Práticas de Leitura e Escrita - TV Escola
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6<br />
On<strong>de</strong> andas vaga-lume<br />
Que iluminas minha noite<br />
Nem sempre alegre<br />
7<br />
Um gran<strong>de</strong> medo<br />
É como se <strong>de</strong>sculpam<br />
Seres medíocres<br />
Observamos que o “Hai-kai” número 3 foi construído com a métrica japonesa: 5, 7, 5 versos, o que não<br />
ocorre com os <strong>de</strong>mais. Mas o que vale mesmo é brincar com o ritmo e as formações poéticas breves e instantâneas<br />
que subvertem o sentido das palavras. Vamos escandir o terceiro “Hai-kai”, lembrando que a última sílaba métrica<br />
<strong>de</strong> cada verso é sempre a última sílaba tônica da palavra.<br />
1 2 3 4 5<br />
A/ vi / da/ su / pri / me<br />
1 2 3 4 5 6 7<br />
o / sol / a / vi / da/ dis/ pa / ra<br />
1 2 3 4 5<br />
a/ pu/ ra i / lu / são<br />
Esses jogos e brinca<strong>de</strong>iras com as palavras, que envolvem a leitura sistemática <strong>de</strong> textos, aos poucos, po<strong>de</strong>m<br />
se transformar em outras práticas também interessantes, como, por exemplo, as <strong>de</strong> <strong>de</strong>clamar textos poéticos nos<br />
diferentes espaços da escola. Dizer textos na escola, não somente na sala <strong>de</strong> aula, socializa o processo da escrita <strong>de</strong><br />
maneira mais imediata e faz que a criança possa atingir, mais efetivamente, o sentido do texto. Esta prática também faz<br />
com que as funções da comunicação sejam amplamente possibilitadas. A comunicação do texto poético redimensiona<br />
a comunicação cotidiana da linguagem, faz com que as interlocuções educativas sejam revigoradas, refeitas, sejam<br />
restauradas em nome <strong>de</strong> uma atitu<strong>de</strong> menos funcionalista, menos mecânica do ato <strong>de</strong> educar. Afinal, falar o texto,<br />
dizer o texto é agir. E, assim pensando, como uma ação sobre a língua po<strong>de</strong>rá produzir uma ação sobre o fazer?<br />
Essa função socializadora da comunicação poética no espaço escolar po<strong>de</strong>rá possibilitar um novo tipo <strong>de</strong><br />
“escuta” sensível. Uma vez abandonada <strong>de</strong>ntro do circuito escolar, cada vez mais, a poesia acaba ce<strong>de</strong>ndo espaço à<br />
linguagem predominantemente conceitual do aprendizado. Tal linguagem suscita um tipo <strong>de</strong> escuta que exclui o<br />
sentido, a experiência subjetiva com a palavra e a expressão individual do sujeito.<br />
Assim, <strong>de</strong>slocando-se do espaço da sala <strong>de</strong> aula, muitas experiências <strong>de</strong> <strong>de</strong>clamação <strong>de</strong> textos poéticos<br />
nasceram em diferentes espaços como: a sala <strong>de</strong> professores, a secretaria, a cozinha, o refeitório, os corredores, os<br />
laboratórios, o almoxarifado, e até os microfones da secretaria, on<strong>de</strong> recados e chamados eram feitos durante todo<br />
o dia. E, a cada sessão <strong>de</strong> <strong>de</strong>clamação feita pelos alunos, outros <strong>de</strong>clamadores, como funcionários, pais, professores,<br />
iam-se agregando à proposta e se tornando também <strong>de</strong>clamadores. Alguns grupos ainda permanecem, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />
muitos anos, <strong>de</strong>clamando poesias em eventos e comemorações culturais pelas escolas e espaços <strong>de</strong> cultura. Essa foi<br />
uma experiência também <strong>de</strong>senvolvida em uma escola pública.<br />
Criamos primeiro, o que chamamos <strong>de</strong> Espaço Poético. Começamos, então, selecionando os textos a serem<br />
<strong>de</strong>clamados. Uma gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> textos <strong>de</strong> poetas brasileiros foi selecionada pelos próprios alunos na biblioteca<br />
da escola: Manuel Ban<strong>de</strong>ira, Carlos Drummond <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, Fernando Pessoa, Cecília Meireles, Mário Quintana,<br />
Vinícius <strong>de</strong> Moraes, Adélia Prado, Castro Alves, Paulo Leminski, Casimiro <strong>de</strong> Abreu, Junqueira Freire, Fagun<strong>de</strong>s<br />
Varela, Laurindo Rabelo. Poetas russos como Maiakovski e poetas da Língua Inglesa do século XIX como Edgar<br />
Alan Poe, Edward Lear, Walt Whitman, Emily Dickinson, Lewis Carrol e tantos outros.<br />
Para o público infantil e juvenil, vários textos foram também selecionados pelos alunos: Arnaldo Antunes,<br />
Luis Tatit, Elza Beatriz, Ricardo Azevedo, Manuel Ban<strong>de</strong>ira, Antônio Barreto, Tatiana Belinky, Luis Camargo, Sérgio<br />
Caparelli, Marina Colasanti, Cecília Meireles, Henriqueta Lisboa, Roseana Murray, Fernando Pessoa, Ferreira Gullar,<br />
José Paulo Paes, enfim, foi selecionada uma infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> poetas e escritores.<br />
Feita a seleção, passamos à leitura <strong>de</strong>sses textos. À medida que iam sendo lidos, os alunos se familiarizavam com<br />
eles – pelo tema, pela melodia, pelo ritmo, ou pela força das palavras, que exigia uma fala mais expressiva, mais gestual,<br />
ou pelo romantismo <strong>de</strong> alguns textos, ou, ainda, pelo fato <strong>de</strong> o texto escolhido apelar mais para atenção do ouvinte,<br />
chamar o ouvinte a um diálogo. Enfim, as razões da escolha iam <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o interesse pelos temas propriamente ditos até<br />
a relação afetiva emissor/texto, que, muitas vezes, tornava a fala quase que uma conversa, um diálogo com o ouvinte.<br />
Um grupo <strong>de</strong> alunos optou por ler poemas infantis e também contar histórias para as crianças das séries<br />
iniciais. Alunos <strong>de</strong> 8ª série contavam histórias e <strong>de</strong>clamavam poemas na pré-escola e na 1ª, 2ª e 3ª séries. Assim,<br />
o gosto pela leitura <strong>de</strong> poemas e narrativas infantis foi crescendo. Outras interlocuções iam sendo criadas:<br />
alunos <strong>de</strong> 7ª série <strong>de</strong>clamavam para os alunos <strong>de</strong> 8ª; esses <strong>de</strong>clamavam para as cozinheiras, para os professores,<br />
secretárias e funcionários. Então, foi-se formando <strong>de</strong>ntro da escola, uma gran<strong>de</strong> re<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>clamadores.<br />
144 Salto para o Futuro