Dissertação Eliane Costa - Sistema de Bibliotecas da FGV ...
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O autor <strong>de</strong>staca ain<strong>da</strong>, na gestão Lula/Gil, o enfrentamento <strong>de</strong> outro viés<br />
autoritário, este estrutural, traduzido em uma visão elitista e discriminadora <strong>de</strong> cultura,<br />
que é supera<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong> adoção do conceito ampliado <strong>de</strong> cultura, <strong>de</strong> base<br />
antropológica, que esten<strong>de</strong> o raio <strong>de</strong> ação do MinC para além <strong>da</strong>s questões do<br />
patrimônio edificado e <strong>da</strong>s artes reconheci<strong>da</strong>s, passando a abranger, em alguns casos <strong>de</strong><br />
forma inaugural, as culturas populares, afro-brasileiras, indígenas, <strong>de</strong> gênero e<br />
orientação sexual, <strong>da</strong>s periferias, <strong>de</strong> grupos etários específicos, incluindo-se aí também a<br />
cultura digital, foco <strong>de</strong>ste trabalho. (Rubim, 2010).<br />
O autor aponta, no entanto, a dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> que <strong>de</strong>corre <strong>da</strong> falta <strong>de</strong> uma<br />
<strong>de</strong>limitação mais precisa <strong>da</strong> área <strong>de</strong> atuação do Ministério, diante do caráter transversal<br />
e amplo atribuído à cultura na nova concepção, alerta que já havia sido colocado, em<br />
2001, por Isaura Botelho, em “As dimensões <strong>da</strong> cultura e o lugar <strong>da</strong>s políticas públicas”,<br />
quando a autora adverte que a execução <strong>de</strong> uma política <strong>de</strong> cultura com a abrangência<br />
exigi<strong>da</strong> pela ótica antropológica só se torna exequível quando toma<strong>da</strong> pelo governo em<br />
sua totali<strong>da</strong><strong>de</strong>, e não apenas pelo Ministério <strong>da</strong> Cultura. (Rubim, 2010, Botelho, 2001).<br />
Além do mencionado alargamento do conceito <strong>de</strong> cultura, Rubim registra<br />
também, como base para esse enfrentamento, a inflexão no discurso do Ministério, que<br />
passa a <strong>de</strong>clarar que seu público prioritário é a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira e não apenas os<br />
criadores culturais.<br />
Para o MinC, nesse momento, é importante “revelar os brasis” – observando-se<br />
esse mesmo uso do plural nas expressões i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>s nacionais e culturas brasileiras –<br />
e valorizar a multiplici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s manifestações culturais brasileiras em to<strong>da</strong> a sua<br />
diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> étnica e regional. A proposta se dá, no entanto, em uma perspectiva diversa,<br />
tanto do discurso <strong>de</strong> síntese mestiça utilizado na era Vargas, quanto do que propunha,<br />
no regime militar, a diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> como fator <strong>de</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> nacional. (Barbalho, 2007).<br />
A terceira e última <strong>da</strong>s “três tristes tradições” aponta<strong>da</strong>s por Rubim – a<br />
instabili<strong>da</strong><strong>de</strong> – é a mais crítica no momento em que esta pesquisa é concluí<strong>da</strong> em<br />
<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2010 –, ocasião em que estão sendo discutidos os nomes que comporão o<br />
Ministério <strong>da</strong> recém-eleita presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> República Dilma Roussef.<br />
Os mais <strong>de</strong> 20 nomes já apontados pela imprensa como possíveis sucessores <strong>de</strong><br />
Juca Ferreira evi<strong>de</strong>nciam o novo patamar on<strong>de</strong> se encontra, hoje, o Ministério <strong>da</strong><br />
Cultura – até oito anos atrás um ministério pequeno, <strong>de</strong> pouca visibili<strong>da</strong><strong>de</strong> e expressão,<br />
que a poucos po<strong>de</strong>ria seduzir. Essa transformação po<strong>de</strong> ser ilustra<strong>da</strong> pela <strong>de</strong>claração que<br />
Augusto Boal – um dos maiores críticos <strong>da</strong> escolha <strong>de</strong> Gil para a pasta <strong>da</strong> cultura –<br />
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