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Igreja Luterana - no 1 - 2004<br />
necer na compreensão da lei (vv. 9- 10) e do evangelho (v. 1 1).<br />
O texto inicia no v. 12 com um gesto de ação de graças e termina no<br />
v. 17 com uma grande doxologia. Isto significa que o que é dito no meio<br />
deve ser da máxima importância. O que aparece como central no texto,<br />
entretanto, não é nada laudável. Ao contrário, é uma confissão de<br />
miserabilidade. O que quer dizer o apóstolo quando afirma: "Mas obtive<br />
misericórdia, pois o fíz na ignorância, na incredulidade"?<br />
Que ignorância seria esta? Um exercício de intertextualidade nos<br />
remete para as palavras de Jesus na cruz "Pai, perdoa-lhes, porque não<br />
sabem o que fazem" (Lc 23.34). Nesta passagem, os soldados estavam<br />
executando ordens, fazendo o seu trabalho, desempenhando a sua função,<br />
mas não sabiam que Jesus era o Messias, o Filho de Deus. Por que Jesus<br />
intercede por eles junto ao Pai para que os pecados deles sejam perdoa-<br />
dos? Pelo trabalho que fazem (e sabemos pela leitura do texto) eles esta-<br />
vam torturando, vilipendiando e crucificando o próprio Filho de Deus. Eles<br />
não estavam rejeitando a Jesus nem se rebelando contra ele como Messias,<br />
mas apenas faziam a tarefa que deles era requerida da parte de suas auto-<br />
ridades. Quem sabe alguns deles até cressem nas promessas de Deus mas<br />
viessem a se dar conta da verdadeira identidade daquele que julgavam cri-<br />
minoso apenas mais tarde (cf. Lc 23.47; compare 24.3 1).<br />
O apóstolo Paulo era culpado de blasfêmia, perseguição e insolên-<br />
cia. Mas no seu coração, o apóstolo não rejeitava a Cristo. Ele perseguira o<br />
"Caminho". Na sua ignorância Paulo seguia as orientações, ordens e tare-<br />
fas determinadas pela tradição farisaica, da qual era fiel observador. Seu<br />
ato, embora pecaminoso, não o levara a uma situação de desfé. O apóstolo<br />
tinha consciência das suas atitudes intolerantes e pecaminosas contra o<br />
povo de Deus e não procura se eximir dessa culpa. Ele se coloca como o<br />
principal pecador. Apesar disso, não se colocou fora da esfera da oração de<br />
Cristo na cmz.<br />
No v. 16, Paulo se vê como exemplo de pecador em quem é de-<br />
monstrada a extensão e a profundidade da misericórdia de Cristo. E aí está<br />
o evangelho: assim como Cristo revela sua misericórdia a este insolente<br />
pecador, da mesma forma Cristo revela o seu amor para comigo indepen-<br />
dente de quem eu sou e do pecado que tenha cometido. A minha (seja quem<br />
eu for) lista de pecados, gerada pelo meu estado natural, pode ser muito<br />
grande. Aptnas eu conheço esta lista e nela a blasfêmia, a insolência, a<br />
violência, o orgulho sempre estarão presentes, seja eu leigo ou pastor.<br />
Pregar sobre este texto requer do pastor a consciência de que o<br />
texto precisa ser pregado primeiramente para ele. Precisamos ter coragem<br />
de aplicá-lo a nós antes de anunciá-lo do púlpito. E do púlpito o sermão<br />
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