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Um Novo Modelo para o Setor Elétrico Brasileiro

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Em síntese, o que se nota é que a reforma do setor elétrico não<br />

liberou os esforços governamentais no sentido de priorizar recursos <strong>para</strong> a<br />

área social. Muito ao contrário, o que se constatou foi uma intervenção<br />

governamental intensa na arbitragem de conflitos, na emissão de centenas<br />

de atos no contexto de um marco regulatório incessantemente instável,<br />

bem como sob diversas formas de socorro financeiro às concessionárias.<br />

1.2. OS PROBLEMAS DO MODELO – PORQUE MUDAR<br />

Diante do colapso do modelo setorial ainda vigente e da persistência<br />

dos motivos que originaram a necessidade de reforma, o marco regulatório<br />

necessita tornar claro o que é serviço público — atendimento das<br />

necessidades de energia elétrica dos consumidores cativos — e o que não é,<br />

ou seja, atividade econômica de exploração dos serviços de energia pelos<br />

produtores independentes ou <strong>para</strong> uso próprio. As bases de um novo<br />

modelo setorial devem partir do questionamento: (i) da viabilidade da<br />

competição em torno de um produto homogêneo e indiferenciado com altos<br />

custos fixos (energia elétrica), agravada, no Brasil, pelas afluências<br />

hidrológicas sujeitas a profundas variações ao longo do tempo; (ii) da<br />

capacidade de auto-regulação, pelo mercado, que viabilize a expansão dos<br />

sistemas elétricos.<br />

As dúvidas acerca da viabilidade e efetividade da competição como<br />

instrumento de melhoria da qualidade e de redução de preços no caso da<br />

prestação de serviços de eletricidade são relevantes 8 . Questiona-se, com<br />

base nas prescrições da teoria econômica e na análise de casos, a<br />

viabilidade da competição em indústrias produtoras de bens ou serviços<br />

homogêneos e indiferenciados sob condição de altos custos fixos. Trata-se,<br />

exatamente, da situação do setor elétrico. Não se pode diferenciar o<br />

produto, no caso, o fluxo elétrico, o kWh, pela origem (térmica, hidráulica,<br />

nuclear, usina nova ou antiga), nem pela reputação dos produtores. Quanto<br />

aos custos fixos, especialmente no caso das usinas hidráulicas, novas ou<br />

privatizadas, representam a porção mais significativa dos dispêndios totais.<br />

<strong>Um</strong>a vez realizados os investimentos, parcas são as possibilidades de<br />

reduzir custos atuando apenas na operação e na gestão, incluindo a<br />

aquisição de combustíveis. Como estratégia, resta a atuação, por diversos<br />

mecanismos, sobre o controle da oferta de energia e/ou sobre seus preços.<br />

Encontram-se registrados muitos casos relevantes desse tipo de<br />

comportamento anticompetitivo, tais como os de manipulação do preço do<br />

milho e o da desregulamentação dos transportes aeroviários, nos Estados<br />

Unidos; e os mercados atacadistas de eletricidade, na Inglaterra, Argentina<br />

e Califórnia. Num quadro de escassez da oferta e demanda reprimida, como<br />

o do Brasil, as oportunidades de abuso de poder de mercado, através de<br />

manipulação de preço ou de oferta, podem assumir dimensões inusitadas 9 .<br />

As figuras 7 e 8 apresentam o histórico da energia natural afluente<br />

<strong>para</strong> as regiões Sudeste (fig. 7), Norte, Nordeste e Sul (fig. 8). Analisando<br />

os dados da região Sudeste, cujos reservatórios, como mencionado,<br />

representam 68% da capacidade de acumulação do país, tem-se que o<br />

8 De: SAUER, I.L. Energia elétrica no Brasil contemporâneo: a reestruturação do setor, questões e alternativas. In:<br />

BRANCO, A.M. Crise de desenvolvimento e crise de energia: a antevisão de Catullo Branco. São Paulo: Paz e<br />

Terra, 2002.<br />

9 Ver também: COYLE, E. Price discrimination, electronic redlining, and price fixing in deregulated electric<br />

power. Washington: American Public Power Association, janeiro de 2000.<br />

9

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