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Práticas de Leitura e Escrita - TV Escola

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Geralmente, o trabalho com a poesia em sala <strong>de</strong> aula está atrelado, entre outros problemas, às ativida<strong>de</strong>s<br />

e aos exercícios oferecidos pelos livros didáticos que tratam <strong>de</strong>ste gênero discursivo, como pretexto para levar os<br />

alunos a discutirem conteúdos gramaticais e ortográficos, <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> lado o valor literário que, prio ritariamente,<br />

tais textos pos suem 1 .<br />

Hoje não po<strong>de</strong>mos mais tratar o ensino da Língua Portuguesa sem levar em consi<strong>de</strong>ração os usos e as funções<br />

so ciais do texto. A escola <strong>de</strong>ve, principalmente nas séries iniciais do Ensino Fundamental, valorizar o trabalho<br />

com textos conforme se apresenta em nossa socieda<strong>de</strong> letrada. Desse modo, as práticas <strong>de</strong> leitura e <strong>de</strong> produção <strong>de</strong><br />

texto po<strong>de</strong>rão ganhar sentidos, sem que o professor as transforme em situações voltadas, única e exclusivamente,<br />

para avalia ção e correção.<br />

Essas afirmações po<strong>de</strong>m ser fortaleci das se lermos o que dizem os Parâmetros Curriculares Nacionais, 1º e<br />

2º ciclos (MEC, 1997, pp. 37-38):<br />

Praticas <strong>de</strong> <strong>Leitura</strong> e <strong>Escrita</strong><br />

“A questão do ensino da literatura ou leitura literária envolve, portanto, esse exercício <strong>de</strong> reconhecimento<br />

das singularida<strong>de</strong>s e das proprieda<strong>de</strong>s compositi vas que matizam um tipo particular <strong>de</strong> escrita. Com isto,<br />

é possível afastar uma série <strong>de</strong> equívocos que costumam estar presentes na escola em relação aos textos<br />

literários, ou seja, tratá-los como expedientes para servir ao ensino das boas maneiras, dos hábitos <strong>de</strong> higiene,<br />

dos <strong>de</strong>veres do cidadão, dos tópicos gramaticais, das receitas <strong>de</strong>sgastadas do “prazer do texto” etc.<br />

Postos <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>scontextualizada, tais procedimentos pouco ou nada contribuem para a formação <strong>de</strong><br />

leitores capazes <strong>de</strong> reconhecer as sutilezas, as particularida<strong>de</strong>s, os sentidos, a extensão e a profundida<strong>de</strong><br />

das construções literárias”.<br />

Uma forma <strong>de</strong> reconhecimento <strong>de</strong>stas “sutilezas”, “particularida<strong>de</strong>s”, “sentidos” e “profundida<strong>de</strong>s” das<br />

construções literárias po<strong>de</strong> ser exemplificada pelo projeto Poema <strong>de</strong> Cada Dia, <strong>de</strong>senvolvido junto à <strong>Escola</strong><br />

Miosótis e à <strong>Escola</strong> da Associação dos Dirigentes Cristãos <strong>de</strong> Empresa, duas organizações não governamentais<br />

que aten<strong>de</strong>m a alunos sem recursos da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Maceió (AL) 2 .<br />

O projeto se propõe a levar diariamente poemas para a sala <strong>de</strong> aula, pois seu pressuposto básico está<br />

na idéia <strong>de</strong> que a formação <strong>de</strong> um leitor competente está vinculada à constante presença <strong>de</strong> textos no contexto<br />

escolar. Esse projeto propõe, particularmente, a formação <strong>de</strong> leitores <strong>de</strong> poemas.<br />

Para tanto, foram selecionados 215 poemas dos mais diversos autores e escolas literárias, po<strong>de</strong>ndo o<br />

professor escolher qual poema gostaria <strong>de</strong> trabalhar com seus alunos. O professor tem, assim, à sua disposição,<br />

poemas para serem simplesmente <strong>de</strong>clamados ou po<strong>de</strong> escolher ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> interpretação mais elaboradas,<br />

já propostas por este material didático.<br />

Nas <strong>de</strong>clamações, professor e aluno po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>clamar 3 uma ou mais vezes um mesmo poema. Um a cada<br />

dia. Estas ativida<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m ocorrer a partir <strong>de</strong> estratégias bastante diversas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> simples leituras e <strong>de</strong>clamações<br />

realizadas pelo professor em algum momento do dia, cujo objetivo resi<strong>de</strong> na própria <strong>de</strong>clamação, que<br />

não toma mais do que alguns minutos da aula, até ativida<strong>de</strong>s mais elaboradas, como ensaios e preparação para<br />

um jogral.<br />

Um poema muitas vezes exige ser <strong>de</strong>clamado ou escutado mais <strong>de</strong> uma vez para que os sentidos comecem<br />

a ser percebidos. Às vezes não se compreen<strong>de</strong> completamente, <strong>de</strong> imediato, o que o poeta quis dizer,<br />

mas isto não impe<strong>de</strong> que se possa apreciar a leitura e, através da leitura e da escuta diversa e significativa, <strong>de</strong><br />

sua musicalida<strong>de</strong> e do efeito causado pelo jogo das palavras, possa-se ir construindo sentidos que inicialmente<br />

estavam escondidos e, por vezes, obscuros.<br />

Dentre os 215 poemas, foram selecionadas e elaboradas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> leitura e interpretação <strong>de</strong> 60<br />

poemas, para que se possa realizar uma análise e discussão mais <strong>de</strong>talhada com relação à “profundida<strong>de</strong> das<br />

construções literá rias presentes nos poemas”, nas quais resi<strong>de</strong>m aliterações, repetições, jogos homonímicos,<br />

homofônicos, metafóricos, o uso do espaço gráfico na construção dos sentidos etc.<br />

Nestas propostas <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s, além dos objetivos, da indicação dos materiais necessários e dos procedimentos<br />

do professor e do aluno, apresento um breve comentário geral acerca <strong>de</strong> alguns sentidos que po<strong>de</strong>m estar<br />

presentes no texto. No entanto, é fundamental levar em conta que, apesar do sentido não po<strong>de</strong>r ser qualquer<br />

um, ele nunca é um só. Ele está sempre aberto a outras interpretações. Por isso, o professor <strong>de</strong>ve estar atento<br />

às discussões suscitadas pelo poema, pois po<strong>de</strong>m emergir daí sentidos outros.<br />

1 O livro O Texto poético: leitura na escola (Maceió: Ed. Ufal, 2001), da pesquisadora Ângela Maria dos Santos Maia, mostra com clareza como é,<br />

equivocadamente, valorado pelos livros didáticos este gênero discursivo.<br />

2 Este projeto, por mim elaborado e coor<strong>de</strong>nado, po<strong>de</strong> ser melhor conhecido no site www.cedu.ufal.br. O download é gratuito.<br />

3 Cabe <strong>de</strong>stacar que a <strong>de</strong>clamação (leitura em voz alta, que preserva as características rítmicas, melódicas, entoantes que este gênero exige) é um<br />

elemento fundamental na construção dos sentidos do poema. A leitura linear e não expressiva “mata” o poema. Costumo dizer que um poema só<br />

existe quando é lido em voz alta.<br />

*Esse texto se integra ao boletim da série “Varal <strong>de</strong> textos”, abril/2002.<br />

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