projetos de rearranjos sociais: escravos, índios e negociantes nos ...
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<strong>de</strong> sacrifícios em favor do bem comum” 56 . Ao lado <strong>de</strong>sses três autores, Samuel Guimarães<br />
Costa, era trineto do Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Nácar e em sua obra acerca do capitão-mor Manoel Antonio<br />
Pereira traça re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cruzamento genealógicos na qual confluem as famílias Leão, Negrão,<br />
Guimarães e Costa. Nesse sentido, i<strong>de</strong>ntificar as trajetórias dos historiadores paranaenses é<br />
um auxílio para repensar tanto a utilização <strong>de</strong> uma fonte, no caso Antonio Vieira dos Santos,<br />
como as concepções <strong>de</strong> história e valores <strong>sociais</strong> subjacentes a um ritmo textual <strong>de</strong>scritivo.<br />
Antes, permite-se, para além <strong>de</strong> relacionar as produções historiográficas dos autores acima<br />
<strong>de</strong>tentores <strong>de</strong> estritos laços <strong>de</strong> parentesco, observar as permanência da concepção<br />
nobiliárquica <strong>de</strong> História, no caso do Paraná, na segunda meta<strong>de</strong> do século XX por David<br />
Carneiro, autor da Nobiliarquia Paranaense, publicada em 1952 pelo Centro <strong>de</strong> Letras do<br />
Paraná. Conforme a passagem abaixo, observa-se em Ermelino <strong>de</strong> Leão a conceituação <strong>de</strong><br />
Vieira dos Santos como Pai da História do Paraná:<br />
Portuense, notável cronista e polígrafo que muitos assinalados serviços prestou à História do Paraná. Depois <strong>de</strong><br />
freqüentar escola <strong>de</strong> primeiras letras no torrão natal, aos oito a<strong>nos</strong> <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> transferiu-se para o Brasil, vindo<br />
estabelecer-se em Paranaguá, on<strong>de</strong> se tornou auxiliar do comercio. O caixeirinho procurou, porém, ilustrar o seu<br />
espirito ao mesmo tempo em que buscava firmar uma posição social que lhe permitisse celebrar a realização dos<br />
seus <strong>projetos</strong>. Espírito investigador, amante do passado e cultor das ciências, principalmente da medicina e da<br />
astrologia, Vieira dos Santos não perdia os momentos <strong>de</strong> lazer. Jovem ainda, constituiu família, <strong>de</strong>sposando em<br />
Morretes, on<strong>de</strong> se fixara residência, a Dona Maria Ferreira <strong>de</strong> Oliveira, filha do Tenente João Ferreira <strong>de</strong><br />
Oliveira e <strong>de</strong> Dona Anna Gonçalves Cor<strong>de</strong>iro, por esta neta <strong>de</strong> Raymundo José Senabio e <strong>de</strong> D. Euphrosina da<br />
Silva Freire, a velha. No comércio, on<strong>de</strong> exercitava a sua ativida<strong>de</strong>, gozou durante algum tempo <strong>de</strong> uma<br />
situação auspiciosa. Conta ele que fora quem conce<strong>de</strong>ra crédito para o seu concunhado Comendador José <strong>de</strong><br />
Araújo fazer os primeiros suprimentos para o seu negócio; entretanto, enquanto a fortuna sorria para esse, lhe era<br />
me<strong>nos</strong> propicia. Não se limitou à busca, no revolver dos alfarrábios do arquivo <strong>de</strong> Paranaguá, para compor as<br />
Memórias históricas <strong>de</strong> <strong>de</strong>scritivas da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Paranaguá, que escreveu em dois grossos volumes, procurando<br />
aformosea-los com arabescos e <strong>de</strong>senhos, que aliás não revelavam Gosto artístico: ouviu os antigos, colheu da<br />
tradição, o que era corrente, aproveitando-se da excelente memória da avó <strong>de</strong> sua esposa, D. Euphrosina. Nesses<br />
trabalho que se po<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar a obra capital <strong>de</strong> Vieira dos Santos se verifica eu compulsou os cronistas e<br />
historiadores da época. Não era um estilista: faltava-lhe mesmo o conhecimento das normas gramaticais, da<br />
disciplina da língua. Entretanto, apesar <strong>de</strong> lutar com essa dificulda<strong>de</strong>, era o primeiro a reconhecer, <strong>de</strong>ixou ao que<br />
se sabe, nada me<strong>nos</strong> <strong>de</strong> 18 códices <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> formato manuscritos. Conhecemos <strong>de</strong> Antonio Vieira dos Santos os<br />
seguintes trabalhos: - Memórias históricas e <strong>de</strong>scritivas <strong>de</strong> Paranaguá e seu município em 2 volumes; - Memórias<br />
históricas e <strong>de</strong>scritivas <strong>de</strong> Morretes e do Porto Real, vulgarmente chamado Porto <strong>de</strong> Cima , em 2 volumes; -<br />
Genealogia da ilustre família Silva Freire – Rodrigues França; - Correspondência epistolar 2 códices. Além<br />
<strong>de</strong>ssas obras, sabemos que tinha escrito um trabalho <strong>de</strong> astrologia, ciência que também cultivava. Conhecemos<br />
as cartas astrológicas com as sinas <strong>de</strong> seu pai e <strong>de</strong> suas irmãs, que são curiosos <strong>de</strong>poimentos da sua cultura. Era<br />
maçom. Conquanto fosse português <strong>de</strong> nascimento, tomou posição <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque no partido brasileiro da comarca<br />
<strong>de</strong> Paranaguá e Curitiba, promovendo em Morretes curiosa festivida<strong>de</strong> cívica, celebrando a coroação do<br />
Imperador Pedro I. O seu continuo estudo: a freqüência com que procurava traduzir os garranchos quase<br />
in<strong>de</strong>cifráveis dos velhos livros da câmara <strong>de</strong> Paranaguá, foi enfraquecendo o órgão visual a ponto <strong>de</strong> torná-lo<br />
cego. São estes os ligeiros apontamentos que <strong>de</strong> memória traçamos aqui, visto não termos encontrado, no<br />
momento, quer os <strong>nos</strong>sos dados, quer os <strong>de</strong> Francisco Negrão sobre a fecunda vida do Pai da História<br />
Paranaense 57<br />
56<br />
CARNEIRO, David. Galeria <strong>de</strong> Ontem e <strong>de</strong> Hoje. Curitiba : Vanguarda, 1963, p. 90.<br />
57<br />
LEÃO, Ermelino <strong>de</strong>. Dicionário Histórico e Geográfico do Paraná. Curitiba : Gráfica Paranaense, 1929, vol.<br />
1, p. 117.<br />
58<br />
Ver: VEIRA, Carlos Eduardo (Org.) . Intelectuais, educação e mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> no Paraná (1886-1964).<br />
Curitiba: Editora da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná, 2007.<br />
59