19.04.2013 Views

projetos de rearranjos sociais: escravos, índios e negociantes nos ...

projetos de rearranjos sociais: escravos, índios e negociantes nos ...

projetos de rearranjos sociais: escravos, índios e negociantes nos ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

prática. Os Estatutos vigeram até 1836, quando sofreram reorganização por iniciativa do<br />

bispo D. João Perdigão<br />

3. O resgate <strong>de</strong> <strong>escravos</strong> segundo Azeredo Coutinho<br />

Em Análise sobre a Justiça do Comércio do Resgate dos Escravos da Costa da África,<br />

Azeredo Coutinho opõe-se à concepção, que atribui advir dos filósofos ilustrados do século<br />

XVIII, <strong>de</strong> os homens viverem em socieda<strong>de</strong> sob a observância <strong>de</strong> pactos. Tais pactos<br />

regulamentariam as relações entre os homens, visto serem estes mais propensos a<br />

<strong>de</strong>svincularem-se cedo dos laços familiares e a não manterem laços permanentes. Para<br />

Coutinho, <strong>de</strong>ve-se, ao inverso, enten<strong>de</strong>r o homem como voltado para as relações <strong>sociais</strong>. O<br />

homem, por conseguinte, não é um fim em si, mas sua primeira necessida<strong>de</strong> é a existência na<br />

socieda<strong>de</strong>; bem como foi criado para a gran<strong>de</strong>za, para sustentar-se e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r-se e sua vida é<br />

possível na vida social, <strong>de</strong> modo a ocorrer natural aproximação entre os homens.<br />

A natureza criadora formou, pois, <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s. A multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> indivíduos,<br />

sendo passível <strong>de</strong> instaurar a confusão e a <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m <strong>de</strong>vido aos interesses conflitantes que<br />

po<strong>de</strong> ocasionar a <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> toda socieda<strong>de</strong>, impeliu o estabelecimento <strong>de</strong> uma lei geral,<br />

emanada da lei criadora dos homens. Esta lei, segundo Coutinho, não ocorre pelo milagre,<br />

mas pela aplicação humana. Po<strong>de</strong>-se enten<strong>de</strong>r esta lei geral como o costume que aufere<br />

penetrar e perpassar no tempo uma socieda<strong>de</strong>. É <strong>de</strong>sta lei geral que se inferem os <strong>de</strong>mais<br />

princípios, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o âmbito familiar à coletivida<strong>de</strong>. Assim, para Coutinho, os direitos do<br />

homem são posteriores à socieda<strong>de</strong>. Esta argumentação recai na contestação aos pactos, visto<br />

estes conceberem os direitos do homem como anteriores à socieda<strong>de</strong>. A partir da Lei natural<br />

formam-se as leis humanas, as quais não são estanques, mas moldam-se às circunstâncias<br />

<strong>sociais</strong> e temporais.<br />

A <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> natureza em Coutinho admite, portanto, a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> e ao lado <strong>de</strong>sta,<br />

como forma <strong>de</strong> equilíbrios aos possíveis confrontos entre indivíduos <strong>de</strong> naturais<br />

<strong>de</strong>ssemelhanças e por isso <strong>de</strong>siguais, há as leis e os governantes. Defen<strong>de</strong>-se, nessa<br />

argumentação, a “lei do vencedor” e o direito <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>, por exemplo, como condições<br />

para a vigência <strong>de</strong> um “bem” concernente à totalida<strong>de</strong> da socieda<strong>de</strong>. Nesse processo <strong>de</strong> auferir<br />

benefícios para a socieda<strong>de</strong> e consi<strong>de</strong>rando nas circunstâncias e necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada<br />

socieda<strong>de</strong>, para Azeredo Coutinho a escravidão também po<strong>de</strong>ria apresentar-se<br />

especificamente como um bem social ou nacional. Forças ou interesses no texto do bispo<br />

presentes <strong>de</strong> formas dicotômicas (a lei o vencedor como legítima para sobrepujar interesses da<br />

<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m social) afiguram-se como a <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> o vencido sujeitar-se ao vencedor, pois<br />

18

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!