Baixar - Proppi - UFF
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aprender seus gestos e seus toques, reconhecer os diferentes ritmos e associá-los às<br />
diferentes divindades. É uma arte que utiliza movimentos ligados na estética dos gestuais<br />
dos Orixás, onde trabalha-se o corpo para que se possa sentir a personalidade, os mitos e<br />
os elementos da natureza de cada Orixá, incorporá-los e expressar estas sensações<br />
dançando. Na dança Afro constata-se o transporte dos gestos dos Orixás na sua gramática<br />
básica que são transformados pela estilística e estética da dança. Como escreve<br />
Rosamaria Barbara na sua dissertação de mestrado sobre a dança das Aiabás, “a estética<br />
do corpo atua como um papel fundamental porque está ligada à sabedoria expressa pelo<br />
próprio corpo…uma sabedoria armazenada e enraizada corporalmente ao longo de um<br />
processo que se passa e atua no e com o corpo” (Barbara, 2002, p. 20). Este processo de<br />
aprendizagem, tanto no Candomblé quanto na dança, é uma experiência totalmente<br />
sensorial, que envolve o som, os cheiros, e a sensação dos elementos da natureza e dos<br />
mitos dentro de si:<br />
“Hoje a gente explorou muitos movimentos de cada Iabá. As orixás mulheres são<br />
tão diferentes entre si, e cada uma tem as suas características, seus ritmos, seus<br />
significados. Vimos Oxum, Iansã, Yemanjá e Nanã. Cada uma se expressa de um<br />
jeito diferente e isso é muito difícil de expressar através do movimento corporal.<br />
A leveza e feminilidade de Yemanjá e Oxum requerem uma concentração na<br />
execução de movimentos lentos e sutis, sempre pensando na constante referência<br />
das ondas da água, tentando reproduzir esta sensação deste elemento da natureza<br />
no corpo e na expressão facial. O toque dos atabaques ajuda na pegada do ritmo<br />
que, depois de alguns minutos, parece penetrar dentro do corpo, rendento o<br />
movimento mais exato e o tempo dele mais certo…dançar Iansã é pura rapidez<br />
simbolizando o vento, simbolizando a mulher guerreira que passa e que, como um<br />
furacão, deixa as marcas. A força contida num passo dela é símbolo da força da<br />
personalidade do orixá, a qual, ajudada pelo toque do tambor, se insere no corpo,<br />
provocando uma sensação que se reflete na força dos movimentos de dança” (6<br />
Setembro 2008).<br />
Segundo estas notas de campo, a experiência sensorial total ao dançar as Iabás é evidente.<br />
Durante a execução dos movimentos, pensa-se sempre no elemento da natureza que o<br />
corpo deveria expressar, tentando incorporar esta sensação. Nisso o toque dos tambores<br />
tem um papel fundamental enquanto “ajuda na pegada do ritmo que parece penetrar<br />
dentro do corpo”, e “ajuda a personalidade do orixá a se inserir no corpo”. Segundo<br />
Rosamaria Barbara, “a música é a vibração do Orixá e o meio através do qual ele se<br />
canaliza” (Barbara, 2002, p. 121). A música e a dança portanto cooperam e nunca estão