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projetos de rearranjos sociais: escravos, índios e negociantes nos ...

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oportunamente estas são proscritas ao passado, criando-se uma antropologia da <strong>de</strong>fesa<br />

vigilante dos costumes civilizados e da proscrição das diferenças. A exemplo dos membros do<br />

IGHB, a etnografia <strong>de</strong> Vieira dos Santos pauta-se pela imputação do estado <strong>de</strong> natureza e, por<br />

conseguinte, das limitações sócio-culturais indígenas. Mas, se entre os historiadores<br />

congregados naquela instituição notou-se o projeto da integração do índio na socieda<strong>de</strong><br />

civilizada, submetendo-o, contudo, aos contatos <strong>de</strong>siguais a partir da inclusão hierárquica, em<br />

Viera dos Santos, apesar <strong>de</strong> afirmar que os civilizados da socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Paranaguá integraram<br />

os indígenas, é uma consi<strong>de</strong>ração minoritária e mesmo obscura; sendo um argumento que<br />

reafirma, ao mesmo tempo, um projeto <strong>de</strong> História e um projeto <strong>de</strong> perpetuação – pelo valor<br />

do documento escrito – da trajetória civilizadora da elite local.<br />

9.4 Referências aos <strong>escravos</strong> na Memória Histórica <strong>de</strong> Paranaguá<br />

As escassas menções aos <strong>escravos</strong> na narrativa <strong>de</strong> Vieira dos Santos apresentam-se<br />

vinculadas ora às querelas <strong>de</strong> interesses comerciais marítimos, sendo a concepção sobre os<br />

<strong>escravos</strong> construída como disciplinados servidores dos principais <strong>negociantes</strong> locais, ora<br />

como revoltosos cuja <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> castigos e intensificação da vigilância miliciana é uma<br />

<strong>de</strong>corrência naturalizada, conforme os trechos, ambos datados <strong>de</strong> 1825. 80<br />

Em <strong>de</strong>z <strong>de</strong> novembro foram tomadas as sumacas Menália e Aurora por um corsário pirata <strong>de</strong> Lavalleja<br />

pertencente a proprietários <strong>de</strong> Paranaguá em os quais puseram em cada um pequenas guarnições a conduzi-las<br />

aon<strong>de</strong> as <strong>de</strong>stinava o comandante do pirata; mas aconteceu no dia onze <strong>de</strong> noite seguinte ao da sua tomada que<br />

uns <strong>escravos</strong> cativos do Capitão-mor Manoel Antonio Pereira e <strong>de</strong> Leandro José da Costa que a bordo da sumaca<br />

Aurora vinha, empreen<strong>de</strong>ram a heróica resolução <strong>de</strong> retomarem a sumaca; o que puseram em execução matando<br />

com um machado o homem que estava no governo do leme; e o oficial <strong>de</strong> vigia o lançaram ao mar enquanto<br />

outros ao mesmo tempo fechando repentinamente a escotilha, encerraram os que estavam no porão da sumaca; e<br />

dirigindo esta ao porto da barra <strong>de</strong> Paranaguá entraram no dia <strong>de</strong>zenove do mesmo mês a salvamento triunfantes<br />

<strong>de</strong> uma tal ação, com gran<strong>de</strong> contentamento e admiração <strong>de</strong> todos, por salvar não só a embarcação, como<br />

gran<strong>de</strong>s somas <strong>de</strong> fazendas que do Rio <strong>de</strong> Janeiro conduzia para diversos <strong>negociantes</strong>. O governo <strong>de</strong> S.<br />

Majesta<strong>de</strong> sendo sabedor <strong>de</strong> tais feitos por or<strong>de</strong>m do mesmo augusto Senhor, houve por bem mandar que seus<br />

senhores lhes <strong>de</strong>ssem suas cartas <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> e or<strong>de</strong>nou que fossem à sua presença 81 .<br />

À ação dos cativos benéficas a proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> dois <strong>negociantes</strong> <strong>de</strong> Paranaguá, os<br />

maiores proprietários <strong>de</strong> <strong>escravos</strong> naquele contexto, suce<strong>de</strong>-se a contra-dádiva <strong>de</strong>flagrada pela<br />

legitimida<strong>de</strong> imperial. Os <strong>escravos</strong>, contudo, não têm seus nomes mencionados e a memória<br />

que lhes imputou Viera dos Santos forja-se, ainda, da contraposição entre o inimigo pirata e a<br />

elite local, cujas ativida<strong>de</strong>s mercantis foram por um evento protegias por homens cuja mão-<br />

<strong>de</strong>-obra encontrava-se monopolizada. Uma interpretação pela perspectiva dinâmica das<br />

80 SANTOS, Antonio Vieira dos, Op. Cit., pp. 383-384.<br />

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