projetos de rearranjos sociais: escravos, índios e negociantes nos ...
projetos de rearranjos sociais: escravos, índios e negociantes nos ...
projetos de rearranjos sociais: escravos, índios e negociantes nos ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
maneira que s relações entre homens e coisas sobrepõe-se às relações entre homens. O<br />
mercado e as dinâmicas mobiliárias forjam-se, por conseguinte, <strong>de</strong> regras e valores – sobre<br />
trabalho, por exemplo – que consolidariam a i<strong>de</strong>ologia Neste âmbito <strong>de</strong> valores gerais, no<br />
holismo as relações entre homens seria mais importantes do que entre homens e coisas.<br />
Aparece invertida, no mo<strong>de</strong>lo dumontiano, esta relação nas socieda<strong>de</strong>s mo<strong>de</strong>rnas. Nas<br />
socieda<strong>de</strong>s tradicionais – holistas – diferencia-se a riqueza mobiliária da imobiliária. Assim,<br />
bens <strong>de</strong> raiz seriam diferentes dos bens monetários. Concernente à organização social, po<strong>de</strong>r-<br />
se-ia, segundo Dumont, estabelecer-se que a riqueza mobiliária seria apenas relação com uma<br />
coisa. Na mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, a emergência da economia separá-la-ia da política. Dumont, em cuja<br />
análise esta separação <strong>de</strong> categoria é entendida como revolução mo<strong>de</strong>rna, tem como aportes<br />
as consi<strong>de</strong>rações <strong>de</strong> Karl Marx e Karl Polanyi. De Marx, apreen<strong>de</strong> que nas socieda<strong>de</strong>s antigas<br />
e medievais a riqueza constituía-se como uma finalida<strong>de</strong> apenas entre povos mercadores. De<br />
Polanyi, <strong>de</strong>teve-se sobre como o mercado torna-se provido <strong>de</strong> uma doutrina – o liberalismo –<br />
que se separaria do tecido social e seu papel aufere condição sacrossanta.<br />
Po<strong>de</strong>-se, em consequência, i<strong>de</strong>ntificar o que Dumont conceitua como revolução dos<br />
valores, que também se afigura como método dos seus estudos comparativos. Insurge-se a<br />
questão <strong>de</strong> método: como analisar o tipo social mo<strong>de</strong>rno a partir do tipo tradicional?. Dumont<br />
propõe a diferenciação entre duas i<strong>de</strong>ologias. Conforme o autor “Chamo <strong>de</strong> ‘i<strong>de</strong>ologia’ o<br />
conjunto das idéias e dos valores comuns em uma socieda<strong>de</strong>. Como existe no mundo mo<strong>de</strong>rno<br />
um conjunto <strong>de</strong> idéias e <strong>de</strong> valores, falaremos em uma “i<strong>de</strong>ologia mo<strong>de</strong>rna’” 97 . Esta<br />
i<strong>de</strong>ologia opõe-se à i<strong>de</strong>ologia tradicional, porém, a mo<strong>de</strong>rna i<strong>de</strong>ologia apresenta-se como<br />
conceito mais restrito do que “civilização mo<strong>de</strong>rna”, porque, ainda que não se proponha a<br />
imiscuir-se em minúcias conceituais, afirma que a i<strong>de</strong>ologia enquanto um conceito mais<br />
restrito do civilização, assim como – referencia um <strong>de</strong>bate na antropologia estaduni<strong>de</strong>nse –<br />
po<strong>de</strong>-se opor a i<strong>de</strong>ologia à cultura, porém existem elementos culturais que integram a<br />
i<strong>de</strong>ologia. Todavia, <strong>de</strong>finição que esteia a perspectiva comparada acerca da posição social do<br />
indivíduo, em Dumont, é “o ser moral, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, autônomo e assim (essencialmente) não<br />
social, tal como se encontra, antes <strong>de</strong> tudo, na <strong>nos</strong>sa i<strong>de</strong>ologia mo<strong>de</strong>rna do homem” 98 . O<br />
autor reconhece que entre as socieda<strong>de</strong>s entendidas como holísticas existem diferenças,<br />
porém, no âmbito da alterida<strong>de</strong> entre a i<strong>de</strong>ologia mo<strong>de</strong>rna e a holística, socieda<strong>de</strong>s como a<br />
por que naturalizara a <strong>de</strong>fesa da divisão do trabalho. Aceitando-se a <strong>de</strong>pendência, diz Fenelon, Silva Lisboa<br />
expunha a i<strong>de</strong>ologia das classes dominantes colonaisi, da adoção e adaptação das novas teorias econômicas<br />
aplicadas, sob o crivo do conservadorismo político, às necessida<strong>de</strong>s presentes dos interesses <strong>de</strong> grupo. Ver<br />
97 DUMONT, Louis. Homo Aequalis: gênese e plenitu<strong>de</strong> da i<strong>de</strong>ologia mo<strong>de</strong>rna. Tradução <strong>de</strong> José Leonardo<br />
Nascimento. Bauru, SP : EDUSC, 2000, p. 19.<br />
93