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Práticas de Leitura e Escrita - TV Escola

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3.7.1. Introdução<br />

Preten<strong>de</strong>ndo dialogar com professores <strong>de</strong> todo o país – em processos <strong>de</strong> formação inicial ou <strong>de</strong> formação<br />

continuada – são discutidas neste texto questões relativas à escolarização da leitura literária e à sua relação com os<br />

livros didáticos, incluindo-se nessa discussão, a articulação que os livros didáticos promovem ou não entre fragmentos<br />

<strong>de</strong> textos, obras integrais <strong>de</strong> literatura, paradi dáticos e leitura em bibliotecas ou em outros espaços culturais.<br />

Magda Soares (1999, pp. 42-47) consi<strong>de</strong>ra o processo <strong>de</strong> escolarização como inevitável, mas <strong>de</strong>fen<strong>de</strong><br />

a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> uma escolarização a<strong>de</strong>quada da literatura, que obe<strong>de</strong>cesse, no momento da<br />

leitura, a critérios que preservem o literário, que propiciem ao leitor a vivência do literário e não uma distorção<br />

ou uma caricatura <strong>de</strong>le. Mais ainda, critérios que conduzissem, eficazmente, às práticas <strong>de</strong> leitura literária que<br />

ocorrem no contexto social e às atitu<strong>de</strong>s e aos valores próprios do i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> leitor que se quer formar.<br />

Na verda<strong>de</strong>, importante seria, na leitura literária, a tentativa <strong>de</strong> não se negligenciar o pacto ficcional que o jogo<br />

da linguagem e do imaginário tenta estabelecer com os leitores e que somente estes serão capazes <strong>de</strong> instaurar, ou<br />

<strong>de</strong> ignorar, no seu comportamento partici pa tivo. Da mesma forma, importante seria não tratar como informativo ou<br />

instrucional, cobrando respostas objetivas e fechadas, textos essencialmente subjetivos e abertos, como os literários.<br />

Por isso, a nenhum mediador, seja ele o professor, o auxiliar <strong>de</strong> biblioteca ou o livro didático, seria<br />

dado o direito ou o privilégio <strong>de</strong> instaurar ou <strong>de</strong> ignorar esse pacto em lugar <strong>de</strong> outros leitores. A leitura<br />

literária po<strong>de</strong> ser até proposta e não ser concretizada por alguns leitores. Ela seria, então, o fruto <strong>de</strong> uma<br />

reciprocida<strong>de</strong> entre as insinuações da autoria e as disposições estéticas <strong>de</strong> cada leitor, embora, no mais das<br />

vezes, aconteça o contrário, na escola.<br />

Além da crítica que se faz à utilização pelo livro didático <strong>de</strong> fragmentos <strong>de</strong> textos, sempre dos mesmos<br />

autores, mui tas vezes <strong>de</strong>scontextualizados, com coerência e coesão comprometidas, verifica-se, no Guia dos<br />

Livros Didáticos – PNLD 2002, como gran<strong>de</strong> parte dos pareceris tas consi<strong>de</strong>raram o tratamento dado à leitura<br />

literária nos livros <strong>de</strong> Língua Portuguesa <strong>de</strong> 5ª a 8ª séries, constata-se:<br />

Praticas <strong>de</strong> <strong>Leitura</strong> e <strong>Escrita</strong><br />

“(...) um enfoque historiográfico, centra do nas características dos estilos <strong>de</strong> época e nos elementos estruturais<br />

<strong>de</strong> composição (foco narrativo, caracterização <strong>de</strong> personagem, ritmo e rima na poesia). As principais<br />

habilida<strong>de</strong>s trabalhadas são a localização <strong>de</strong> informações e a paráfrase. Com relação à exploração<br />

esti lís tica e estética, muitas vezes as propostas limitam as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> experimentação pelo leitor,<br />

quando, por exemplo, solicitam do aluno (...) ora apenas i<strong>de</strong>ntificar as intenções do autor (...), ora utilizar<br />

poemas exclusivamente para estudo <strong>de</strong> conteúdos gramaticais (...), ora passar do sentido conotativo para<br />

o sentido <strong>de</strong>notativo, o que é questioná vel”. (MEC, 2001, pp. 56, 79, 90, 116).<br />

As ativida<strong>de</strong>s arroladas acima, além <strong>de</strong> pouco <strong>de</strong>safiadoras, estão <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> propor a exploração da<br />

intertextuali da <strong>de</strong>, da interdiscursivida<strong>de</strong>, da interdis ci pli na ri da<strong>de</strong>, dos recursos lingüísticos, dos recursos ‘estilísticoestéticos’<br />

e <strong>de</strong> estratégias diversificadas (antecipação/predição, checagem <strong>de</strong> hipóteses, elaboração <strong>de</strong> inferências,<br />

comparação e generalização <strong>de</strong> informações etc.).<br />

Tais tipos <strong>de</strong> exploração, tanto po<strong>de</strong>m servir aos propósitos lingüísticos quanto aos propósitos artísticos,<br />

se se pressupõe que os leitores, diferenciados que são, participem – com seu componente intelectual, emocional e<br />

histórico-social – da produção ativa e propositiva <strong>de</strong> sentidos, em processos <strong>de</strong> interlocu ção com diferentes gêneros<br />

textuais, como propõem os Parâmetros Curricula res Nacionais, e com as estratégias <strong>de</strong> produção dos textos.<br />

Segundo Marcuschi (2001), uma alternativa excepcional <strong>de</strong> se explorar o texto é montar um conjunto <strong>de</strong> perguntas<br />

que exigem a reunião <strong>de</strong> várias informações para serem respondidas (...), textuais explícitas e implícitas, bem como<br />

informações postas pelo leitor, nem sempre diretamente inscritas no texto, numa ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se fazer inferências.<br />

Propostas <strong>de</strong>ssa natureza, em vez <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar a literatura como uma produção exclusivamente lingüística,<br />

consi<strong>de</strong>ram-na, por sua característica distintiva enquanto gênero textual, uma produção artística, aberta e <strong>de</strong><br />

pluralida<strong>de</strong> significati va, cuja constituição estética <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá gran<strong>de</strong>mente das características diferenciadas dos<br />

leitores, em função das experiências prévias <strong>de</strong> mundo, dos textos e da arte <strong>de</strong> que usufruiu e que acumulou nas<br />

suas oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> letramen to literário, para colocar na roda das intertextualida<strong>de</strong>s.<br />

Conforme Gumbrecht (1998), o que torna isso possível é o fato <strong>de</strong> que entre a ação do autor e a ação do<br />

leitor, como condições históricas para a formação <strong>de</strong> significados, há, realmente, a possibilida<strong>de</strong> da produção <strong>de</strong><br />

diferentes significados em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> um trabalho <strong>de</strong>liberado, que cria as convergências do texto para diferentes<br />

disposições receptivas. Essas convergências se constituem <strong>de</strong> vazios <strong>de</strong>liberados, <strong>de</strong>ixados pelo autor, a fim <strong>de</strong><br />

que cada leitor possa pre enchê-los a partir da sua própria experiência <strong>de</strong> vida. Fala-se aqui, então, <strong>de</strong> recepções<br />

diferenciadas <strong>de</strong> leitores plurais, porque diversos.<br />

*Esse texto se integra ao boletim da série “Materiais pedagógicos”, novembro/2002.<br />

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