projetos de rearranjos sociais: escravos, índios e negociantes nos ...
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<strong>de</strong>stacar a excelência <strong>de</strong> sua atuação política. Através da construção <strong>de</strong> memória, foi o<br />
Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cairu incluído no panteão da história do Brasil e sus ativida<strong>de</strong>s assumidas ao<br />
patrimônio cultural e histórico nacional. Estabelecia-se, assim, a i<strong>de</strong>ntificação da formação do<br />
Estado Brasileiro reunindo-se antigos contendores.<br />
5.1. As estratégias vocabulares: a corrente tradicionalista-feudal<br />
Para Montenegro, a confluência <strong>de</strong> doutrinas religiosas, filosóficas e jurídicas nas<br />
construções textuais <strong>de</strong> Silva Lisboa indica, principalmente, a recorrência <strong>de</strong> citações da<br />
Bíblica e <strong>de</strong> menções reverentes ao Soberano. A veneração ao soberano perpassou <strong>de</strong> D. João<br />
VI à D. Pedro I, no Po<strong>de</strong>r Mo<strong>de</strong>rador. No período colonial, no contexto da abertura dos<br />
portos, Lisboa notou a relação entre metrópole e colônia como entre Mãe-Pátria e Filha,<br />
legitimando, por conseqüência, uma relação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência. Esta <strong>de</strong>pendência é um elemento<br />
tradicionalista-feudal para Montenegro, porque seu embasamento recai na i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong><br />
uma imagem do Soberano e da Monarquia, seja a lusitana, seja monarquia instaurada no<br />
Brasil em 1822 por conceitos como honra e or<strong>de</strong>m. Ao mesmo tempo em que se referia a uma<br />
“or<strong>de</strong>m natural das coisas”, o Viscon<strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nciou-se leitor do liberal Adam Smith, mas<br />
também do conservador Edmund Burke. Em Smith encontrou argumentos para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a<br />
liberda<strong>de</strong> da indústria, do trabalho, a valorização das iniciativas individuais como forma <strong>de</strong><br />
aumentar a produtivida<strong>de</strong> e o estímulo à criativida<strong>de</strong> e também do conservador inglês<br />
Edmund Burke 19 . Mas, como evi<strong>de</strong>nciou Montenegro, a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> comércio e <strong>de</strong> trabalho,<br />
ainda que constantes apenas como propostas, visto que, como adiante se abordará, era vigente<br />
a escravidão, a figura paternalista do soberano não foi suprimida. Palavras como Soberano,<br />
Perpétuo, Majesta<strong>de</strong>, Legitimida<strong>de</strong>, Senhor e Fi<strong>de</strong>icomisso são notadas <strong>nos</strong> textos <strong>de</strong> Silva<br />
Lisboa e, na interpretação <strong>de</strong> Montenegro, afiguram-se como continuida<strong>de</strong>s da Ida<strong>de</strong> Média,<br />
cuja utilização ambiciona aliar a figura do monarca com a honra. A seguir, cita-se trecho <strong>de</strong><br />
panfleto do Viscon<strong>de</strong>:<br />
Uma das condições necessárias para o aumento da sociabilida<strong>de</strong> é a existência <strong>de</strong> uma Potência Social, capaz <strong>de</strong><br />
coibir as paixões dos homens; e esta potência <strong>de</strong>ve ser tal que, atemorizando unicamente os maus, faça que os<br />
bons gozem <strong>de</strong> mais completa segurança. Por isso, <strong>de</strong>ve reunir três qualida<strong>de</strong>s principais: sabedoria para<br />
19 Montenegro notou que da obra <strong>de</strong> Burke Lisboa aproximou-se do conceito do Estado erigido como razão da<br />
liberda<strong>de</strong>, porque haveria a instituição parlamentar e <strong>de</strong>mais instituições que, através <strong>de</strong> normas jurídicas,<br />
funcionam com autonomia. Contudo, na apropriação por Lisboa, e as especificida<strong>de</strong>s do Estado Nacional<br />
brasileiro em formação as condições preconizadas <strong>de</strong> autonomia institucional vigeram ao lado do autoritarismo<br />
econômico, social e político.<br />
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