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Práticas de Leitura e Escrita - TV Escola

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que justificou e garantiu a continuida<strong>de</strong> do grupo dominante no po<strong>de</strong>r, através da educação diferenciada. Mas o i<strong>de</strong>al <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>mocracia que permeia nosso sistema, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da condição <strong>de</strong> classe, gênero ou etnia fez com que se instalassem<br />

contradições. A partir daí, recorremos à reflexão teórica, ao pensamento acadêmico e à investigação sistemática para explicar<br />

essas mesmas contradições, respon<strong>de</strong>ndo sempre que possível ao <strong>de</strong>safio proposto, como forma <strong>de</strong> resolução do conflito.<br />

3.5.2. A escola e a pluralida<strong>de</strong> cultural<br />

A história da socieda<strong>de</strong> brasileira é marcada pela diversida<strong>de</strong> cultural. Encontramos aqui, diferentes características regionais<br />

e diferentes manifestações <strong>de</strong> cosmologias que or<strong>de</strong>nam <strong>de</strong> maneira diferenciada a apreensão do mundo. Encontramos também<br />

formas diferentes <strong>de</strong> organização social nos diferentes grupos e regiões, uma multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> relações com a natureza, <strong>de</strong> vivência<br />

do sagrado e <strong>de</strong> sua relação com o profano. O espaço rural e o espaço urbano propiciam às suas populações vivências e respostas<br />

culturais muito diferenciadas que implicam ritmos <strong>de</strong> vida, ensinamentos <strong>de</strong> valores e formas <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> distintas. A migração<br />

interna faz com que grupos sociais com diferenças <strong>de</strong> fala, <strong>de</strong> costumes, <strong>de</strong> valores e <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> vida se inter-relacionem,<br />

principalmente, na escola em que essa diversida<strong>de</strong> cultural esteja presente e tenha sido ignorada, silenciada ou minimizada.<br />

Assim, quando pomos em discussão a pluralida<strong>de</strong> cultural, po<strong>de</strong>mos também acoplar o tema da educação diferenciada,<br />

começando por reconhecer a existência <strong>de</strong> padrões <strong>de</strong> socialização base s em estereótipos sexuais que <strong>de</strong>terminam,<br />

“a priori”, o lugar da menina e o do menino na escola, e por extensão, mais tar<strong>de</strong>, na socieda<strong>de</strong>. Esses estereótipos são tão<br />

bem urdidos, que são absorvidos, na maioria dos casos, como algo “natural” e “normal” através da escola.<br />

A escola pública, já citada como espaço privilegiado da vivência <strong>de</strong>mocrática e <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento do potencial criador<br />

<strong>de</strong> seus alunos, contribuirá para a discussão e a vivência da pluralida<strong>de</strong> cultural, na medida em que, entre outras estratégias e metodologias,<br />

consegue <strong>de</strong>mocratizar o acesso ao livro <strong>de</strong> literatura <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, formando professores e alunos leitores críticos.<br />

A literatura, como arte da palavra, nos põe diante da complexida<strong>de</strong> da vida, nos apresenta possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> repensarmos<br />

o real, o cotidiano, <strong>de</strong> reinventarmos a própria vida ou até mesmo enten<strong>de</strong>r sua multiplicida<strong>de</strong>.<br />

3.5.3. Que livros oferecer à criança e ao jovem?<br />

Precisamos ter alguns cuidados ao selecionarmos os livros que vamos oferecer às crianças e aos jovens, pois não existe<br />

obra cultural inocente, todas estão carregadas <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada visão <strong>de</strong> mundo, a do autor. Para não ficarmos enredados<br />

na concepção <strong>de</strong> mundo dos outros, e por ela não sermos manipulados, precisamos <strong>de</strong>senvolver uma leitura crítica.<br />

Escolhendo bons livros e oferecendo ao mesmo tempo uma gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> e diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong>les ao aluno, faremos com que um<br />

texto discor<strong>de</strong> do outro, o conteste e sugira outras alternativas. É importante a leitura <strong>de</strong> livros variados, <strong>de</strong> culturas e opiniões diversas,<br />

com visões <strong>de</strong> mundo diferentes umas das outras, <strong>de</strong> modo que a leitura <strong>de</strong> um texto dialogue permanentemente com a dos outros.<br />

Assim, cada leitor irá se enriquecendo e a socieda<strong>de</strong> irá tecendo sua pluralida<strong>de</strong>. Se concordamos com estes pressupostos e queremos<br />

montar ou revigorar uma biblioteca, teremos como subsídios para esse acervo, livros <strong>de</strong> imagens, clássicos da literatura infanto-juvenil<br />

