projetos de rearranjos sociais: escravos, índios e negociantes nos ...
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<strong>de</strong> Paranaguá as referências aos proprietários rurais sinalizam, no que toca a uma riqueza<br />
comparável aos <strong>negociantes</strong>, <strong>de</strong> Manoel Luizino <strong>de</strong> Nores, com sessenta <strong>escravos</strong>. Os <strong>de</strong>mais<br />
fazen<strong>de</strong>iros teriam, afirma Vieira dos Santos, <strong>de</strong> quinze a trinta <strong>escravos</strong>.<br />
Negociantes e fazen<strong>de</strong>iros são, naquela narrativa, afastados, para além do aspecto do<br />
capital, concernente aos papéis <strong>sociais</strong>. Exemplifica-se esta diferenciação quando da<br />
elaboração das galerias <strong>de</strong> homens e matronas ilustres. Nas Memórias sobre a inserção <strong>de</strong>stas,<br />
tem-se como critério o matrimônio com os <strong>negociantes</strong>. A composição <strong>de</strong> famílias ilustres, em<br />
Vieira dos Santos, aos patriarcas tem a relação entre acumulação <strong>de</strong> capital e <strong>de</strong> títulos<br />
administrativos e honoríficos. São, pois, os <strong>negociantes</strong> os formadores da nobiliarquia e o<br />
casamento afigura-se como a estratégia da aliança entre os grupos reunidos em incipiente<br />
espaço urbano, fazendo-se a multiplicação da <strong>de</strong>scendência.<br />
O discurso <strong>de</strong> Vieira dos Santos sobre o grupo mercantil, portanto, relacionada o papel<br />
da ação econômica e política, à constituição <strong>de</strong> enredamentos familiares, os quais perpassam,<br />
ainda, são iniciados sob os ritos <strong>de</strong>vocionais cristãos, na Igreja. Constituindo-se em elite<br />
econômica e política, afiguram-se na exemplarida<strong>de</strong> moral da socieda<strong>de</strong>. Vieira dos Santos<br />
não concebe naturezas distintas da reprodução <strong>de</strong> práticas econômicas e políticas, das formas<br />
<strong>de</strong> reprodução <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r através do matrimônio. Situando-os superiores <strong>nos</strong> contatos com as<br />
<strong>de</strong>mais segmentações <strong>de</strong> Paranaguá – e dos espaços arredores – estabelecem-se as gradações,<br />
na escrita da História, das instituições aos indivíduos, pelas representações dos significados da<br />
historicida<strong>de</strong> e movimento <strong>de</strong>stes. Vieira dos Santos justifica : “Aceitai [Câmara Municipal <strong>de</strong><br />
Paranaguá], pois, com boa vonta<strong>de</strong>, este meu trabalho e na série dos sucessos achareis um<br />
farol que vos ilumine a mais remota antiguida<strong>de</strong> até o presente e <strong>de</strong> ora avante vos servirá <strong>de</strong><br />
guia e bússola para navegar<strong>de</strong>s, <strong>nos</strong> séculos futuros, com mais clarida<strong>de</strong>.” 86<br />
No período colonial, os movimentos políticos dos <strong>negociantes</strong> <strong>de</strong> Paranaguá pautaram-<br />
se pelas manifestações em favor da monarquia portuguesa, mas em conflito com autorida<strong>de</strong>s<br />
da Província <strong>de</strong> São Paulo. Vieira dos Santos engajou-se nessas querelas, as quais requeriam a<br />
concessão <strong>de</strong> maiores po<strong>de</strong>res às autorida<strong>de</strong>s locais – <strong>de</strong> Morretes e Paranaguá – opondo-se à<br />
alocação <strong>de</strong> burocratas <strong>de</strong>signados pela administração paulista. Tem-se, assim, a construção<br />
<strong>de</strong> memória política on<strong>de</strong> o <strong>negociantes</strong>, inferiorizados nas escalas <strong>de</strong> mando, incitariam a liça<br />
para as querelas <strong>de</strong> reivindicação do exercício legítimo do po<strong>de</strong>r sobre um espaço. Porém, <strong>nos</strong><br />
ofícios evi<strong>de</strong>nciados pelo autor acerca das comunicações entre autorida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Paranaguá e da<br />
Província <strong>de</strong> São Paulo, observa-se as primeiras prezarem pela concordância quando <strong>de</strong> uma<br />
86 I<strong>de</strong>m, vol. 1, pp. 5-6.<br />
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