Dissertação Eliane Costa - Sistema de Bibliotecas da FGV ...
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Andra<strong>de</strong> lança o Manifesto antropofágico 111 – ou antropófago – que, em linguagem<br />
metafórica e poética, passava a constituir a base conceitual <strong>de</strong>sse movimento, cuja<br />
proposta era a <strong>de</strong> <strong>de</strong>glutir, antropofagicamente, as inovações estéticas que vinham <strong>de</strong><br />
fora, digeri-las na cultura popular e então regurgitá-las.<br />
A marca tropicalista está também presente em “Parabolicamará”, música que dá<br />
nome ao álbum lançado em 1991, e cuja letra também aponta para os novos paradigmas<br />
do diálogo entre local e global, a partir <strong>da</strong> tecnologia:<br />
compositor:<br />
Antes o mundo era pequeno / porque Terra era gran<strong>de</strong> / Hoje o mundo é<br />
muito gran<strong>de</strong> / porque Terra é pequena / do tamanho <strong>da</strong> antena<br />
parabolicamará / Ê, volta do mundo, camará / Ê, mundo dá volta, camará.<br />
(Rennó, 1996)<br />
Sobre a concepção do neologismo que resultou na canção e no álbum, diz o<br />
Chamei o disco <strong>de</strong> Parabolicamará, <strong>da</strong>ndo nome a alguns aspectos <strong>de</strong><br />
uma possível globalização que eu vislumbrava e que também até <strong>de</strong>sejava <strong>de</strong><br />
maneira ao mesmo tempo alegre e trágica, como alguém que <strong>de</strong>seja<br />
firmemente tudo aquilo que lhe acontece. Parabolicamará une as palavras<br />
parabólica, <strong>da</strong> antena onipresente hoje mesmo nos recantos mais pobres do<br />
Brasil, com camará, a maneira que os jogadores <strong>de</strong> capoeira, a luta lúdica<br />
afro-brasileira, escolheram para chamar seus parceiros, camara<strong>da</strong>s, enquanto<br />
<strong>da</strong>nçam e cantam. 112<br />
A letra <strong>de</strong> “Parabolicamará” já apontava para a “[...] encruzilha<strong>da</strong> <strong>de</strong> matrizes<br />
milenares e tecnologias <strong>de</strong> ponta [...]” que seria menciona<strong>da</strong> por Gil, 12 anos <strong>de</strong>pois, em<br />
seu discurso <strong>de</strong> posse como ministro e que viria, em segui<strong>da</strong>, materializar-se nos<br />
estúdios digitais conectados à internet, implantados nos Pontos <strong>de</strong> Cultura espalhados<br />
111 Sobre o Manifesto, a Enciclopédia Itaú Cultural/Artes Visuais aponta que são inúmeras as influências<br />
teóricas ali i<strong>de</strong>ntifica<strong>da</strong>s: o pensamento revolucionário <strong>de</strong> Karl Marx; a <strong>de</strong>scoberta do inconsciente pela<br />
psicanálise e o estudo Totem e tabu, <strong>de</strong> Sigmund Freud; a liberação do elemento primitivo no homem<br />
proposta por alguns escritores <strong>da</strong> corrente surrealista como André Breton; o Manifeste Cannibale escrito<br />
por Francis Picabia em 1920; as questões em torno do selvagem discuti<strong>da</strong>s pelos filósofos Jean-Jacques<br />
Rousseau e Michel <strong>de</strong> Montaigne; a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> barbárie técnica <strong>de</strong> Hermann Keyserling. Cruza<strong>da</strong>s, essas<br />
influências ganham <strong>da</strong> pena <strong>de</strong> Oswald <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> vi<strong>da</strong> nova ao se amalgar sob a rubrica <strong>de</strong> um conceito<br />
também inédito e com raízes na história <strong>da</strong> civilização brasileira: antropofagia ou canibalismo. Disponível<br />
em<br />
(http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/in<strong>de</strong>x.cfm?fuseaction=marcos_texto&cd_ve<br />
rbete=339). Acesso em 12/01/2010.<br />
112 Disponível em (http://www.cultura.gov.br/site/2006/06/23/discurso-do-ministro-gilberto-gil-no-<br />
isummit-2006/). Acesso em 12/01/2010.<br />
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