19.04.2013 Views

projetos de rearranjos sociais: escravos, índios e negociantes nos ...

projetos de rearranjos sociais: escravos, índios e negociantes nos ...

projetos de rearranjos sociais: escravos, índios e negociantes nos ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

arbarismos culturais, arregimentam <strong>escravos</strong>. O direito <strong>de</strong> guerra esten<strong>de</strong>-se ao traficante<br />

pelo comércio e assume a função maior <strong>de</strong> afastar o africano da ociosida<strong>de</strong>, dos vícios<br />

passionais, da reprodução social acendrada, cujos fins são notados pelo bispo como<br />

estratégias contra inimigos, grupos que se proliferam e buscam sobrepujarem-se,<br />

ininterruptamente. Submeter o africano através da escravidão é ato <strong>de</strong> compaixão. Coutinho<br />

não admite concepção relativista <strong>de</strong> cultura, preconizada pelos filósofos que em seu texto <strong>de</strong><br />

forma recorrente critica.<br />

Os africa<strong>nos</strong> não têm valores <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> e instrução, suas existências <strong>de</strong>stinam-se à<br />

penúria pela fome e pobreza e às mortes pelas guerras. Estas nações bárbaras são, pela própria<br />

condição <strong>de</strong> pobreza, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> fomentos das nações civilizadas. Assim, para Coutinho,<br />

é a escravidão é apenas uma faceta da lei dialética do vencedor/vencido, e os filósofos que se<br />

opõe a ela não são amigos <strong>nos</strong> negros, antes, querem, pela negação da escravidão, fazer com<br />

que seus irmãos brancos lhes sirvam através <strong>de</strong> salário módico, enquanto os africa<strong>nos</strong><br />

reproduzem-se no obscurantismo cultural.<br />

A escravidão, no pensamento <strong>de</strong> Coutinho, não se afigura injusta e mesmo as relações<br />

entre senhores e <strong>escravos</strong> pautadas por rigi<strong>de</strong>zes ou maus tratos, em falha à prática da<br />

compaixão pelo vencido, não afastam a lei regente das <strong>de</strong>pendências mútuas e <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s<br />

inerentes aos contatos dos indivíduos na socieda<strong>de</strong>, fadados à permanente atração. Mas<br />

Azeredo Coutinho prescreve uma forma <strong>de</strong> coibirem-se os maus tratos: o caminho das leis.<br />

Evitar-se-iam animosida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>scolamentos <strong>de</strong>snecessários porque a relação senhor escravo<br />

é explicitada pelas <strong>de</strong>mais relações <strong>de</strong> vencedor e vencido, ou seja, a <strong>de</strong>pendência a partir <strong>de</strong><br />

interesses específicos. Abaixo, reproduz-se trecho do apêndice da Análise on<strong>de</strong> se propala o<br />

valor da comunicação entre <strong>de</strong>siguais:<br />

A comunicação dos homens uns com os outros, e das nações entre si, chamados pelo seu mesmo interesse, é a<br />

que os vai polindo e civilizando; é a que forma a gran<strong>de</strong> massa dos conhecimento huma<strong>nos</strong>; a que os instrui nas<br />

ciências e nas artes e tira pouco a pouco as nações da sua infância e do seu primeiro estado <strong>de</strong> barbárie até laválas<br />

ao seu maior estado <strong>de</strong> civilização e <strong>de</strong> entes verda<strong>de</strong>iramente racionais 8 .<br />

Coutinho reabilita a concepção holística da socieda<strong>de</strong>, para além da Análise sobre a<br />

Justiça do tráfico, no Ensaio econômico sobre o comércio <strong>de</strong> Portugal e suas colônias<br />

(1794), <strong>de</strong> modo a opor-se às i<strong>de</strong>ias e iniciativas as quais, a exemplo da Revolução Francesa,<br />

buscam provocar o ocaso das relações entre as or<strong>de</strong>ns <strong>sociais</strong> <strong>de</strong>siguais; bem como cercear<br />

com as instituições e autorida<strong>de</strong>s legitimadoras das segmentações existentes. Assim, seja no<br />

tocante aos <strong>escravos</strong> ou às estratégias <strong>de</strong> conciliação <strong>de</strong> interesses na conformação holista, a<br />

20

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!