textos, e vai, finalmente, aprofundar essa leitura com os alunos e pedir que voltem ao assunto para incorporar os dados novos trazidos por essa leitura, dando continuida<strong>de</strong> à discussão. Para ensinar a escrever é preciso, para começar, que o professor queira saber o que o aluno tem a dizer sobre o assunto a respeito do qual pediu que ele escrevesse e que acredite que esse aluno tem realmente alguma coisa a dizer. Para acreditar que o aluno tem algo a dizer é preciso que o professor se perceba como alguém que também tenha algo a dizer, isto é, o texto escrito pelo professor é pré-requisito para que o aluno escreva o seu texto. O professor só po<strong>de</strong> provar a seus alunos que escrever faz sentido se conseguir mostrar-lhes que, tal como ler, escrever é produzir sentido, que o autor do texto é o primeiro leitor a ser atingido pelos efeitos <strong>de</strong> sentido provocados por seu esforço <strong>de</strong> mobilização dos recursos expressivos historicamente construídos na língua, para pôr uma certa or<strong>de</strong>m na vida e no mundo. A seguir, é importante que o professor constitua, na sala <strong>de</strong> aula, o público para os textos <strong>de</strong> seus alunos e os ponha sistematicamente em discussão. É preciso reverter a tradicional crença <strong>de</strong> que somos todos incapazes <strong>de</strong> escrever, substituindo-a pela convicção natural <strong>de</strong> que somos todos capazes <strong>de</strong> escrever para <strong>de</strong>scobrirmos o que somos capazes <strong>de</strong> dizer a respeito do assunto <strong>de</strong> que estamos tratando. Essa capacida<strong>de</strong> brota do trabalho <strong>de</strong> escrever (e não <strong>de</strong> uma inspiração iluminada) e do diálogo do texto resultante <strong>de</strong>sse trabalho com os seus leitores, e esse diálogo só faz sentido se for para subsidiar uma ou mais reescritas do texto, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> construir, a respeito do assunto, a clareza possível nesse momento histórico, pelo qual passa o autor do texto. Finalmente, é necessário que o professor seja professor e examine esses textos para orientar, minuciosamente, as reescritas que vão qualificá-los. Orientar a reescrita não é apenas a<strong>de</strong>quar o conteúdo às verda<strong>de</strong>s estabelecidas pela ciência, nem a forma do texto ao modo consagrado <strong>de</strong> escrever nessa área <strong>de</strong> conhecimento, mas é principalmente, levar o autor do texto a repensar a pertinência dos dados com que está lidando, a coerência da tese que apresenta, a a<strong>de</strong>quação entre dados e tese, em fim, levá-lo a perceber lacunas nas informações <strong>de</strong> que dispõe e a se perguntar para que vai servir o que está escrevendo. Assim como salientamos a respeito da leitura, também no que se refere à escrita, po<strong>de</strong>mos falar a respeito <strong>de</strong> duas <strong>de</strong>las. Há uma escrita privada, como, por exemplo, a carta, que se dirige a um único <strong>de</strong>stinatário e só a ele interessa, e há o diário, que se dirige ao próprio autor, em diálogo interior objetivado consigo mesmo. É bom que a escola apresente os alunos a essas práticas históricas <strong>de</strong> escrita e que os incentive a praticá-las, não só porque ninguém mais o fará, mas também porque são excelentes exercí cios para <strong>de</strong>senvolver a habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escrever, pois envolvem uma prática <strong>de</strong> escrita muito próxima das práticas da língua falada. Há uma escrita pública, que se dirige ao leitor, isto é, tanto àqueles que o autor tinha em mente ao escrever quanto a qualquer um que resolver botar um olho curioso no texto. O texto público é o texto da escola. Assim, não se trata apenas <strong>de</strong> incentivar o aluno a escrevê-lo, mas <strong>de</strong> tomar isto como a mais