projetos de rearranjos sociais: escravos, índios e negociantes nos ...
projetos de rearranjos sociais: escravos, índios e negociantes nos ...
projetos de rearranjos sociais: escravos, índios e negociantes nos ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
<strong>de</strong> alguma comunida<strong>de</strong>, isto é, cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> povoação pequena ou gran<strong>de</strong> e portanto <strong>de</strong>vem já ser consi<strong>de</strong>rados<br />
como cidadãos, tendo direitos a guardar e <strong>de</strong>veres a cumprir 30 .<br />
Nesse sentido, a aproximação entre La Rochefoucauld e Silva Lisboa, na tese <strong>de</strong><br />
Monteiro, recai na verificação da prevalência, na obra do primeiro, pela exposição sobre as<br />
paixões e condutas humanas como dados inerentes às socieda<strong>de</strong>s; sendo no segundo autor a<br />
<strong>de</strong>bilida<strong>de</strong> dos costumes, conforme os indícios valorativos do Viscon<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>r-se-ia sofrer<br />
alterações e <strong>projetos</strong> <strong>de</strong> âmbitos morais, políticos, econômicos, religiosos, institucionais<br />
combinavam-se na tarefa da prescrição para ambicionar-se mudanças <strong>sociais</strong>, sendo estas não<br />
transformações tais como as revoluções francesa e haitiana, temidas e criticadas por Silva<br />
Lisboa, mas <strong>rearranjos</strong> em uma or<strong>de</strong>m, ou seja, modificações preservadoras <strong>de</strong> aspectos <strong>de</strong><br />
um passado comum à coletivida<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rados propensos a serem difundidos, a exemplo da<br />
fé cristã e do regime político monárquico, porque possibilitam a incorporação e relação coesa<br />
coletiva, em <strong>de</strong>trimento das iniciativas discordantes <strong>de</strong> individualida<strong>de</strong>s, como ocorrera <strong>nos</strong><br />
eventos da In<strong>de</strong>pendência 31 .<br />
6. A escravidão segundo Silva Lisboa<br />
Em Da liberda<strong>de</strong> do trabalho, publicado postumamente na Gazeta <strong>de</strong> Artes do Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro em 1851, Silva Lisboa mobiliza <strong>de</strong>s<strong>de</strong> passagens da Bíblia à poesias romanas para<br />
embasar a asserção <strong>de</strong> serem as ativida<strong>de</strong>s humanas benéficas e produtivas, para o indivíduo e<br />
para a socieda<strong>de</strong>, quando são livres. A monopolização da mão-<strong>de</strong>-obra cerceia as inclinações,<br />
os talentos a percepção das circunstâncias propícias para lançar-se em uma empresa. O<br />
arbítrio individual concilia a certeza segundo a qual o resultado do trabalho gera riqueza no<br />
âmbito particular e público. A inexistência <strong>de</strong>sses elementos faz do trabalho uma obrigação<br />
forjada no conflito entre dominador e dominado.<br />
Silva Lisboa, contudo, assume não se voltar para a questão da abolição da escravidão e<br />
conceitua suas observações como preocupações concernentes à produtivida<strong>de</strong> do trabalho, as<br />
razões possíveis <strong>de</strong> malogros empreen<strong>de</strong>dores e as perspectivas as quais estimulam os<br />
<strong>rearranjos</strong> <strong>de</strong> relações <strong>de</strong> trabalho com o intuito do aumento da produção e da opulência na<br />
30 LISBOA, José da Silva. Constituição moral e <strong>de</strong>veres do cidadão. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Typographia do Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro, 1825, Parte III, p. 1. Apub: MONTEIRO, Pedro Meira. Op. Cit., p. 69.<br />
31 Silva Lisboa fora contrário às propostas <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência do Brasil em relação a Portugal e em março <strong>de</strong><br />
1822 publicou, sob o pseudônimo <strong>de</strong> “Fiel da Nação”, texto no periódico “A Sentinela” contra as i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> João<br />
Soares Lisboa, escritor <strong>de</strong> panfletos políticos e <strong>de</strong>fensor da in<strong>de</strong>pendência. É um libelo contra os radicalismos<br />
passíveis <strong>de</strong> causarem agitações convulsionadas na socieda<strong>de</strong> e, por consequência, na or<strong>de</strong>m estabelecida. Ver:<br />
LEITE, Renato Lopes. Republica<strong>nos</strong> e libertários. Pensadores radicais da In<strong>de</strong>pendência (1822). Tese<br />
(Doutorado em História). Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná, Curitiba, 1997, p. 422.<br />
40