Dissertação Eliane Costa - Sistema de Bibliotecas da FGV ...
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O Brasil não po<strong>de</strong> continuar sendo sinônimo <strong>de</strong> uma aventura generosa,<br />
mas sempre interrompi<strong>da</strong>. Ou <strong>de</strong> uma aventura só nominalmente solidária.<br />
Não po<strong>de</strong> continuar sendo, como dizia Oswald <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, um país <strong>de</strong><br />
escravos que teimam em ser homens livres. Temos <strong>de</strong> completar a construção<br />
<strong>da</strong> nação. De incorporar os segmentos excluídos. De reduzir as <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
que nos atormentam. Ou não teremos como recuperar a nossa digni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
interna, nem como nos afirmar plenamente no mundo. [...] E o papel <strong>da</strong><br />
cultura, nesse processo, não é apenas tático ou estratégico – é central: o papel<br />
<strong>de</strong> contribuir objetivamente para a superação dos <strong>de</strong>sníveis sociais, mas<br />
apostando sempre na realização plena do humano. [...] Daí que a política<br />
cultural <strong>de</strong>ste Ministério, a política cultural do governo Lula, a partir <strong>de</strong>ste<br />
momento, <strong>de</strong>ste instante, passa a ser vista como parte do projeto geral <strong>de</strong><br />
construção <strong>de</strong> uma nova hegemonia em nosso país. Como parte do projeto<br />
geral <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> uma nação realmente <strong>de</strong>mocrática, plural e tolerante.<br />
Como parte e essência <strong>de</strong> um projeto consistente e criativo <strong>de</strong> radicali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
social. Como parte e essência <strong>da</strong> construção <strong>de</strong> um Brasil <strong>de</strong> todos. 141<br />
Outro ponto significativo, cuja presença, já no primeiro discurso, é preciso aqui<br />
registrar, é o que se relaciona diretamente com o foco <strong>de</strong>ste trabalho, e diz respeito às<br />
tecnologias <strong>de</strong> ponta – no caso, as tecnologias digitais <strong>de</strong> comunicação e informação –,<br />
que, naquela ocasião, já marcavam o cotidiano do país <strong>de</strong> forma ca<strong>da</strong> vez mais intensa,<br />
a exemplo do que acontecia em todo o mundo.<br />
Prometendo tirar o MinC <strong>da</strong> distância em que o percebia do dia a dia dos<br />
brasileiros, e torná-lo presente em to<strong>da</strong>s as regiões do Brasil, Gil anuncia um novo<br />
<strong>de</strong>safio a ser enfrentado por seu Ministério, o <strong>de</strong> mobilizar – e fazer circular – energias<br />
represa<strong>da</strong>s no corpo cultural do país:<br />
Fazer uma espécie <strong>de</strong> “do-in” 142 antropológico, massageando pontos<br />
vitais, mas momentaneamente <strong>de</strong>sprezados ou adormecidos, do corpo cultural<br />
do país. Enfim, para avivar o velho e atiçar o novo. Porque a cultura<br />
brasileira não po<strong>de</strong> ser pensa<strong>da</strong> fora <strong>de</strong>sse jogo, <strong>de</strong>ssa dialética permanente<br />
entre a tradição e a invenção, numa encruzilha<strong>da</strong> <strong>de</strong> matrizes milenares e<br />
informações e tecnologias <strong>de</strong> ponta. 143<br />
A menção à ativação <strong>de</strong> pontos “adormecidos” remete a uma reflexão feita, nos<br />
anos 1970, pelo educador brasileiro Paulo Freire, relaciona<strong>da</strong> ao que ele chamou <strong>de</strong><br />
“cultura do silêncio”. O criador <strong>da</strong> Pe<strong>da</strong>gogia do oprimido e <strong>de</strong> Educação como prática<br />
<strong>de</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificava, no mito <strong>da</strong>s “oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s iguais”, um esquema opressor<br />
que, por meio <strong>da</strong> educação e <strong>da</strong> comunicação <strong>de</strong> massa, sufocava a autonomia e o<br />
141 Ibi<strong>de</strong>m.<br />
142 O do-in é um dos métodos orientais <strong>de</strong> automassagem, baseado na pressão com o polegar sobre pontos<br />
<strong>de</strong> retenção <strong>de</strong> energia no corpo, com o objetivo <strong>de</strong> ativá-la, fazendo-a circular. Disponível em<br />
(http://www.cecth.com.br). Acesso em 15/05/2010.<br />
143 Disponível em (http://www.cultura.gov.br/site/2003/01/02/discurso-do-ministro-gilberto-gil-nasoleni<strong>da</strong><strong>de</strong>-<strong>de</strong>-transmissao-do-cargo/).<br />
Acesso em 01/06/10.<br />
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