legítima tarefa escolar. Dentro da escrita pública, é preciso também distinguir dois tipos <strong>de</strong> texto: os que servem à leitura, expressando a compreensão do texto lido, como o esquema, o resumo, a paráfrase, a resenha e o texto que expressa a produção <strong>de</strong> conhecimento, basicamente a narração e a dissertação. É preciso trabalhar com esses dois tipos <strong>de</strong> texto sem confundir as suas finalida<strong>de</strong>s. A escola insere o aluno no contexto do diálogo da cultura, um diálogo que se dá por escrito, por isso, ensinar o aluno a escrever para que ele possa participar <strong>de</strong>sse diálogo é tarefa <strong>de</strong> toda a escola. E para que ele possa participar <strong>de</strong>sse diálogo na condição <strong>de</strong> produtor <strong>de</strong> conhecimento, nenhuma das disciplinas da escola po<strong>de</strong> adotar o resumo, a paráfrase, o esquema, a anotação como seu texto preferencial. Nenhuma disciplina po<strong>de</strong>, para exercitar o entendimento e produzir sentido, privilegiar formas textuais em <strong>de</strong>trimento da escrita. Se aceitarmos que o texto que mais a<strong>de</strong>quadamente expressa a cultura contemporânea, científica e tecnológica é a dissertação, o gênero mais amplo sob o qual se abrigam os artigos, os ensaios, as teses que expressam e divulgam os avanços do conhecimento (não por acaso o texto que as autorida<strong>de</strong>s educacionais já <strong>de</strong>finiram como o texto obrigatório da bagagem do candidato a estudante universitário), esse é o mais forte motivo para que todas as disciplinas envolvam-se no processo <strong>de</strong> criar condições para que os estudantes se habilitem a praticar a produção <strong>de</strong> textos dissertati vos que não se limitem, tal como vêm mostrando as redações <strong>de</strong> vestibular, a meramente reproduzir lugares-comuns. E para criar no aluno, uma atitu<strong>de</strong> dialógica com relação ao próprio texto, o professor <strong>de</strong> qualquer área/disciplina po<strong>de</strong> começar por refletir sobre a qualida<strong>de</strong> dialógica do próprio. Isto quer dizer que ensinar a escrever para produzir conhecimento envolve apren<strong>de</strong>r a escrever para produzir conhecimento. A licenciatura que cursou não ensinou o professor a fazer isso? Todo mundo sabe que o conhecimento avança justamente porque somos capazes <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r muito mais do que nos ensinaram e que ninguém é educado para viver a época em que vive. A tarefa do professor nesta época em que as informações estão <strong>de</strong> muitas maneiras ao alcance do todos, já não é exatamente a <strong>de</strong> fornecê-las, mas é a <strong>de</strong> ensinar o aluno a organizá-las <strong>de</strong> modo que façam sentido. Ensinar a escrever é uma tarefa <strong>de</strong> uma escola disposta a olhar para frente e não para a repetição do passado que nos trouxe à escola que temos hoje. Trabalhar com o texto implica trabalhar com a incerteza e com o erro e não com a resposta certa, porque escrever é produzir e não reproduzir velhas certezas, pois as certezas nos <strong>de</strong>ixam no mesmo lugar. É o erro que nos leva na direção do novo. 5.1.3. Referências bibliográficas NEVES, Iara C. B. et alli. (Orgs.) Ler e escrever: compromisso <strong>de</strong> todas as áreas. Porto Alegre: Editora da Universida<strong>de</strong>/UFRGS, 1998. Praticas <strong>de</strong> <strong>Leitura</strong> e <strong>Escrita</strong> 161
5.2. Professor: leitor e formador <strong>de</strong> leitores Ana Maria Ribeiro Filipouski Professora da Equipe do Núcleo <strong>de</strong> Integração Universida<strong>de</strong> <strong>Escola</strong> da Pró-Reitoria <strong>de</strong> Extensão da UFRGS - NIUE/UFRGS.
- Page 1 and 2:
Práticas de Leitura e Escrita L ng
- Page 4 and 5:
Escrever, eu já andava rabiscando
- Page 6 and 7:
