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projetos de rearranjos sociais: escravos, índios e negociantes nos ...

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Freguesia, e faleceu em 1854. 61 Para José Augusto Leandro, a Comarca <strong>de</strong> Paranaguá, para a<br />

além da inserção em um processo <strong>de</strong> “expansão capitalista”, possuiu grupos <strong>sociais</strong> que, para<br />

pobreza e hábitos <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong>s díspares daqueles cultivados pela elites, e esta Comarca<br />

pautava-se pela rígida hierarquização, conclui o autor. Contudo, os <strong>negociantes</strong> <strong>de</strong> Paranaguá<br />

da segunda meta<strong>de</strong> do século XIX foram, por historiadores paranaenses do século XX,<br />

notados como formadores <strong>de</strong> uma nobiliarquia local, <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rando-se, por exemplo, a<br />

temática do tráfico <strong>de</strong> <strong>escravos</strong> e, por conseguinte, buscando-se consolidar a influência das<br />

migrações europeias na formação social paranaense.<br />

De acordo com Negrão, a 10 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1823, o negociante soube <strong>de</strong> uma<br />

conspiração que seria <strong>de</strong>flagrada em Paranaguá contra os portugueses <strong>de</strong>vido às animosida<strong>de</strong>s<br />

advindas dos <strong>de</strong>bates da Assembleia Nacional Constituinte. Na Memória Histórica <strong>de</strong><br />

Paranaguá, entretanto, não há referências às discordâncias políticas entre portugueses e<br />

grupos providos <strong>de</strong> “fúria nacionalista”, na expressão <strong>de</strong> Negrão 62 . Para Guimarães Costa, as<br />

dificulda<strong>de</strong>s econômicas <strong>de</strong> Viera dos Santos iniciaram-se quando um incêndio <strong>de</strong>struiu sua<br />

casa comercial. A 25 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1841, outro incêndio danificou seu engenho <strong>de</strong> erva-mate<br />

em Morretes. Em 1843, a partir da narrativa <strong>de</strong> Vieira dos Santos, encontra-se, um episódio<br />

que simboliza, na luta corporal, as <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iras ativida<strong>de</strong>s e atuações <strong>sociais</strong> <strong>de</strong>ste negociante:<br />

No dia 20 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1843, <strong>de</strong> noite escura, próximo às 8 horas, uma mão ímpia talvez movida por uma furiosa<br />

raiva <strong>de</strong> vingança, irrefletidamente <strong>de</strong>scarregou ousadamente uma forte pancada sobre a pálpebra do meu olho<br />

direito, <strong>de</strong> cujo resultado logo senti as mais pungentes dores, e no interior do globo ocular centelhas <strong>de</strong> fogos<br />

incendiadas, na ocasião em que o sangue se espargia pelos vasos dos músculos fibrosos avermelhando-se<br />

61 Segundo Magnus Roberto <strong>de</strong> Mello Pereira, no século XIX a produção da erva-mate <strong>de</strong>flagrou a formação <strong>de</strong><br />

uma burguesia no Paranaguá, bem como se observou neste período, a partir do beneficiamento da erva-mate,<br />

uma incipiente industrialização. Em <strong>de</strong>trimento da prevalência econômica dos Campos Gerais, alicerçadas na<br />

criação <strong>de</strong> gado, nas regiões <strong>de</strong> Curitiba e do litoral houve a instalação <strong>de</strong> engenhos <strong>de</strong> mate. A partir da<br />

emancipação política do Paraná em 1853, o Partido Liberal é i<strong>de</strong>ntificado com grupos dos Campos Gerais e o<br />

Partido Conversador foi composto pelas elites litorâneas. O principal negociante do mate, no contexto do século<br />

XIX, foi I<strong>de</strong>lfonso Pereira Correia (1845-1894), o Barão do Cerro Azul, <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte da linhagem do capitãomor<br />

Manoel Antonio Pereira. De acordo com Magnus Pereira, houve, a partir da formação da burguesia<br />

paranaense, um “processo civilizatório” empreendido pelas Câmaras Municipais, notadamente, as quais<br />

buscavam disciplinar costumes e o trabalho. Coibir festas dos grupos <strong>sociais</strong> pobres agrários, a exemplo do<br />

fandango na região do litoral e legislar contra hábitos da “vagabundagem” caracterizou as Posturas Municipais<br />

daquele período. Vieira dos Santos insere-se nesse período seja como vereador seja como dono <strong>de</strong> engenho <strong>de</strong><br />

mate. Ver: PEREIRA, Magnus R. M. Semeando iras rumo ao progresso. Ed. da UFPR, 1996. Para o estudo<br />

das relações <strong>sociais</strong> e ativida<strong>de</strong>s econômicas <strong>de</strong>sempenhadas pelo Barão do Cerro Azul ver: COSTA, Odah<br />

Regina Guimarães. Ação empresarial <strong>de</strong> I<strong>de</strong>lfonso Pereira Correia, Barão do Cerro Azul, na conjuntura<br />

paranaense. Tese (Livre-docência em História). Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná, Curitiba, 1974. Acerca das<br />

elites paranaenses que formaram inter-relações a partir das famílias componentes das famílias posicionadas por<br />

Vieir dos Santos como a nobiliarquia da Comarca, bem como as estratégias <strong>de</strong> ramificação e inserção nas<br />

ativida<strong>de</strong>s políticas e econômicas ao longo da Segunda meta<strong>de</strong> do século XIX, ver: OLIVEIRA, Ricardo Costa<br />

<strong>de</strong>. O silêncio dos vencedores: genealogias, classe dominante e Estado do Paraná. Curitibaa : Moinho do<br />

Verbo, 2001.).<br />

62 COSTA, Samuel Guimarães, Op. Cit., p. 4.<br />

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