p. 16), ainda que a história não nos<br />

conte, até agora, uma outra história mais humana e solidária.<br />

5 Recomendo duas publicações, uma apresentada e ilustrada por Márcia Williams, Ática, São Paulo, 2004 e outra do cartunista Caco Galhardo, D.<br />

Quixote em quadrinhos, da Fundação Peirópolis, Uberaba/MG, 2005.<br />

94 Salto para o Futuro

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!