3.1.3. Fábulas ...................
- Page 8 and 9:
servindo como um eixo norteador par
- Page 10 and 11:
apropriação do sistema alfabétic
- Page 12 and 13:
No Brasil, quase um terço da popul
- Page 14 and 15:
A conclusão é uma só e assustado
- Page 16 and 17:
A necessidade desse conhecimento so
- Page 18 and 19:
1.2.1. Conceituação A apropriaç
- Page 20 and 21:
a um “som”, cada “som” a um
- Page 22 and 23:
Finalmente, é importante adquirir
- Page 24 and 25:
“Ler é melhor que estudar”, es
- Page 26 and 27:
Neste sentido, diferentemente de po
- Page 28 and 29:
Em práticas de alfabetização e l
- Page 30 and 31:
1.4.1. A metodologia da alfabetiza
- Page 32 and 33:
social de textos. A exposição de
- Page 34 and 35:
Alfabetização e Ensino da Língua
- Page 36 and 37:
Praticas de Leitura e Escrita Carta
- Page 38 and 39:
Como realizar um planejamento de tr
- Page 40 and 41:
Vejamos as possíveis situações:
- Page 42 and 43:
Nas situações cotidianas, é impo
- Page 44 and 45:
pressa nas mais variadas formas: po
- Page 46 and 47:
“Quem conta um conto aumenta um p
- Page 48 and 49:
2.1.1. Referências bibliográficas
- Page 50 and 51:
A fábula é um gênero literário
- Page 52 and 53:
Praticas de Leitura e Escrita 53
- Page 54 and 55:
Narrar é um ato inventivo, seja pa
- Page 56 and 57:
Alguns malabarismos verbais provoca
- Page 58 and 59:
A palavra Um renomado professor jap
- Page 60 and 61:
com heróis que esqueceram a palavr
- Page 62 and 63:
As palavras, em tais condições, a
- Page 64 and 65:
Praticas de Leitura e Escrita “Du
- Page 66 and 67:
A atividade pensada segue o seguint
- Page 68 and 69:
Gonzaguinha, em conhecida letra de
- Page 70 and 71:
2.6.1. Referências bibliográficas
- Page 72 and 73:
A linguagem está onde o homem est
- Page 74 and 75:
O trabalho com a linguagem na escol
- Page 76 and 77:
2.8.1. Fracasso escolar: buscando e
- Page 78 and 79:
clínico, propõe-se, primeiro, inv
- Page 80 and 81:
Praticas de Leitura e Escrita 81
- Page 82 and 83:
se pode desenvolver um trabalho de
- Page 84 and 85:
3.1.1. Retomando a experiência de
- Page 86 and 87:
e do início da atividade sexual (M
- Page 88 and 89:
3.1.7. Referências bibliográficas
- Page 90 and 91:
3.2.1. Cenas de leitura Falar sobre
- Page 92 and 93:
Considero a leitura por fruição a
- Page 94 and 95:
3.2.2. Referências bibliográficas
- Page 96 and 97:
Este texto historia brevemente a es
- Page 98 and 99:
São muitos os manuais didáticos,
- Page 100 and 101:
3.3.4. Referências bibliográficas
- Page 102 and 103:
3.4.1. Uma provocação O título d
- Page 104 and 105:
Apesar desse quadro de evidente esc
- Page 106 and 107:
3.4.5. Referências bibliográficas
- Page 108 and 109:
Praticas de Leitura e Escrita “A
- Page 110 and 111: e cooperação, sobressaindo assim,
- Page 112 and 113: Atualmente, os livros editados com
- Page 114 and 115: 3.6.1. Referências bibliográficas
- Page 116 and 117: 3.7.1. Introdução Pretendendo dia
- Page 118 and 119: que possamos nos debruçar sobre a
- Page 120 and 121: 3.8.1. Televisão afasta as crianç
- Page 122 and 123: fica na República Eslovaca e que a
- Page 124 and 125: “Leitura da literatura: a constru
- Page 126 and 127: 4.1.1. A leitura literária no proc
- Page 128 and 129: 4.1.5. Repertórios de leituras Nã
- Page 130 and 131: Praticas de Leitura e Escrita 131
- Page 132 and 133: Geralmente, o trabalho com a poesia
- Page 134 and 135: Praticas de Leitura e Escrita 135
- Page 136 and 137: 4.3.1. Poesia, música e jogo: nas
- Page 138 and 139: Percebemos, nesse ‘vídeo-poema
- Page 140 and 141: versos dizem o que ele está fazend
- Page 142 and 143: Praticas de Leitura e Escrita 2 Hor
- Page 144 and 145: Na verdade, ao “dizer” a palavr
- Page 146 and 147: O poeta Manoel de Barros, em seu li
- Page 148 and 149: A poesia pode se oferecer a um trab
- Page 150 and 151: Praticas de Leitura e Escrita “Po
- Page 152 and 153: O poeta se investe do papel de subv
- Page 154 and 155: Praticas de Leitura e Escrita 155
- Page 156 and 157: As diversas opções de materiais d
- Page 158 and 159: Se lembrarmos que os livros que os
- Page 162 and 163: 5.2.1. Leitura e escrita competênc
- Page 164 and 165: nado por sua saúde, presença na e
- Page 166 and 167: A presença de textos científicos
- Page 168 and 169: Esta construção talvez esteja pro
- Page 170 and 171: Há uns cem anos, eram bem poucas a
- Page 172 and 173: Nessa ficha, podem constar, entre o
- Page 174 and 175: Esse texto pretende fornecer elemen
- Page 176 and 177: em sala de aula, que permitirão qu
- Page 178 and 179: do marketing, ou como instrumento d