projetos de rearranjos sociais: escravos, índios e negociantes nos ...

ao que se ambiciona nas sociedades. Civilizar os índios a partir das transformações suas
aldeias em vilas, conferindo-lhes os cargos de vereador ou almotacé ocasiona, apenas, a
apropriação nos selvagens de governarem uns aos outros. Para Coutinho, iniciar-se a o
processo civilizador pela difusão de formas de governo é principiar por onde as nações
civilizadas acabam, segundo o autor porque “a arte de bem governar é a mais sublime de
quantas os homens tem inventado”. 11 Na compreensão de Coutinho os índios relacionam-se
igualitariamente e, nesta liberdade absoluta, não são passíveis de assumirem uma posição
inferiorizada em relação aos outros membros do grupo. Da mesma forma, um índio, investido
de alguma autoridade, não a exercerá sobre seus iguais. A alteridade presente em Azeredo
Coutinho considera o homem como sujeito às necessidades e paixões, modificadas conforme
a instrumentalização intelectual.
A sobreposição das paixões ou necessidades em relação a todo o escopo formador
desta propalada natureza humana é o que delineia a caráter do sujeito, das sociedades e
nações. Reveste-se, pois, o esforço civilizador, através do reconhecimento da diferença, não
tentar modificá-la com métodos abruptos, mas incorporar os índios na sociedade para, no
estímulo das propensões intelectuais e físicas, por exemplo, constarem como uma das
possibilidades dos rearranjos as relações colônia-metrópole; em razão, principalmente, da
incorporação na economia pesqueira, em um âmbito não mais de subsistência, mas na
contribuição a todo um mercado de trocas.
Critica-se, ainda, a existência do Diretor que é incumbido de disciplinar para o
trabalho os índios de povoações que vivem dispersos. A arregimentação dos índios dar-se-ia
forçosamente e, em defesa de uma perspectiva educacional utilitária, o bispo afirma que se
lhes ministrar valores filosóficos e cultivá-los para a prática meditativa. O Diretor, portanto
apenas extrairia a substância das forças selvagens, reproduzindo-lhes na condição de miséria.
Ministra de imediato o conhecimento nas ciências, por exemplo, também se afiguraria
equivocado, porque seriam logo, os índios, tomados pelo cansaço e desinteresse.
Coutinho compara a educação ministrada pelos pais aos filhos às formas de educarem-
se os indígenas. Nessa percepção de estado de natureza, inscrevendo-lhes ainda na infância
da humanidade, dever-se-ia afastar o interesse pelos objetos que lhes circundam e lhes
despertam a curiosidade, em favor da imputação das razões pelas quais, mesmo sem terem se
orientado a partir das ciências a eles estranhas, prescinde-se tal aprendizado; bem como as
concepções de disciplina no aprendizado e ciências teriam de, cuidadosamente, ser explanada
11 Idem, p. 93.
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