- Grimm , An<strong>de</strong>rsen, Perrault, entre outros, a obra <strong>de</strong> Monteiro Lobato, além <strong>de</strong> poesias, livros informativos, dicionários, enciclopédias<br />

e, principalmente, autores que façam parte da mo<strong>de</strong>rna literatura infanto-juvenil, assim como jornais e revistas. A varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

autores e materiais <strong>de</strong> leitura fará da biblioteca um lugar <strong>de</strong>stinado à leitura <strong>de</strong> textos literários e um pólo <strong>de</strong> discussão da pluralida<strong>de</strong><br />

cultural, através <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s como <strong>de</strong>bates <strong>de</strong> textos e livros lidos, entrevistas, conversas com autores e outros profissionais.<br />

Ressaltamos, assim, autores da mo<strong>de</strong>rna literatura infanto-juvenil que trabalham com a <strong>de</strong>sconstrução <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los clássicos,<br />

tradicionais, ou que fazem <strong>de</strong>núncias <strong>de</strong> algum tipo <strong>de</strong> opressão, que promovem rupturas com o discurso dominante, <strong>de</strong> forma<br />

radical ou não. Nesta perspectiva, po<strong>de</strong>mos citar “A fada que tinha idéias”, <strong>de</strong> Fernanda Lopes <strong>de</strong> Almeida, em que aparece uma<br />

proposta <strong>de</strong> reforma <strong>de</strong> estrutura familiar. “A curiosida<strong>de</strong> premiada”, também <strong>de</strong> Fernanda Lopes <strong>de</strong> Almeida, que apresenta uma<br />

personagem feminina curiosa, questionadora, que tenta obter respostas para todas as suas perguntas. “Maria-vai-com-as-outras”,<br />

<strong>de</strong> Sylvia Orthof, que mostra a ovelha Maria, que só ia aon<strong>de</strong> as outras iam e que sofria as conseqüências <strong>de</strong> não pensar por si<br />

mesma, <strong>de</strong> não ter criticida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> não refletir e tirar conclusões. “Era uma vez duas avós”, <strong>de</strong> Naumim Aizem e Patrícia Gwinner,<br />

que apresenta diferenças entre duas avós, com modos distintos <strong>de</strong> encarar a vida e como se po<strong>de</strong> tirar proveito da convivência<br />

com pessoas que pensam e agem diferente <strong>de</strong> nós (temos aí uma das facetas da riqueza da complexida<strong>de</strong> humana). “Mudanças<br />

no galinheiro mudam as coisas por inteiro”, <strong>de</strong> Sylvia Orthof, que relata a história <strong>de</strong> uma galinha que resolveu cantar <strong>de</strong> galo e,<br />

<strong>de</strong>ssa forma, promove gran<strong>de</strong>s mudanças em seu núcleo familiar. “Faca sem ponta, galinha sem pé”, <strong>de</strong> Ruth Rocha. Nessa obra,<br />

a autora conta a história <strong>de</strong> dois irmãos (um menino e uma menina), que recebiam uma educação diferenciada, o que leva a sérios<br />

atritos entre eles. Em “O Soldado que não era”, Joel Rufino dos Santos nos traz a saga <strong>de</strong> Maria Quitéria, <strong>de</strong> forma muito rica e<br />

interessante, proporcionando uma boa discussão sobre preconceitos. Neste sentido, vários textos <strong>de</strong> Ana Maria Machado e Lygia<br />

Bojunga são revolucionários. Em “Angélica e a bolsa amarela”, Lygia coloca a menina no interior do grupo familiar, questionando,<br />

refletindo, buscando reverter situações incômodas. Angélica nega a mentira sobre a qual se apóia a celebrida<strong>de</strong> da família das<br />

cegonhas. Raquel, dona da bolsa amarela, sente o peso <strong>de</strong> ser criança e menina e suas vonta<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ser menino, adulto e escritor<br />

crescem <strong>de</strong>ntro da bolsa amarela. Maria, personagem <strong>de</strong> “A corda bamba”, apresenta uma autêntica emancipação. Em “Tchau!”,<br />

encontramos a coragem enorme da mãe que larga a família para viver uma gran<strong>de</strong> e maravilhosa paixão e para realizar seus<br />

<strong>de</strong>sejos. A filha questiona a <strong>de</strong>sagregação da família e se sente dividida entre o pai e a mãe. Lygia faz uma ruptura com o mo<strong>de</strong>lo<br />

<strong>de</strong> mulher adulta e <strong>de</strong> comportamentos tradicionais, fazendo também uma crítica à filha que não enten<strong>de</strong> a reação da mãe. Lygia<br />

consegue assim, com esta pluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pontos <strong>de</strong> vista, dialogar com as múltiplas linguagens sociais.<br />

Ana Maria Machado, em muitas <strong>de</strong> suas obras, nos presenteia com protagonistas que assumem atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> rebeldia<br />

ante a passivida<strong>de</strong> reinante, que buscam mudanças e alcançam seus objetivos, juntando-se a outros, agindo com solidarieda<strong>de</strong><br />

110 Salto para o Futuro

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