projetos de rearranjos sociais: escravos, índios e negociantes nos ...
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4.5 As utilida<strong>de</strong>s <strong>sociais</strong> dos <strong>índios</strong><br />
Segundo o prelado, os <strong>índios</strong> do Brasil são hábeis nas tarefas <strong>de</strong> imitativas, <strong>de</strong> força e<br />
agilida<strong>de</strong>. Po<strong>de</strong>m ser alocados para manufaturas e agricultura, mas se apresentam opositores<br />
do trabalho contínuo <strong>de</strong> cultivar a terra, porque, dispondo o meio natural para a subsistência,<br />
os <strong>índios</strong> lançam-se na preguiça e indolência. O comportamento do indígena orienta-se, pois,<br />
pela ansieda<strong>de</strong>, a imprevidência. A retirada do índio <strong>de</strong> condição selvagem é entendido pelo<br />
autor como meritório e “aquele índio até agora nem para si prestava, atravessará os mares,<br />
virá um dia beijar aquela benéfica mão que o tirou da indigência, que por meio do sal o fez<br />
pescador, marinheiro, mestre, piloto, artífice, comerciante; numa palavra, um cidadão e um<br />
membro útil à socieda<strong>de</strong>”. 13 O autor relaciona as utilida<strong>de</strong>s da integração social dos <strong>índios</strong> e<br />
dos complementos das ativida<strong>de</strong>s econômicas a serem <strong>de</strong>sempenhadas pelos <strong>escravos</strong>. Os<br />
negros, conforme a prescrição, teriam <strong>de</strong> ser empregados <strong>nos</strong> trabalho contínuo da lavoura,<br />
visto a disposição para os ardores solares.<br />
Coutinho – e <strong>de</strong>ve-se ressalvar que seu discurso é en<strong>de</strong>reçado à Coroa portuguesa –<br />
menciona a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> premiarem-se ou conce<strong>de</strong>rem-se quaisquer formas <strong>de</strong> privilégios<br />
aos do<strong>nos</strong> <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s pesqueiras ou navios que empreguem <strong>índios</strong> domesticados como<br />
marinheiros. Tais consi<strong>de</strong>rações atentam para as contribuições da agricultura e pesca como<br />
capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> opulência econômicas exploradas nas colônias em benefícios das somas <strong>de</strong><br />
riquezas para Portugal, em <strong>de</strong>trimento das atenções à exploração das minas <strong>de</strong> ouro. Ao<br />
Portugal caberia, portanto, observar a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aproveitar os milhares <strong>de</strong> braços<br />
perdidos.<br />
4.6 Os <strong>índios</strong> e a guerra<br />
Para além da propensão para as ativida<strong>de</strong>s marítimas comerciais, afigura-se a inclusão<br />
do índio na guerra. A exposição do argumento <strong>de</strong> Coutinho principia com a contestação às<br />
consi<strong>de</strong>rações <strong>de</strong> Montesquieu em O espírito das leis acerca da relação entre clima e aspectos<br />
da socieda<strong>de</strong> e dos homens. Nos climas quentes, na leitura <strong>de</strong> Coutinho, Montesquieu nota<br />
habitantes fracos, pusilânimes e, em conseqüência, o índio da Zona Tórrida é inábil para a<br />
marinha e guerra. Para Coutinho, ao contrário, nesta zona existem as circulações <strong>de</strong> ventos, tal<br />
qual ocorre na Zona Temperada, e observam-se da mesma forma casos da longevida<strong>de</strong><br />
humana. Alongando-se em argumentações sobre a configuração climática, Coutinho invoca,<br />
em um dos escassos momentos tal como notara Sergio Buarque <strong>de</strong> Holanda, o nome do<br />
12 I<strong>de</strong>m, p. 98.<br />
13 I<strong>de</strong>m, p. 99.<br />
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