19.04.2013 Views

projetos de rearranjos sociais: escravos, índios e negociantes nos ...

projetos de rearranjos sociais: escravos, índios e negociantes nos ...

projetos de rearranjos sociais: escravos, índios e negociantes nos ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

suma, contra os do<strong>nos</strong> e agentes das mercadorias. Reproduzindo-se esta dinâmica da<br />

ilegalida<strong>de</strong>, “Do que resulta que as leis se violam, o público é agravado, os comerciantes <strong>de</strong><br />

caráter per<strong>de</strong>m suas vendas, ou ganham muito me<strong>nos</strong> nas mercadorias <strong>de</strong> importação legal.<br />

Talvez a não existir a proibição, a maior parte <strong>de</strong>ssas <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns cessaria, e menor aluvião<br />

<strong>de</strong> gêneros proibidos inundaria a país.” 48 Assim, ao mesmo tempo em que admoesta o<br />

contrabando, Silva Lisboa avalia como errôneos os métodos <strong>de</strong> coibir-se a prática, bem como<br />

assinala lacunas jurídicas, as quais, ao limitar as legitimida<strong>de</strong>s punitivas, estimulariam os<br />

legisladores a lançarem-se em i<strong>de</strong>ntificar os estratagemas dos contrabandistas, ao passo que<br />

estes aufeririam ludibriá-los.<br />

A imagem do contrabandista em Silva Lisboa, ainda que sendo oposta ao valor da<br />

função social dos <strong>negociantes</strong> <strong>de</strong> grosso trato, situa-os como transgressores da legislação<br />

estatal, entretanto coerentes para com uma lei natural do comércio. O autor tem como<br />

referencial para analisar a ativida<strong>de</strong> contrabandista as consi<strong>de</strong>rações <strong>de</strong> Adam Smith, em<br />

cujas citações expostas por Silva Lisboa <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>-se que aquele, caso as leis <strong>de</strong> seu país<br />

fossem coerentes para com a natureza do comércio, po<strong>de</strong>ria figurar como excelente cidadão.<br />

Ao proscrever-se o contrabandista da socieda<strong>de</strong>, agir-se-ia com pedantesca hipocrisia,<br />

conforme a citação <strong>de</strong> Silva Lisboa, <strong>de</strong> modo que, através da indulgência do público, o<br />

contrabandista é animado a continuar na traficância proibida.<br />

Há, pois, categorias <strong>de</strong> moralida<strong>de</strong>s naturais e fictícias apresentadas por Silva Lisboa.<br />

As primeiras, afirma o autor, o senso moral apresentar-se-ia <strong>nos</strong> espíritos para execrar-se a<br />

traição, o assassínio, o furto, enfim, sentimentos para os quais o público não conferiria<br />

indulgência. As leis civis, notadamente, no âmbito das leis econômicas, atuariam, sobretudo,<br />

para atacar o direito <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> e a circulação comercial sob o pretexto <strong>de</strong> fomentar a<br />

abundância da indústria nacional. O contrabando, para Silva Lisboa, é a subversão alternativa<br />

às <strong>de</strong>terminações estatais, <strong>de</strong> maneira que não se constituiria, para os que <strong>de</strong>le participam, em<br />

ativida<strong>de</strong> ilícita em <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong> correspon<strong>de</strong>r a um jogo <strong>de</strong> oferta e <strong>de</strong>manda. A corrupção<br />

e a complacência, afirma, perpassaria os segmentos hierárquicos da Brasil colonial, “Das<br />

mais altas personagens até os mais escuros trabalhadores se achariam em culpa, e as<br />

ca<strong>de</strong>ias da nação não bastariam para encarcerar <strong>de</strong>linquentes” 49 .<br />

O futuro Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cairu observa que no Reino <strong>de</strong> Portugal, on<strong>de</strong> haveria mais<br />

meios <strong>de</strong> reprimir o contrabando, esta modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tráfico abunda e no extenso Brasil, os<br />

aventureiros teriam múltiplas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> negociar <strong>nos</strong> portos. Contudo, insistindo-se<br />

48 Ibi<strong>de</strong>m.<br />

49 I<strong>de</strong>m, p. 189.<br />

54

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!