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Práticas de Leitura e Escrita - TV Escola

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A conclusão é uma só e assustadora. Um número expressivo <strong>de</strong> estudantes não apren<strong>de</strong> a ler na escola brasileira.<br />

Essa escola produz um gran<strong>de</strong> contingente <strong>de</strong> analfabetos ou <strong>de</strong> analfabetos funcionais – quer dizer, pessoas<br />

que, embora dominem as habilida<strong>de</strong>s básicas do ler e do escrever, não são capazes <strong>de</strong> utilizar a escrita na leitura e<br />

na produção <strong>de</strong> textos na vida cotidiana ou na escola, para satisfazer às exigências do aprendizado.<br />

1.1.3. Alfabetização no Brasil<br />

Diante dos problemas educacionais, todos nós temos a tendência a acreditar que em nosso tempo ou no tempo<br />

<strong>de</strong> nossos avós, as coisas eram melhores. As escolas alfabetizavam com sucesso, os professores eram mais qualificados<br />

e os alunos eram mais dispostos a apren<strong>de</strong>r e mais disciplinados.<br />

Diante dos difíceis momentos do presente, acreditamos que voltar ao passado seria uma boa solução. Mas,<br />

no caso da alfabetização, não vale a pena voltar no tempo. Boa parte dos problemas que enfrentamos hoje tem a<br />

ver justamente com esse passado.<br />

Assim como Portugal, o Brasil, sua ex-colônia, pôs em prática um modo restrito ou gradual <strong>de</strong> difusão da alfabetização.<br />

Pouco antes da in<strong>de</strong>pendência, em 1820, apenas 0,20% da população, estima-se 7 , é alfabetizada. Assim, o<br />

ler e o escrever são privilégios das elites que, após esses primeiros aprendizados, dão continuida<strong>de</strong> a seus estudos.<br />

Ao longo do século, porém, novas frações da população se alfabetizam, mas muito gradualmente. Em 1872,<br />

quando se realiza o primeiro censo nacio nal, o índice <strong>de</strong> alfabetizados é <strong>de</strong> apenas <strong>de</strong> 17,7% entre pessoas <strong>de</strong> cinco<br />

anos e mais. A partir do século XX, esse índice vai sempre progredir, embora permaneça, até 1960, inferior ao índice<br />

<strong>de</strong> analfabetos, que constituem 71,2% em 1920, 61,1% em 1940 e 57,1% em 1950. Em 1960, pela primeira vez,<br />

conseguimos inverter a proporção. Contamos, então, com 46,7% <strong>de</strong> analfabetos. A partir <strong>de</strong> então, as taxas caem<br />

sucessivamente. De 1970 a 2000, essas registram 38,7%, 31,9%, 24,2% e 16,7% 8 .<br />

As mesmas <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s também se manifestam em matéria <strong>de</strong> escolarização. Só no final da década passada,<br />

o país conseguiu universalizar o acesso à escola, embora em muitos estados persistam percentuais expressivos <strong>de</strong><br />

crianças fora <strong>de</strong>la.<br />

Sabemos sobre quais parcelas da população inci<strong>de</strong>m o analfabetismo e o fracasso escolar e quais grupos sociais<br />

não têm acesso à escolarização. Os dados do Saeb são exemplares. O fracasso na alfabetização é maior entre as<br />

crianças que vivem em regiões que possuem piores indicadores sociais e econômicos, entre as crianças que trabalham<br />

e entre as crianças negras.<br />

Quer dizer, o problema do analfabetismo, na escola ou fora <strong>de</strong>la, é parte <strong>de</strong> um problema maior e <strong>de</strong> natureza<br />

política. É o problema da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social, da injustiça social, da exclusão social.<br />

Assim, as dificulda<strong>de</strong>s que enfrentamos no presente não são, em certa medida, dificulda<strong>de</strong>s novas. Fazem<br />

parte <strong>de</strong> uma dificulda<strong>de</strong> antiga e persistente em nosso país, a <strong>de</strong> assegurarmos a todos os brasileiros a igualda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> acesso a bens econômicos e culturais, neles compreendidos a alfabetização e o domínio da língua escrita.<br />

Mas os mesmos dados que mostram a difícil herança que nos foi legada e as dimensões <strong>de</strong> nosso <strong>de</strong>safio<br />

mostram também que, ainda que muito lentamente, avançamos. Ao longo <strong>de</strong> todo o século passado, conseguimos<br />

incluir novas parcelas da população no mundo da escrita. Quase no final do século XIX, éramos cerca <strong>de</strong> 18% <strong>de</strong><br />

alfabetizados, no início do século XXI, somos quase 83%.<br />

Conseguimos, também, na década passada, reduzir os percentuais <strong>de</strong> analfabetismo entre crianças e jovens<br />

em ida<strong>de</strong> escolar. As taxas <strong>de</strong> analfabetismo nas faixas etárias <strong>de</strong> 10 a 19 anos – relativas a crianças e jovens que estão<br />

ou estiveram na escola – apresentam uma redução expressiva nos últimos anos. Entre 1996 e 2001, os percentuais<br />

<strong>de</strong> analfabetos nessa faixa <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> caem pela meta<strong>de</strong>, isto é, <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 14% para cerca <strong>de</strong> 7% 9 .<br />

Mais importante, avançamos, mesmo que lentamente, ao mesmo tempo em que aumentamos nossas expectativas<br />

em relação à alfabetização. Quer dizer, avançamos ao mesmo tempo em que progressivamente ampliamos o nosso conceito<br />

<strong>de</strong> alfabetização, em resposta a novos problemas colocados pelo mundo contemporâneo.<br />

O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa apresenta a <strong>de</strong>finição estrita <strong>de</strong> alfabetização. Ela é o “ato ou<br />

efeito <strong>de</strong> alfabetizar, <strong>de</strong> ensinar as primeiras letras”. Assim, uma pessoa alfabetizada é entendida como aquela que<br />

domina as “primeiras letras”, que domina as habilida<strong>de</strong>s básicas ou iniciais do ler e do escrever.<br />

7 A estimativa é feita por Lawrence Hallewell (O livro no Brasil: sua história. São Paulo: Edusp, 1985, p. 176).<br />

8 Os dados ao lado são encontrados no artigo <strong>de</strong> Alceu Ravanello Ferraro (“Analfabetismo e níveis <strong>de</strong> letramento no Brasil: o que dizem os censos?”. Educação e<br />

Socieda<strong>de</strong>, Campinas, vol. 23, n. 81, pp. 21-47, <strong>de</strong>z.2002).<br />

9 Ver, a respeito, o Mapa do analfabetismo no Brasil. Brasília: Inep, 2003.<br />

Praticas <strong>de</strong> <strong>Leitura</strong> e <strong>Escrita</strong><br />

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