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Dissertação Eliane Costa - Sistema de Bibliotecas da FGV ...

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subiram ao palco dos festivais musicais dos anos 1960 acompanhados por<br />

guitarras elétricas. Por exemplo, o diretor teatral Augusto Boal – tradicional<br />

inimigo do Tropicalismo – publicou no Jornal do Brasil 41 um artigo com a<br />

seguinte acusação: “Quando perguntado sobre o que faria no Ministério, que<br />

o compositor havia <strong>de</strong>cidido aceitar, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> feitas as contas dos salários<br />

ministeriais e rendimentos <strong>de</strong> shows, Gil respon<strong>de</strong>u que ain<strong>da</strong> não sabia.<br />

Todo mundo tinha projetos. Menos o ministro.” (Vianna, 2007)<br />

A citação aos festivais remete a uma noite <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1968, por ocasião <strong>da</strong>s<br />

eliminatórias do Festival Internacional <strong>da</strong> Canção promovido pela TV Globo no<br />

auditório do Teatro <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> São Paulo (TUCA), quando Caetano<br />

Veloso foi praticamente impedido <strong>de</strong> cantar “É proibido proibir”, com o conjunto Os<br />

mutantes, <strong>de</strong>vido às vaias <strong>de</strong> militantes <strong>de</strong> esquer<strong>da</strong> mais exaltados que estavam na<br />

plateia e que consi<strong>de</strong>ravam importa<strong>da</strong> e reacionária a proposta tropicalista <strong>de</strong> incorporar<br />

elementos <strong>da</strong> cultura jovem mundial, como o rock, as roupas psicodélicas e as guitarras<br />

elétricas.<br />

Já exaltado por conta <strong>da</strong> <strong>de</strong>sclassificação <strong>de</strong> Gil com a música “Questão <strong>de</strong><br />

or<strong>de</strong>m”, Caetano respon<strong>de</strong>u com um discurso em que comparava o público aos<br />

militantes <strong>de</strong> direita que haviam espancado os artistas <strong>da</strong> peça Ro<strong>da</strong>-viva <strong>de</strong> Chico<br />

Buarque <strong>de</strong> Hollan<strong>da</strong>. Chamando a plateia <strong>de</strong> ultrapassa<strong>da</strong> e afirmando que concepções<br />

artísticas como aquelas prenunciavam posições políticas perigosas, terminava dizendo:<br />

“Se vocês, em política, forem como são em estética, estamos feitos!”. (Veloso, 1975).<br />

Como registram Heloisa Buarque <strong>de</strong> Hollan<strong>da</strong> e Marcos Gonçalves em Cultura e<br />

participação nos anos 60, o foco <strong>da</strong> preocupação política, no movimento tropicalista 42 ,<br />

havia se <strong>de</strong>slocado “[...] para o eixo <strong>da</strong> rebeldia, <strong>da</strong> intervenção localiza<strong>da</strong>, <strong>da</strong> política<br />

concebi<strong>da</strong> enquanto problemática cotidiana, liga<strong>da</strong> à vi<strong>da</strong>, ao corpo, ao <strong>de</strong>sejo, à cultura<br />

em sentido amplo.” (Hollan<strong>da</strong>; Gonçalves, 1982)<br />

Do outro lado, as peças <strong>de</strong> Augusto Boal e <strong>de</strong> Gianfrancesco Guarnieri no Teatro<br />

<strong>de</strong> Arena, a música <strong>de</strong> protesto <strong>de</strong> Geraldo Vandré, o Cinema Novo <strong>de</strong> Glauber Rocha e<br />

o Centro Popular <strong>de</strong> Cultura (CPC) <strong>da</strong> União Nacional dos Estu<strong>da</strong>ntes (UNE),<br />

41 Jornal do Brasil, “Ca<strong>de</strong>rno B”, 26/12/2002.<br />

42 O Tropicalismo foi um movimento <strong>de</strong> ruptura que sacudiu o ambiente <strong>da</strong> música popular e <strong>da</strong> cultura<br />

brasileira entre 1967 e 1968. Seus participantes formaram um gran<strong>de</strong> coletivo, on<strong>de</strong>, além <strong>de</strong> Caetano,<br />

Gil, Gal e Betânia, <strong>de</strong>stacaram-se o cantor e compositor Tom Zé, o maestro Rogério Duprat, a ban<strong>da</strong> Os<br />

Mutantes, os letristas José Carlos Capinan e Torquato Neto, a cantora Nara Leão e o artista gráfico,<br />

compositor e poeta, Rogério Duarte. Disponível em (http://tropicalia.uol.com.br). Acesso em 10/01/2010.<br />

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