Práticas de Leitura e Escrita - TV Escola
Práticas de Leitura e Escrita - TV Escola
Práticas de Leitura e Escrita - TV Escola
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
A presença <strong>de</strong> textos científicos em sala <strong>de</strong> aula está, freqüentemente, vinculada ao ensino <strong>de</strong> Ciências Naturais,<br />
através do uso <strong>de</strong> livros didáticos. Em geral, nesses livros, os “textos científicos” oferecidos sofrem adaptações<br />
que visam a uma melhor compreensão pelos alunos, a partir daquilo que seus autores julgam relevantes para o<br />
aprendizado dos conteúdos escolhidos e ‘tematiza dos’. A forma utilizada nessas adaptações <strong>de</strong> textos científicos,<br />
na maioria das vezes, acaba por reduzir e simplificar as características lingüísticas, textuais e discursivas <strong>de</strong>stes<br />
gêneros. Além disso, são muito poucos os livros didáticos <strong>de</strong> Ciências que levam em conta uma necessária interlocução<br />
com o ensino da Língua Portuguesa e, especificamente, a prática <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> texto.<br />
É por este prisma – aproximações entre o ensino <strong>de</strong> Ciências Naturais e o da Língua Portuguesa – que pretendo<br />
discutir aqui o trabalho com textos informativos científicos. Meu ponto <strong>de</strong> partida toma como pressuposto básico a impossibilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> se tratar qualquer área <strong>de</strong> conhecimento sem passar por alguma compreensão dos complexos processos que<br />
envolvem as condições <strong>de</strong> produção dos textos. Assim, mesmo que o professor esteja discutindo com seus alunos, conteúdos<br />
relacionados aos conhecimentos e conceitos científicos, como, por exemplo, o conceito <strong>de</strong> ser vivo ou <strong>de</strong> ambiente, é <strong>de</strong><br />
fundamental importância que ele tenha claro qual(is) tipo(s) <strong>de</strong> texto(s) está oferecendo a seus alunos e quais usos e funções<br />
sociais esses textos <strong>de</strong>mandam, <strong>de</strong> modo que as propostas <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s possam ser as mais significativas possíveis.<br />
Isto se aproxima do que dizem os Parâmetros Curriculares Nacionais, volume 4, sobre Ciências Naturais, no<br />
item “A leitura <strong>de</strong> textos informativos”:<br />
Praticas <strong>de</strong> <strong>Leitura</strong> e <strong>Escrita</strong><br />
“É importante que o aluno possa ter acesso a uma diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> textos informativos, pois cada um <strong>de</strong>les<br />
tem estrutura e finalida<strong>de</strong> próprias. Trazem informações diferentes, e muitas vezes divergentes, sobre<br />
um mesmo assunto, além <strong>de</strong> requererem domínio <strong>de</strong> diferentes habilida<strong>de</strong>s e conceitos para sua leitura”.<br />
(MEC, 1997, volume 4, p. 124)<br />
Para ser mais claro, tomemos um exemplo. Se o professor oferecer aos seus alunos um texto sobre as “minhocas”<br />
para servir <strong>de</strong> base para uma discussão, teríamos, pelo menos, seis possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> gêneros textuais. Ele<br />
po<strong>de</strong> escolher:<br />
1. um verbete <strong>de</strong> enciclopédia (“minhoca”), que apresenta uma <strong>de</strong>finição um tanto quanto ampla <strong>de</strong>ste anelí<strong>de</strong>o;<br />
2. um livro com fins paradidáticos sobre o modo <strong>de</strong> vida das minhocas;<br />
3. um texto que instrua o leitor a construir um “minhocário”, com materiais simples;<br />
4. um texto da revista Ciência Hoje das Crianças, discutindo a importância das minhocas para a agricultura,<br />
ou sobre o modo como se reproduzem e seu hermafroditismo;<br />
5. um texto da revista Super Interessante ou Galileu, listando algumas curiosida<strong>de</strong>s sobre as minhocas, como<br />
por exemplo, porque elas são boas iscas para atrair peixes;<br />
6. um relato <strong>de</strong> experiências feitas por pesquisadores para a obtenção <strong>de</strong> húmus <strong>de</strong> melhor qualida<strong>de</strong>.<br />
Cada um <strong>de</strong>stes textos exige condições <strong>de</strong> leitura bastante diversas e todos eles po<strong>de</strong>rão ser utilizados como<br />
base para as práticas <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> textos a serem feitas sobre este assunto.<br />
Para mostrar isto <strong>de</strong> modo mais claro, apresento, brevemente, duas versões <strong>de</strong> um texto sobre minhocas<br />
escrito por dois alunos <strong>de</strong> uma 1ª série e a interferência da professora, feita entre a 1ª e a 2ª versão. É importante<br />
ressaltar que a professora, junto com seus alunos, já havia lido e discutido vários textos informativos sobre o assunto<br />
e estava propondo a elaboração <strong>de</strong> um livro, que seria o fechamento do projeto.<br />
Na solicitação inicial para a produção <strong>de</strong> texto (a 1ª versão), a professora queria que eles escrevessem um texto<br />
sobre como as minhocas eram, mas sua consigna foi muito ampla. Ela disse “escrevam um texto sobre as minhocas”.<br />
Isto terá efeitos sobre os alunos 1 .<br />
Rodrigo e Matheus, dois dos seus alunos, escreveram do seguinte modo.<br />
Texto 1. (Rodrigo e Matheus): [1ª série – 1ª versão]<br />
RODRIGO E MATHEUS (16/3/95)<br />
AS MINHOCAS<br />
AGENTEVIU ASMINHOCAS AGENTE VIU APART<br />
E PRETA É MAS PORSIMA DA CABEÇA... AGENTI VIU QUE<br />
ELA E SURDA E NÃO TEIOLHO CUANDO A MINHOCA<br />
VAINANOSA MÃO ELADESVIA DANOSA MAO PORQUE<br />
ELA SEITE O CALOR DANOSA MAO PELAPELE<br />
A MINHOCA VIVE NA TERRA<br />
1 Um projeto com fábulas, produzido por Eduardo Calil (Universi<strong>de</strong>da Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Alagoas), po<strong>de</strong> ser conferido no site www.cedu.ufal.br.<br />
*Esse texto se integra ao boletim da série “Varal <strong>de</strong> textos”, abril/2002.<br />
1 Um projeto com fábulas, produzido por Eduardo Calil (Universi<strong>de</strong>da Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Alagoas) po<strong>de</strong> ser conferido no site www.cedu.ufal.br.<br />
*Esse texto se integra ao boletim da série “Varal <strong>de</strong> textos”, abril/2002.<br />
167