projetos de rearranjos sociais: escravos, índios e negociantes nos ...
projetos de rearranjos sociais: escravos, índios e negociantes nos ...
projetos de rearranjos sociais: escravos, índios e negociantes nos ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
5.6 O moralismo <strong>de</strong> Silva Lisboa<br />
Segundo Pedro Meira Monteiro, em tese <strong>de</strong> doutoramento em Letras, analisa em<br />
perspectiva comparada as obras do Duque François VI <strong>de</strong> La Rochefoucauld (1613-1680) e<br />
do Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cairu 25 . Iniciou o estudo pelos indícios das apropriações <strong>de</strong> citações do<br />
primeiro autor por Silva Lisboa. Argumenta, pois, para as diferenças <strong>de</strong> objetivos na produção<br />
das máximas, pelo escritor francês, e da obra, provida <strong>de</strong> argumento e projeto moralistas<br />
conforme por Meira Monteiro, intitulada Constituição moral e <strong>de</strong>veres do cidadão, publicada<br />
pelo Viscon<strong>de</strong> entre 1824 e 1825. Enquanto as Máximas <strong>de</strong> La Rochefoucauld, cuja primeira<br />
edição data <strong>de</strong> 1635, são tentativas <strong>de</strong> expor as características da natureza humana, os textos<br />
<strong>de</strong> Silva Lisboa revestem-se <strong>de</strong> prescrições morais, coadunadas com o contexto da incipiente<br />
in<strong>de</strong>pendência brasileira. Demandava-se construir a <strong>de</strong>fesa do Império através <strong>de</strong> posturas<br />
típicas para observar-se o “bem comum” na socieda<strong>de</strong>. Monteiro <strong>de</strong>monstra as formas <strong>de</strong><br />
apropriação dos escritos <strong>de</strong> La Rochefoucauld por Silva Lisboa, notadamente pelas recusas<br />
que este realizara acerca dos aspectos “munda<strong>nos</strong>” das máximas, <strong>de</strong> modo a tais máximas<br />
sofrerem reabilitação, no contexto oitocentista da obra <strong>de</strong> Silva Lisboa, a partir <strong>de</strong><br />
aproximações com a moral cristã. Ressalta-se, contudo, para as especificida<strong>de</strong>s tanto do<br />
cristianismo como do moralismo em a Constituição moral e <strong>de</strong>veres do cidadão. O<br />
cristianismo apregoado por este autor afasta-se <strong>de</strong> vinculações aos jesuítas, porque na<br />
interpretação <strong>de</strong> Monteiro Silva Lisboa vivera na Coimbra inspirada pelas reformas <strong>de</strong><br />
Pombal, mas sua prosa tem objetivo <strong>de</strong> apresentar-se com propósitos <strong>de</strong> missão civilizadora.<br />
Civilizar os costumes, por exemplo, insere-se no intuito maior <strong>de</strong> consolidar o Estado<br />
imperial brasileiro, legitimar autorida<strong>de</strong>s e prescrever escopos <strong>de</strong> <strong>de</strong>veres para a toda a<br />
socieda<strong>de</strong>.<br />
Monteiro escusa-se, contudo, <strong>de</strong> pautar sua análise pela vinculação <strong>de</strong> Silva Lisboa ao<br />
“conservadorismo” enquanto única concepção possível para alcançar-se a consolidação do<br />
discurso fundador imperial. Antes, Silva Lisboa auferira <strong>de</strong>linear caracterizações da natureza<br />
humana, e para tanto se utilizando <strong>de</strong> autores como La Rochefoucauld, e <strong>nos</strong> textos sobre a<br />
economia política encontram-se a pretensão <strong>de</strong> inferir sobre condutas <strong>sociais</strong>, contê-las,<br />
discipliná-las, enfim, a obra <strong>de</strong> Silva Lisboa é permeada pelas reabilitações <strong>de</strong> autores do<br />
século XVIII, autores providos <strong>de</strong> “moral torpe” 26 , bem como ao contexto do Iluminismo o<br />
futuro Viscon<strong>de</strong> buscou referências no pensamento cristão – sendo que em seus textos recorre<br />
25 MONTEIRO, Pedro Meira. Um moralista <strong>nos</strong> trópicos. o Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> La Rochefoucauld e o Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Cairu. São Paulo : Boitempo Editorial; FAPESP, 2004.<br />
37