Práticas de Leitura e Escrita - TV Escola
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Vistos assim, o <strong>de</strong>senvolvimento ou a aprendizagem são sempre um processo <strong>de</strong> apropriação das experiências<br />
acumuladas pela socieda<strong>de</strong> no curso <strong>de</strong> sua história (práticas sociais e ativida<strong>de</strong>s). A apropriação é, por sua vez, um<br />
processo <strong>de</strong> aprendizagem que conduz à interiorização <strong>de</strong> uma prática social.<br />
Assim é que os referenciais enfocam o ensino escolar da língua materna como um processo <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong><br />
da apropriação <strong>de</strong> práticas sociais em circulação em espaços públicos e formais. E estas práticas sociais circulam na<br />
forma <strong>de</strong> textos orais ou escritos.<br />
1.3.2. Textos (enunciados) e gêneros<br />
Já há uma tradição estabelecida na reflexão sobre o ensino <strong>de</strong> Língua Portuguesa na escola, segundo a qual, a<br />
unida<strong>de</strong> mais relevante <strong>de</strong> ensino é o texto, que não se <strong>de</strong>ve dar como pretexto para outras ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino sobre<br />
a língua ou sobre a escrita (alfabetização, ‘ortografização’), mas que se constitui em objeto <strong>de</strong> estudo, por si mesmo.<br />
Mas os novos referenciais inovam também na <strong>de</strong>finição do que <strong>de</strong>verá ser estudado com respeito aos textos:<br />
“Ainda que a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalho seja o texto, é necessário que se possa dispor tanto <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>scrição dos elementos<br />
regulares e constitutivos do gênero, quanto das particularida<strong>de</strong>s do texto selecionado (...)” (PCN, p. 48).<br />
“Os textos se organizam sempre <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> certas restrições <strong>de</strong> natureza temática, ‘composicional’ e estilística,<br />
que os caracterizam como pertencentes a esse ou aquele gênero. Desse modo, a noção <strong>de</strong> gênero,<br />
constitutiva do texto, precisa ser tomada como objeto <strong>de</strong> ensino” (PCN, p. 23).<br />
Ou seja, para além <strong>de</strong> se estudar o texto em suas proprieda<strong>de</strong>s formais e estilísticas particulares, o texto é<br />
visto como um exemplar <strong>de</strong> gênero do discurso e é por meio da exploração das proprieda<strong>de</strong>s temáticas, formais<br />
e estilísticas comuns e recorrentes num conjunto <strong>de</strong> textos pertencentes a um certo gênero que se po<strong>de</strong> chegar à<br />
apropriação <strong>de</strong>stas formas estáveis <strong>de</strong> enunciado.<br />
Os gêneros po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>rados como instrumentos que fundam a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicação<br />
(Schneuwly & Dolz, 1997; Dolz & Schneuwly, 1996). Trata-se <strong>de</strong> formas relativamente estáveis, tomadas pelos enunciados<br />
em situações habituais, entida<strong>de</strong>s culturais intermediárias que permitem estabilizar os elementos formais e rituais<br />
das práticas <strong>de</strong> linguagem.<br />
Assim, os gêneros, como formas historicamente cristalizadas nas práticas sociais, fazem a mediação entre a<br />
prática social, ela própria e as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> linguagem dos indivíduos. Os locutores sempre reconhecem um evento<br />
comunicativo, uma prática <strong>de</strong> linguagem, como instância <strong>de</strong> um gênero (a ação <strong>de</strong> telefonar como um telefonema,<br />
a ação <strong>de</strong> ensinar na escola como uma aula, a ação <strong>de</strong> escrever um texto como este para um programa <strong>de</strong> formação<br />
<strong>de</strong> professores como um artigo <strong>de</strong> divulgação e assim por diante). O gênero funciona, então, como um mo<strong>de</strong>lo comum,<br />
como uma representação integrante que <strong>de</strong>termina um horizonte <strong>de</strong> expectativas para os membros <strong>de</strong> uma<br />
comunida<strong>de</strong> confrontados às mesmas práticas <strong>de</strong> linguagem. Os gêneros, portanto, interme<strong>de</strong>iam e integram as<br />
práticas às ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> linguagem. São referências fundamentais para a construção <strong>de</strong>ssas práticas. Como tal, do<br />
ponto <strong>de</strong> vista da aprendizagem escolar, os gêneros po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>rados como ‘megainstrumentos’ (Schneuwly,<br />
1994) que fornecem suporte para as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> linguagem nas situações <strong>de</strong> comunicação e que funcionam como<br />
referências para os aprendizes.<br />
Para Bakhtin (1953/1979), os gêneros do discurso apresentam três dimensões essenciais e indissociáveis:<br />
• os temas – conteúdos i<strong>de</strong>ologicamente conformados – que se tornam comunicáveis (dizíveis) através do<br />
gênero;<br />
• os elementos das estruturas comunicativas e semióticas compartilhadas pelos textos pertencentes ao gênero<br />
(forma <strong>de</strong> composição); e<br />
• as configurações específicas das unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> linguagem, traços da posição enunciativa do locutor e da<br />
forma <strong>de</strong> composição do gênero (marcas<br />
lingüísticas ou estilo).<br />
Todas estas três dimensões dos gêneros<br />
discursivos são <strong>de</strong>terminadas pelos parâmetros<br />
do contexto <strong>de</strong> fala/escrita ou da situação <strong>de</strong> produção<br />
dos enunciados e, sobretudo, para Volochínov<br />
(1929), pela apreciação valorativa do locutor<br />
a respeito do(s) tema(s) e do(s) interlocutor(es)<br />
<strong>de</strong> seu discurso.<br />
26 Salto para o Futuro