Dissertação Eliane Costa - Sistema de Bibliotecas da FGV ...
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aberto [...]”. 373 E justifica essa afirmação, dizendo que talvez pense assim por ter vivido<br />
tanto tempo à beira do mar:<br />
Entre as várias classificações que se po<strong>de</strong> fazer do ser humano, uma há<br />
que me parece conduzir a duas perspectivas bastante distintas, ain<strong>da</strong> que<br />
complementares, sobre a nossa situação no planeta: o ser litorâneo e o do<br />
interior. Sou do litoral. Apesar <strong>de</strong> ter passado parte <strong>da</strong> infância no interior,<br />
cresci com o éthos do litoral. Mais especificamente, <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São<br />
Salvador <strong>da</strong> Bahia <strong>de</strong> Todos os Santos, Brasil. Essa categoria a que pertenço<br />
ten<strong>de</strong> a formar sua noção <strong>de</strong> pertencimento ao mundo com os olhos perdidos<br />
no horizonte. Sentado à beira <strong>da</strong> praia, olhando o mar, este cinema<br />
transcen<strong>de</strong>ntal a que se refere Caetano Veloso, ain<strong>da</strong> pequeno viajei por<br />
todos os oceanos, ancorei em todos os portos, o bumbum firmemente posto<br />
no meu lugar, a alma perambulando por algum lugar nenhum. O continental<br />
ten<strong>de</strong> a olhar com <strong>de</strong>sconfiança para este ser, que lhe parece frívolo e<br />
sonhador, pois é uma criatura mais sóli<strong>da</strong>, com raízes profun<strong>da</strong>s planta<strong>da</strong>s em<br />
seu território, noção clara <strong>de</strong> limites e caminhos.<br />
Para falar dos commons, foco do evento, cita a letra <strong>de</strong> “Lugar comum”, música<br />
<strong>de</strong> sua autoria feita em parceria com João Donato, e grava<strong>da</strong> em 1974, no álbum<br />
Gilberto Gil ao vivo:<br />
Beira do mar / Lugar comum / Começo do caminhar / Pra beira <strong>de</strong> outro<br />
lugar / Beira do mar / Todo mar é um / Começo do caminhar / Pra <strong>de</strong>ntro do<br />
fundo azul / A água bateu / O vento soprou / O fogo do sol / O sal do senhor /<br />
Tudo isso vem / Tudo isso vai / Pro mesmo lugar / De on<strong>de</strong> tudo sai. 374<br />
Ao longo <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a sua gestão, Gil foi pródigo em discursos e entrevistas nos<br />
quais misturava a inspiração do artista com os temas <strong>da</strong> pauta ministerial. Seu discurso<br />
no i-Summit é, possivelmente, aquele em que o autor mais se <strong>de</strong>tém nessas interseções,<br />
fazendo, também, um balanço <strong>da</strong>s opções que fez durante sua vi<strong>da</strong> pessoal, artística e<br />
política:<br />
Habitante do porto, do vai e vem <strong>da</strong>s on<strong>da</strong>s e <strong>da</strong>s i<strong>de</strong>ias, cresci<br />
brasileiro, afirmação carrega<strong>da</strong> <strong>de</strong> sentidos ambíguos e misteriosos. Em<br />
busca <strong>de</strong> certezas, voltei-me para os irmãos do interior, paulistas e<br />
paulistanos, mineiros <strong>da</strong>s Gerais, amazôni<strong>da</strong>s, sertanejos. Como artista, me<br />
comovi com este a que chamei <strong>de</strong> meu povo e cantei suas agruras. Com meu<br />
espírito inquieto <strong>de</strong> litorâneo, no entanto, não resisti à tentação <strong>da</strong> mistura e<br />
embaralhei a sina <strong>de</strong> uns com a condição <strong>de</strong> outros, masquei chiclete com<br />
banana e, em Bonsucesso, bairro pobre do Rio <strong>de</strong> Janeiro, outra ci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
portuária brasileira, peguei o trem expresso que me tirou do subúrbio pobre<br />
brasileiro para o mundo, me lançando para <strong>de</strong>pois do ano 2000: “Começou a<br />
373<br />
Disponível em (http://www.cultura.gov.br/site/2006/06/23/discurso-do-ministro-gilberto-gil-noisummit-2006/).<br />
Acesso em 12/01/2010.<br />
374<br />
Disponível em (http://www.gilbertogil.com.br/sec_musica.php?). Acesso em 12/01/2010.<br />
174