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Baixar - Proppi - UFF

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dos cânticos é enunciada por uma pessoa e repetida pelo grupo todo. Em um artigo sobre<br />

os cânticos no Jongo e na Umbanda, Carina Maria Guimarães Moreira escreve que os<br />

versos cantados nestas duas tradições são chamados de “pontos” e provém de uma cultura<br />

baseada na oralidade. Estes pontos cantados “juntamente com o ritmo dos tambores e das<br />

danças encerram uma tradição: a do poder mágico da palavra trazida pelos povos bantos<br />

para o Brasil” (Moreira, 2008). Ao analisar as letras de pontos cantados de umbanda e de<br />

jongo, Moreira exemplifica como a história oral de origem africana, junto com a música e<br />

a dança é comunicada tanto nos eventos religiosos quanto nas rodas de jongo.<br />

Durante o período da minha etnografia, em Maio 2009, tive a oportunidade de<br />

viajar para o quilombo S. José da Serra na região de Valença no estado do Rio de Janeiro<br />

onde, anualmente, realiza-se um festival de jongo, com apresentações de danças afrobrasileiras<br />

que duram um fim de semana inteiro. O que pude observar no festival foi a<br />

formação constante de rodas para cada apresentação. Teve rodas de jongo, de cachambu,<br />

de capoeira, todas mostrando uma dinâmica parecida: a maioria dos participantes formam<br />

uma roda e ficam cantando, tocando tambor e outros instrumentos percussivos, e batendo<br />

palmas ao mesmo tempo. Enquanto isso, uma dupla de pessoas entra no meio da roda e<br />

fica “jogando”, tanto no jongo quanto na capoeira ou no coco. Cada jogo e cada dança era<br />

executada ao som dos tambores e de pés no chão, e tudo aconteceu em um ambiente rico<br />

de significados e símbolos da cultura afro-brasileira, tentando-se recriar uma atmosfera<br />

quase ritualística do festival. Este paralelo entre performance artística e ritual sublinhado<br />

no primeiro capítulo será melhor desenvolvido no próximo capítulo.<br />

Elementos parecidos com o jongo, como a roda, a umbigada e os tambores, se<br />

encontram na dança típica do Maranhão Tambor de Crioula. Esta é uma dança negra<br />

executada ao som de tambores, tocados por homens, enquanto as mulheres dançam<br />

dentro de uma roda e com movimentos circulares, usando saias largas, grandes e<br />

coloridas, e alternando sua entrada dentro da roda com a umbigada, comum também ao<br />

jongo e ao samba de roda. A umbigada ou punga é um elemento importante na dança do<br />

tambor de crioula. No passado foi vista como elemento erótico e sensual, que estimulava<br />

a reprodução dos escravos. Hoje a punga é um dos elementos da marcação da dança,<br />

quando a mulher que está dançando convida outra para o centro da roda, ela sai e a outra<br />

entra (Ferretti, 2006). Ferretti, neste artigo sobre o Tambor de crioula no Maranhão

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