19.04.2013 Views

projetos de rearranjos sociais: escravos, índios e negociantes nos ...

projetos de rearranjos sociais: escravos, índios e negociantes nos ...

projetos de rearranjos sociais: escravos, índios e negociantes nos ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>de</strong> imagina que pu<strong>de</strong>ssem resistir ao que enten<strong>de</strong> como natural dominação. O cativeiro seria<br />

um processo. Em Silva Lisboa, ao contrário, a diferença cultural é a inconsciência sobre a<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> os <strong>escravos</strong> mobilizarem e, sob um argumento revolucionário, <strong>de</strong>struírem a<br />

construção do Estado e das inter<strong>de</strong>pendências vigentes na colônia. A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Revolução no<br />

Brasil, sob as inspirações francesa e haitiana, em Silva Lisboa, como <strong>de</strong>monstrou Meira<br />

Monteiro, po<strong>de</strong>ria encontrar recepção na natureza <strong>de</strong> brutalida<strong>de</strong> africana. Transgredindo-se<br />

os valores seculares, o temor <strong>de</strong> Silva Lisboa era a instalação no Brasil <strong>de</strong> uma Etiópia ou<br />

Negrícia. Para Coutinho, vivificando-se o tráfico escravo – ainda que não se observe neste<br />

autor a indicação <strong>de</strong> rotas para além da costa da Mina – era outra forma <strong>de</strong> criar-se as<br />

inter<strong>de</strong>pendências econômicas, conformando-se as negociações entre colônia e metrópole 99 .<br />

Constam, portanto, estes autores, atentos às mutações <strong>nos</strong> contextos políticos, <strong>nos</strong><br />

arranjos <strong>sociais</strong> balizados por princípios e ações revolucionárias. Defen<strong>de</strong>m a monarquia<br />

constitucional; Azeredo Coutinho e Silva Lisboa <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ram a condição colonial do Brasil e a<br />

elites mercantis historicizadas por Vieira dos Santos conferiam a aprovação ao regime <strong>de</strong><br />

colônia, mas, quando da In<strong>de</strong>pendência, mudaram-se os posicionamentos. Silva Lisboa teve<br />

<strong>de</strong> reor<strong>de</strong>nar suas obras morais, aplicando-as, a partir dos a<strong>nos</strong> 1820, ao <strong>de</strong>veres <strong>de</strong> cidadania<br />

sob um Estado Nacional 100 .<br />

Nestes autores o dilema da formação <strong>de</strong> historicida<strong>de</strong>s e projeções acerca <strong>de</strong><br />

orientações das formas reprodutivas das sociabilida<strong>de</strong>s hierárquicas – na relação entre o<br />

Estado e os interesses das elites das quais pertenciam – dava-se entre os limites <strong>de</strong><br />

mobilida<strong>de</strong>s das partes na percepção <strong>de</strong> conjunto <strong>de</strong> um todo formado pelo Estado. Mas, nessa<br />

totalida<strong>de</strong>, pensavam nas elites enquanto grupo receptor <strong>de</strong> <strong>projetos</strong> políticos para<br />

conciliarem-se interesses locais. Em Silva Lisboa e Vieira dos Santos, elogia-se a expansão<br />

capitalista dos <strong>negociantes</strong>, suas ações para inserir o Brasil, ainda no período colonial, em<br />

rotas comerciais. Demandava-se o justo apoio do Estado, notadamente, nas apropriações<br />

liberais <strong>de</strong> Silva Lisboa, para conferir maior liberalida<strong>de</strong> nas traficâncias. Nessas atenções<br />

99 Trecho das Constituições Morais e Deveres do Cidadão: “E como não virão os Europeos nisso a mais<br />

enorme violação da Or<strong>de</strong>m Cosmológica, tendo o Regedor do universo separado os Continentes Africano e<br />

Americano por quasi ou mais <strong>de</strong> mil legoas? Como no horizonte político não divisarão o perigo da extincção<br />

da progenie puritana, necessário effeito <strong>de</strong> progressiva accumulação <strong>de</strong> carvões ar<strong>de</strong>ntes, quaes <strong>de</strong>pois se<br />

afoguearão na Rainha das Antilhas?” In: MONTEIRO, Pedro Meira. Cairu e a patologia da Revolução. In:<br />

Estudos Avançados, v.17, n.º 49, São Paulo, set./<strong>de</strong>z., 2003.<br />

100 Sobre as discussões, no contexto da In<strong>de</strong>pendência, sobre a organização do Estado e as assimilações <strong>de</strong> pleitos<br />

locais no âmbito das políticas monárquicas, ver: SLEMIAN, Andréa. Sob o império das leis: constituição e<br />

unida<strong>de</strong> na formação do Brasil (1822-1834). Tese (Doutorado em História Social). Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo,<br />

São Paulo, 2006. 338 fls.<br />

97

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!