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Igreja Luterana - nu 1 - 2004<br />
que somente domina não nos deixa a vontade para confiarmos com alegria<br />
nela, pois nos induz a desconfiar dos propósitos atrás de suas manifestações.<br />
Oportuno perguntar agora: como ficaria a autonomia debaixo de uma cabeça<br />
tão apenas dominadora? Poderíamos ir um pouco mais além e acrescentar:<br />
haveria autonomia dentro de tal situação?<br />
Cristo, a cabeça do corpo, tem poder e autoridade para dominar e,<br />
sendo Senhor, nada o forçaria a não exercer plenamente e unicamente seu<br />
domínio sobre nós. Por exemplo, quem o impediria de somente exigir de nós<br />
um certo procediniento, cobrando o seu cumprimento integral e despejando<br />
sobre nós a punição merecida por não alcançá-lo? A igreja, corpo de Cristo,<br />
no entanto, nos faz ouvir evangelho da parte da sua cabeça. É uma<br />
mensagem diferente. O corpo tem uma cabeça que se compraz em conduzir<br />
os membros para que estes desfrutem da liberdade e segurança sem correr<br />
o risco de perdê-las. Essa mensagem garante-nos que estar sob a cabeça é<br />
razão para esperança e confiança, não para desespero e desconfiança.<br />
Davi conheceu muito bem o significado da vida do filho de Deus, membro<br />
do corpo de Cristo, sob a cabeça, Cristo. Não será o Salmo 23, por exemplo,<br />
uma confissão perene de felicidade e bem-aventurança, frutos da condução<br />
do Senhor, a cabeça? Afirma Robert Kolb (The Christian Faith, p. 258),<br />
que a igreja é, em sua raiz, um relacionamento vertical. Entendemo-lo a<br />
partir da composição do corpo, pois a cabeça conduz os membros e estes<br />
se deixam levar em confiança. Trata-se de um conduzir cum affectzr et<br />
effectu (amoroso e ativo), na busca da concretização de propósitos de<br />
salvação, amparo e esperança. Talvez Martinho Lutero tivesse em mente<br />
tal relacionamento ao dizer que "uma criança de sete anos sabe o que é a<br />
igreja, a saber, os santos crentes e os cordeirinhos que ouvem a voz de seu<br />
pastor" (Artigos de Esmalcalde III:XII, Livro de <strong>Concórdia</strong>, p. 338). Cabe<br />
aqui perguntar novamente: como ficaria a autonomia debaixo de uma cabeça<br />
assim condutora? Esperamos alcançar conclusões que nos possibilitem<br />
formular a resposta.<br />
2. AUTONOMIA:<br />
SUA APLICABILIDADE E ADMINISTRAÇÃO<br />
Por que se preocupar com o assunto autonomia da<br />
congregação? Por que apelar para o princípio da autonomia em certas<br />
ocasiões? O recorrer a esse princípio tem o objetivo de chegar até onde?<br />
São perguntas introdutórias ao capítulo que se deterá na busca de<br />
elementos norteadores da aplicabilidade e administração da autonomia.<br />
Basicamente, é possível restringir tudo a dois pontos: quando se aplica a<br />
autonomia? E, ao aplicá-la, quais os critérios a observar para bem<br />
administrá-la?