Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Igreja Luterana - no 1 - 2004<br />
do não só que Lutero empregou a frase em mais de um sentido, como tain-<br />
bém seus intérpretes modernos oferecem diferentes interpretações para<br />
ela. Não se deve supor, em vista disso, que ao citar a frase há consenso<br />
sobre seu significado. É preciso qualificar em que sentido e com qual propó-<br />
sito está sendo empregada. Na interpretação de Lutero, tem-se recorrido a<br />
outros termos visando esclarecer o sentido da frase. Por exemplo, a distin-<br />
ção entre total e parcial, forense e efetivo, relacional e substancial, existen-<br />
cial e ontológico."<br />
Lutero empregou a fórmula em basicamente dois sentidos: forense<br />
(totusltotus) e efetivo (partimlpartim). Isto é, totalmente justo ou totalmente<br />
pecador-em se tratando da justificação, e parcialmente justo e parcialmente<br />
pecador-em se tratando da santificação. No que se refere a graça djustifi-<br />
cação forense [= imputação da justiça]) e ao coração ou homem interior, só<br />
é possível ser totalmente justo ou totalmente pecador, completamente debaixo<br />
da graça de Deus ou completamente debaixo de sua ira. Não há meio termo.<br />
No que se refere ao dom e ao corpo ou homem exterior (santificação, regene-<br />
ração ou justificação efetiva [= remoção do pecado]), o cristão é sempre<br />
parcialmente justo e parcialmente pecador, isto é, já há um início de justiça, a<br />
fé, que luta contra o pecado que ainda resta na came.I4<br />
Assim, os dois termos, justo (iustus) e pecador (peccator), devem<br />
ser entendidos em uma dupla tensão dialética.I5 Sob o aspecto forense, o<br />
totalmente justo opõe-se a totalmente pecador (o "ponto matemático" da<br />
justificação). Sob o aspecto efetivo, o parcialmente justo se opõe a parcialmente<br />
pecador (a "linha física" da santifica~ão).'~ No primciro caso, os<br />
"A questáo controversa é se, Lutero apresenta a regeneração corno parte ou aspecto da juititicação. Na pesquisa de<br />
Lutero, Karl Holl destacou-se por defender a tese, corn base especialinente nas preleções de Lutero sobre Roinatios<br />
(1515-lh), de que Lutcro não só inclui a regeneração na doutrina da justificação coino idciititica justilicação c<br />
regeneração. Karl Holl estava, com isso, continnando com base no estudo das Iòntcs (iiiétodo histórico critico), a tesc<br />
de Albrccht Ritschl, de que a doutrina da justificação ciii Lutero incluia a regciicração (isto é, era do tipo analítico).<br />
ao contrário